A Teosofia prática – W.Q.Judge
A ética de vida proposta por Jesus não é diferente da encontrada na Teosofia, mas esta última tem em suas doutrinas um poder de convencimento que está ausente no cristianismo e naqueles sistemas que exigem que o homem seja bom somente por causa da virtude. Não é fácil praticar a virtude pela simples razão de que deveríamos fazê-lo, uma vez que o desejo de recompensa é inerente à humanidade e é um reflexo da lei evolucionária que sempre eleva o Universo para pontos mais altos de desenvolvimento. Um homem lê o mandamento de Jesus de dar a outra face a quem o feriu, de não resistir ao mal, de perdoar sem restrições e de não pensar no dia seguinte, e então – faz uma pausa. Seu pensamento seguinte é que esse cânone é totalmente utópico e, se fosse seguido, subverteria a sociedade. Nisso, Ele é apoiado por uma autoridade eminente, bem como pelo exemplo, porque um grande Bispo declarou que nenhum estado pode existir sob tal sistema.
A doutrina teosófica, no entanto, tanto na linha da vida egoísta quanto espiritual, assevera que a lei moral deve ser obedecida. Se considerarmos apenas o lado egoísta, descobrimos que, quando as pessoas estão convencidas de que o mal feito nesta vida certamente será punido em uma outra reencarnação, elas hesitam em prosseguir com a antiga vida descuidada, na qual viviam somente para si mesmas.
Assim, a Teosofia prática deve fazer parte de cada detalhe da vida em nosso lidar com os outros e em nosso disciplinar a nós mesmos. Ela nos lembra que devemos ser mais críticos conosco do que com os outros, que devemos ajudar todos os homens se quisermos ser também ajudados. E é aqui que o teosofista pode evitar a acusação de egoísmo, porque caso, ao desejar acumular para uma futura encarnação uma reserva de ajuda de outros ao dar ele mesmo assistência agora, ele o faz para que possa estar em uma posição ainda melhor para ajudar a humanidade, não há egoísmo. É o mesmo que se um homem desejasse adquirir bens deste mundo com o intuito de ajudar aqueles que dependem dele e, certamente, isso não é egoísmo.
O teosofista prático acrescenta às suas obras de caridade no plano material a caridade ainda maior de dar aos seus semelhantes um sistema de pensamento e de vida que explica suas dúvidas ao mesmo tempo em que fornece uma razão lógica para a prática da virtude. Ele extingue um inferno que nunca poderia arder, e cujos terrores logo se desvaneceram da mente dos pecadores; mas ele acende a lâmpada da verdade e lança seus raios sobre o caminho do mortal, para que não só o perigo real, o verdadeiro castigo, possam ser vistos, mas também a recompensa e a compensação.
O homem civilizado não pode ser guiado pelo medo ou pela superstição, mas a razão pode se apoderar dele. Sendo a Teosofia não só exequível, mas também razoável e justa, suas doutrinas estão destinadas a ser as do homem civilizado. Elas irão gradualmente erradicar as palavras de ordem do teólogo e do cientista desgastadas pelo tempo, dando ao povo dos próximos séculos uma religião-sabedoria com base profunda e todo-abrangente.
Se a prática teosófica fosse universal, não veríamos o injusto Juiz conspirando previamente com os funcionários de uma companhia ferroviária sobre a decisão que ele deveria proferir, nem o funcionário público venal engajado com o Juiz e os funcionários na organização do protesto virtuoso a ser oferecido na corte contra o decreto predeterminado, pois ambos temeriam despertar uma causa que, em sua próxima vida, poderia causar acusação e punição injusta. Nem os homens salvariam suas vidas, como frequentemente o fazem atualmente, às custas de outros, porque em encarnações posteriores essa pessoa poderia ser o meio de privá-los da vida em dobro. O homem rico que agora acumula suas riquezas ou as gasta somente consigo mesmo não seria por conseguinte culpado visto que, como compensação em outra vida, seus amigos o abandonariam e a natureza pareceria retirar-lhe a subsistência.
O teosofista prático fará bem se seguir o conselho dos Mestres, já há muitos anos em publicação, para divulgar, explicar e ilustrar as leis do Carma e da reencarnação para que elas possam fazer parte da vida das pessoas. O ocultismo técnico e todos os atrativos da Luz Astral podem ser deixados para outras ocasiões. Os pensamentos dos homens devem ser afetados, e isso só pode ser feito agora, dando-lhes essas duas grandes Leis. Elas não apenas explicam muitas coisas, mas também têm um poder inerente, devido à sua verdade e à sua conexão íntima com o homem, para chamar a atenção.
Uma vez ouvidas, raramente são esquecidas e, mesmo que se revoltem contra elas, elas têm um misterioso poder de permanecer na mente do homem até que, por fim, mesmo contra a sua primeira resolução, ele é obrigado a aceitá-las. O reconhecimento da justiça é comum a todos, e a justiça cabal do Carma atrai até mesmo a pessoa que tem a infelicidade de estar passando por pesadas punições mesmo que, ignorando a justiça, ela faça o bem para produzir um bom Carma, isso é bom, pois ela renascerá em condições que podem favorecer o surgimento da motivação altruísta.
“Ensine, pregue e pratique essa boa lei para o benefício do mundo, assim como fazem todos os Budas“.
QUILLIAM (WQJ)
Path, julho 1890