AUM ! – W.Q.Judge
A sílaba mística mais sagrada dos Vedas é Aum. É a primeira letra do alfabeto sânscrito, e alguns pensam que seja o som feito por uma criança recém-nascida quando a respiração é puxada para dentro dos pulmões pela primeira vez. As orações diárias dos Brâmanes hindus começam e terminam com ela, e os antigos livros sagrados dizem que com essa sílaba os próprios deuses se dirigem ao Santíssimo.
No Chhandogya Upanishad(1) , seus louvores são cantados com essas palavras:
Deixem um homem meditar na sílaba OM, chamada udgitha,(2) … é a melhor de todas as essências, a mais elevada, merecendo a posição mais elevada, a oitava.
(1) Khandogya Upanishad,1º Khanda. Vide Vol.1, Sacred Books of the East. Müller.
(2) Hino de Louvor a Brahm.
É então ordenado que se medite nesta sílaba como a respiração, de dois tipos, no corpo – a respiração vital e a mera respiração na boca ou nos pulmões, pois com essa meditação vem o conhecimento e a realização adequada do sacrifício. No versículo 10 encontra-se:
“Agora, portanto, segue-se que tanto aquele que conhece o verdadeiro significado de OM, como aquele que não o conhece realizam o mesmo sacrifício. Mas não é assim, pois o conhecimento e a ignorância são diferentes. O sacrifício que um homem realiza com conhecimento, fé e o Upanishad é mais poderoso”.
Externamente o mesmo sacrifício é realizado por ambos, mas aquele sacrifício realizado por aquele que tem conhecimento e meditou sobre o significado secreto de OM comunga das qualidades intrínsecas de OM, que precisam exatamente desse conhecimento e dessa fé como meios através dos qual podem se tornar visíveis e ativos. Se um joalheiro e um lavrador venderem uma pedra preciosa, o conhecimento do primeiro trará maior benefício do que a ignorância do segundo.
Shankaracharya, em seu Sharir Bhashya, se detém longamente no OM e, no Vayu Purana um capítulo inteiro é dedicado a ele. Agora, como Vayu significa ar, podemos ver em que sentido as mentes daqueles que estavam envolvidos com aquele Purana estavam tendendo. Eles estavam analisando o som, o que levará a descobertas interessantes no tocante à constituição espiritual e física humana. No som está o tom, e o tom é um dos mais importantes e de profundo alcance de todas as coisas naturais. Pelo tom, o homem natural e a criança expressam os sentimentos, assim como os animais em seus tons dão a conhecer sua natureza. O tom da voz do tigre é bem diferente do tom da pomba, tão diferentes quanto suas naturezas são uma da outra, e se as visões, sons e objetos no mundo natural significam alguma coisa, ou apontam o caminho para quaisquer leis subjacentes a essas diferenças, então não há nada pueril em considerar o significado do tom.
O Padma Purana diz:
“A sílaba OM é a principal de todas as orações; que, por isso, ela seja empregada no início de todas as orações” e, em suas leis, Manu ordena: “um Brâmane, no início e no final de uma lição sobre os Vedas, deve sempre pronunciar a sílaba OM, pois a menos que OM preceda, sua aprendizagem lhe escapará, e a menos que suceda, nada será retido por muito tempo.”
O célebre Raja Hindu, Ramohun Roy, em um tratado sobre essa erudição diz:
“OM, quando considerado como uma letra, proferida com a ajuda de uma pronúncia, é o símbolo do Espírito Supremo. ‘Uma letra (OM) é o emblema do Altíssimo, Manu II,83”. Mas quando considerada como uma palavra triliteral composta de , isso implica os três Vedas, os três estados da natureza humana, as três divisões do universo e as três deidades – Brahma, Vishnu e Shiva, os agentes na criação, na preservação e na destruição desse mundo; ou, propriamente dito, os três principais atributos do Ser Supremo personificado nessas três deidades. Nesse sentido, implica, de fato, o universo controlado pelo Espírito Supremo”.
Agora, podemos considerar que há em todo o universo uma única ressonância homogênea, um som ou um tom que atua, por assim dizer, como o poder despertador ou vivificador, instigando todas as moléculas à ação. É isso que em todos os idiomas é representado pela vogal a, que precede todas as outras. Essa é a palavra, o verbum, o Logos de São João dos Cristãos, que diz:
“No início era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.” (3) Isto é a criação, pois sem esta ressonância ou movimento entre as partículas em repouso, não haveria universo visível. Isto é, do som ou, como os Arianos o chamavam, Nada Brahma (ressonância divina), depende a evolução do visível a partir do invisível.
(3) São João, Cap.I,v.I.
Mas, produzido esse som a, imediatamente se transforma em au, de modo que o segundo som, u, é aquele feito pelo primeiro ao continuar sua existência. A vogal u, que em si mesma é um som composto, representa, portanto, a preservação. E a ideia de preservação está também contida na criação, ou evolução, pois não poderia haver nada para preservar, a não ser que tivesse primeiro entrado em existência.
Se esses dois sons, assim combinados em um só, fossem prosseguir indefinidamente, naturalmente não haveria destruição dos mesmos. Mas não é possível continuar a enunciação além da respiração, e se os lábios são espremidos ou se a língua é pressionada contra o céu da boca, ou se usados os órgãos por trás daquele, haverá no fim da enunciação a finalização, ou o som m, o qual tinha o significado de cessação entre os Arianos. Nessa última letra é encontrada a destruição de toda a palavra ou letra. Para reproduzi-la, um pequeno experimento mostrará que não é possível começar com m, mas que o au invariavelmente começa até mesmo a expressão do próprio m. Sem medo de contradição, pode-se afirmar que toda fala começa com au, e a finalização ou destruição da fala, está em m.
A palavra “tom” é derivada das palavras em Latim e em Grego e significa som e tom. Em Grego, a palavra “tonos” quer dizer “alongando” ou “tensionando”. Quanto à natureza do som, a palavra “tom” é usada para expressar todas as diversidades, como sons altos, baixos, graves, agudos, suaves e ásperos. Na música, ela dá a qualidade peculiar do som produzido e também distingue um instrumento do outro; como o tom cheio, tom agudo, etc. Na medicina, ela designa o estado do corpo, mas é mais usada no sentido de força, e se refere à força ou à tensão. Não é difícil conectar o uso da palavra em medicina com a ressonância divina da qual falamos, porque podemos considerar a tensão como sendo a vibração, ou quantidade de vibrações, pela qual o som é apreendido pelo ouvido; e se todo o sistema for diminuindo gradualmente de modo que seu tom esteja abaixando sem cessar, no final, o resultado será a dissolução para esse grupo de moléculas. Na pintura, o tom também mostra o fluir geral do quadro, assim como indica a mesma coisa na moral e nos modos. Dizemos, “um tom baixo de moral, um tom elevado de sentimento, um tom cortês de modos”, de modo que esse tom tem um significado que é aplicado universalmente tanto para o bem como para o mal, para o elevado quanto para o baixo. E a única letra que podemos usar para expressá-la, ou simbolizá-la, é o som do a, em suas diversas variações, longo, curto e médio. E assim como o tom dos costumes, da moral, da pintura, da música, designa o verdadeiro caráter de cada um, similarmente os tons das variadas criaturas, incluindo o próprio homem, designa ou expressa o verdadeiro caráter; e todos juntos, unidos no murmúrio profundo da Natureza, vão engrossar o Nada Brahma, ou ressonância divina que, por fim, é ouvida como a música das esferas.
A meditação no tom, como expresso nessa palavra sânscrita OM, nos levará ao conhecimento da Doutrina secreta. Encontramos expressas na música meramente mortal as sete divisões da essência divina, pois como o microcosmo é a pequena cópia do macrocosmo, até mesmo as escalas desajeitadas do homem contêm a pequena cópia do todo, nos sete tons da oitava. A partir daí, somos levados para as sete cores, e por aí para frente e para cima até o esplendor Divino, que é o Aum. Porque a Ressonância Divina acima mencionada não é a própria Luz Divina. A Ressonância é apenas a exalação do primeiro som de todo o Aum. Isto acontece durante o que os Hindus chamam de um Dia de Brahma, que, segundo eles, prossegue por mil eras.(4) Ela se manifesta não apenas como o poder que agita e anima as partículas do Universo, mas também na evolução e na dissolução do homem, dos reinos animal e mineral e dos sistemas solares. Entre os Arianos, ela foi representada no sistema planetário por Mercúrio de quem sempre foi dito governar as faculdades intelectuais e ser o estimulador universal. Alguns escritores antigos têm dito que é mostrado através de Mercúrio, na humanidade, pela conversação universal das mulheres.
(4) Vide o Bhagavad Gita
E onde quer que essa Ressonância Divina seja fechada ou interrompida pela morte ou por outra mudança, o Aum foi pronunciado lá. Esses enunciados de Aum são apenas as inúmeras enunciações microcósmicas da Palavra, que é enunciada ou inteiramente terminada, para usar o estilo hermético ou místico da linguagem, apenas quando o grande Brahm para a expiração, fecha a vocalização, pelo som do m, e assim causa a dissolução universal. Esta dissolução universal é conhecida no Sânscrito e na Doutrina Secreta como a Maha Pralaya, sendo Maha “o grande”, e Pralaya “dissolução”.” E então, depois de assim argumentar, os antigos Rishis da Índia diziam: “nada é iniciado ou acabado; tudo muda, e aquilo que chamamos de morte é apenas uma transformação”. Assim, eles desejavam ser compreendidos como referindo-se ao universo manifestado, sendo a assim chamada morte de uma criatura senciente apenas uma transformação de energia, ou uma mudança do modo e do lugar de manifestação da Ressonância Divina. Assim, no início da história da Raça, a doutrina da conservação da energia era conhecida e aplicada. A Divina ressonância, ou o som au, é a energia universal, que é conservada durante cada dia de Brahma e, na chegada da grande Noite, é novamente absorvida pelo todo. Aparecendo e desaparecendo continuamente, ela se transforma de tempos em tempos, coberta por um véu de matéria chamado de sua manifestação visível, e nunca perdida, mas sempre se modificando de uma forma para outra. E aqui pode ser visto o uso e a beleza do Sânscrito. Nada Brahma é a Ressonância Divina; isso é, depois de dizer Nada, se parássemos com Brahm, logicamente devemos inferir que o som no final de Brahm significa o Pralaya, refutando assim a posição de que a Ressonância Divina existia, porque se ela tivesse parado não poderia estar ressoando. Assim, eles acrescentaram um a no final do Brahm, tornando possível compreender que, como Brahma, o som ainda estava se manifestando. Mas o tempo não seria suficiente para entrar neste assunto como ele merece, e estas observações são apenas uma tentativa fraca de apontar o real significado e propósito do Aum.
Pelas razões acima, e pelo grande respeito que temos pela sabedoria dos Arianos, foi o símbolo adotado e colocado na capa dessa revista e no cabeçalho do texto.
Para nós, OM tem um significado. Ele representa a constante subcorrente da meditação, que deve ser levada adiante por todo homem, mesmo quando estiver envolvido nos necessários deveres desta vida. Há para cada ser condicionado um alvo para o qual a mira é constantemente direcionada. Mesmo o próprio reino animal, nós não fazemos exceção dele, porque ele, abaixo de nós, espera sua evolução para um estado superior; talvez inconscientemente, mas de fato e ainda assim, ele visa o mesmo alvo.
“Tendo pego o arco, a grande arma, deixem-no colocar sobre ele a flecha afiada pela devoção. Depois, tendo-o puxado com um pensamento voltado para aquilo que é, acerta o alvo, ó amigo, o Indestrutível. OM é o arco, o Self é a flecha, Brahman é chamado de seu alvo. Ele deve ser atingido por um homem que não é imprudente; e então, quando a flecha se tornar um com o alvo, ele se tornará um com Brahman. Conheça-o somente como o Self, e deixe de lado outras palavras. Ele é a ponte do Imortal. Medite sobre o Self como sendo OM. Saudações a você, que possa atravessar além do mar da escuridão.” (5)
(5) Mundaka Upanishad, II, Kh.2, (tradução de Müller )
AUM!
HADJI ERINN
Path, abril 1886