A Aplicação das Teorias teosóficas – W.Q.Judge
O erro está sendo cometido por muitas pessoas, entre elas teosofistas, de aplicar várias das doutrinas vigentes na literatura teosófica a apenas uma ou duas facetas de uma questão ou a apenas uma coisa de cada vez, limitando regras que têm aplicação universal a poucos casos, quando na verdade todas essas doutrinas que têm estado vigentes no oriente por tanto tempo deveriam ser aplicadas universalmente. Considere, por um instante, a lei do Carma. Algumas pessoas dizem: “sim, acreditamos nisso”, mas só a aplicam aos seres humanos. Elas a consideram apenas em sua relação aos seus próprios atos ou aos atos de todos os homens. Algumas vezes elas não conseguem ver que ela tem seu efeito não somente sobre si mesmas e seus semelhantes, mas também sobre o maior dos Mahatmas. Esses grandes Seres não estão isentos disso; na verdade, estão, por assim dizer, mais vinculados a ela do que nós. Embora se diga que eles estão acima do Carma, isso só significa que, tendo escapado da roda de Samsara (que significa a roda da vida e da morte, ou de renascimentos), e nesse sentido estão acima do Carma, ao mesmo tempo, nós os veremos muitas vezes incapazes de agir em um determinado caso. Por quê? Se eles transcenderam ao Carma, como pode ser possível que, em qualquer instância, eles não possam infringir a lei ou realizar certos atos que para nós parecem ser apropriados precisamente nesse momento? Por que eles não podem, no caso de um chela que trabalhou para eles e para a causa, durante anos, com o mais sublime altruísmo, interferir e salvá-lo de cair de repente ou ser dominado por uma desgraça horrível; ou interferir para ajudar ou dirigir um movimento? É porque eles se tornaram parte da grande lei do próprio Carma. Seria impossível para eles levantar um dedo.
Novamente, sabemos que em um certo momento de progresso, bem acima desse mundo sublunar, o Adepto chega a um ponto em que ele pode, se assim o desejar, formular um desejo de ser um dos Devas, um daquela radiante hoste de Seres cujo prazer, glória e poder não podemos ter ideia. Basta a simples formulação do desejo. Naquele momento, ele se torna um dos Devas. E então, ele goza dessa condição por um período cuja extensão é incalculável. E depois? Depois, ele tem que recomeçar de baixo na escala, de um modo e para um propósito que seria inútil detalhar aqui, porque não poderia ser compreendido, e também porque eu não sou capaz de colocá-lo em nenhuma linguagem com a qual eu esteja familiarizado. Nesse caso então, não estaria esse Adepto específico, que assim desceu, sujeito à Lei do Carma?
Há nos livros em hindu uma bela história que ilustra isso. Um certo homem ouviu que todos os dias uma mulher muito bonita emergia do mar e penteava os cabelos. Ele resolveu que iria vê-la. Ele foi e ela emergiu, como sempre. Ele pulou no mar atrás dela, e foi com ela para a morada dela. Lá ele viveu com ela por muito tempo. Um dia, ela disse que tinha que ir embora e disse que ele não deveria tocar numa imagem que estava na parede, e depois partiu. Após poucos dias, atiçado pela curiosidade, ele foi olhar a imagem; viu que era envernizada e de uma das mais belas e deslumbrantes pessoas, e estendeu a mão para tocá-la. Naquele momento, o pé da personagem subitamente aumentou, voou para fora da moldura e o mandou de volta para as arenas da Terra, onde só encontrou tristeza e problemas.
A Lei do Carma deve ser aplicada a tudo. Nada está isento dela. Ela rege a molécula vital da planta até o próprio Brahma. Então, aplique-a igualmente ao reino vegetal, animal e humano,
Outra Lei é a da reencarnação, que não deve limitar-se apenas às Almas e aos corpos dos homens. Por que não a usar para todas as esferas da natureza aos quais ela pode ser aplicável? Não somente nós, homens e mulheres, reencarnamos, mas também cada molécula que compõe nosso corpo. De que forma, então, podemos conectar essa regra com todos os nossos pensamentos? Aí se aplica essa regra? Parece-me que sim, e com tanta força como em qualquer lugar. Cada pensamento tem duração específica. Não dura mais do que o que podemos chamar de um instante, mas o tempo de sua duração é, de fato, muito mais curto. Ele ganha vida e depois morre; mas renasce imediatamente na forma de outro pensamento. E assim, o processo continua de momento em momento, de hora em hora, dia após dia. E cada um destes pensamentos reencarnados vive sua vida, alguns bons, outros maus, outros tão terríveis em sua natureza que, se pudéssemos vê-los, nos encolheríamos amedrontados. Além disso, alguns desses pensamentos se transformam em uma determinada ideia, e ela morre para reencarnar em seu tempo. Assim desenrola-se essa ampla enxurrada. Ela irá nos sobrepujar? Talvez; ela o faz frequentemente. Tornemos então nossos pensamentos puros. Nossos pensamentos são a matriz, a mina, a fonte, a origem de tudo o que somos e de tudo o que podemos ser.
WILLIAM Q. JUDGE
“The Occult World”, maio 1886