Um Comentário sobre o Gayatri – W.Q.Judge
Reveles, Ó Tu que dás sustento ao Universo, de quem tudo procede, a quem tudo deve retornar, aquela face do Verdadeiro Sol agora escondido por um vaso de luz dourada, para que possamos ver a verdade e cumprir todo o nosso dever em nossa jornada para a Tua sede sagrado.
O Gayatri
Tenho adotado uma tradução conforme acima, cuja interpretação do significado desse verso é excelente. O que é o Gayatri? É o versículo sagrado dos Hindus e começa com Om, sua sagrada palavra e letra. Suas primeiras palavras são: Om, Bhur, Bhurvah!
A primeira palavra contém uma declaração dos três períodos de um Manvantara e os três poderes daquele grande Ser que somente É. De um Manvantara, Ele é o começo, o meio e o fim, e os três poderes são: a Criação (ou manifestação); a Preservação (ou continuação); e a Destruição. As três primeiras palavras, Om, Bhur, Bhurvah, chamam a atenção para e designam os três mundos. O verso inteiro é uma aspiração no sentido mais elevado. Em sua iniciação, cada Brâmane é ainda mais instruído nesse versículo, mas de fornecer isso, estou necessariamente desculpado, pois não posso fornecer de uma forma que eu não tenha recebido.
Revelar, é o grito do homem que está determinado a conhecer a Verdade e que percebe que algo o esconde dela. Ela é escondida pelos seus próprios efeitos cármicos, que o colocaram agora onde o cérebro e os desejos são fortes demais para que o Self Superior possa penetrar enquanto ele permanecer descuidado e ignorante. O grito não é proferido a algum deus criado pelo homem com partes, paixões e atributos, mas para o Self acima, que vê em segredo e revela a luz. É dirigido para aquilo sobre o qual o Universo é construído e permanece – nada menos do que o Self que está em cada homem e que se assenta como um pássaro em uma árvore, observando enquanto outro come a fruta.
A partir disso, todo o Universo emana em manifestação. Os antigos sustentavam que todas as coisas existiam de fato apenas em ideia e, por isso, o praticante de Yoga era ensinado – e logo descobriu – que o Sol, a Lua e as estrelas estavam nele mesmo e, enquanto não aprendia isto, não conseguia prosseguir. Essa doutrina é muito antiga, mas hoje é adotada por muitos pensadores modernos, pois percebem ao refletir que nenhum objeto atinge o e que, quer percebamos através da visão ou do tato ou de qualquer outro sentido que seja, todos os objetos só existem em ideia. Antigamente, isso era demonstrado de duas maneiras. Primeiro, ao mostrar ao discípulo a efetiva interpenetração de um mundo com um outro. Assim, enquanto vivemos aqui entre as coisas consideradas objetivas por nós, outros seres também vivem em e entre nós e nossos objetos, e neles realmente prosseguem com suas ocupações, percebendo os objetos em seu plano como sendo objetivos e totalmente intocáveis e insensíveis a nós e aos objetos que pensamos serem tão materiais. Isto não é menos verdadeiro hoje do que era então. E se não fosse verdade, o hipnotismo, a clarividência ou a clariaudiência modernos seriam impossíveis. Isto foi demonstrado por um segundo método, rigorosamente semelhante aos experimentos mesméricos e hipnóticos, só que a esses foi adicionado o poder de fazer o sujeito se afastar de si mesmo e, com uma dupla consciência, notar sua própria condição. Pois se uma barreira de madeira fosse erguida à vista do sujeito que claramente percebesse e conhecesse ser madeira, impenetrável à visão e um obstáculo ao movimento que, no entanto, quando hipnotizado ele não a via, mesmo assim, ele podia perceber todos os objetos que estavam escondidos atrás dela em seu estado normal, e quando ele a pressionava, pensando que era um espaço vazio e não sentindo nada além de resistência, ele não podia transpassar, mas se perguntava sobre o porquê do espaço vazio barrar seu corpo. Isso é moderno e antigo. Claramente demonstra a natureza ilusória da objetividade. A objetividade só é real relativamente, pois a mente não vê objetos, mas apenas sua ideia e, no momento, está condicionada por sua própria evolução até que tenha desenvolvido outros poderes e qualidades.
O pedido feito no verso para revelar a face do Verdadeiro Sol é para que que o Self Superior possa brilhar em nós, e perfazer seu trabalho de iluminação. Isso também difunde um fato natural desconhecido dos modernos que é que o Sol que vemos não é o verdadeiro sol e, significa também, que a luz do intelecto não é o verdadeiro sol de nosso ser moral. Nossos ancestrais no passado obscuro souberam tirar, através do Sol visível, as forças do Verdadeiro. Nos esquecemos temporariamente disso porque nossa evolução e nossa descida ao inferno da matéria, para salvar o conjunto, interpuseram uma tela. Diz-se, em terras cristãs, que Jesus foi para o inferno por três dias. Isto é correto, mas não é específico a Jesus. A humanidade está fazendo isso por três dias, que é apenas a forma mística de dizer que devemos descer na matéria por três períodos tão imensos de tempo que o logaritmo de um dia é dado a cada período. Os logaritmos não eram inicialmente conhecidos por Napier, mas eram ensinados na forma pura dos mistérios, porque somente com seu uso podiam ser feitos imensos cálculos.
Agora escondido por um vaso de luz dourada. Isso é, a luz do Sol Verdadeiro – o Self Superior – está escondido pelo sangue contido no vaso do corpo mortal. O sangue tem dois aspectos – não detalhados aqui – em um dos quais é um auxiliar para a percepção, no outro um impedimento. Mas aqui significa as paixões e os desejos, Kama, o self pessoal, o anseio pela vida. É isso que nos oculta a verdadeira luz. Enquanto o desejo e a personalidade permanecerem fortes, mais a luz estará turva, mais confundiremos palavras com conhecimento e conhecimento com o que desejamos conhecer e realizar.
O objetivo dessa prece é para que possamos cumprir todo o nosso dever, depois de nos familiarizarmos com a Verdade, enquanto estamos em nossa viagem para a Sede Sagrada. Essa é nossa peregrinação, não de um, egoisticamente, não sozinho, mas de toda a humanidade. Pois o assento sagrado não é o céu bramânico de Indra, nem o céu egoísta Cristão adquirido sem mérito, enquanto os beneméritos sofrem as dores do inferno. É aquele lugar onde todos se encontram, onde todos são um só. É quando e onde os três grandes sons da primeira palavra da prece se fundem em um só som sem som. Essa é a única prece apropriada, a única aspiração salvadora.
UM OBSCURO BRÂMANE
Path, janeiro 1893