A Transmigração de Almas – W.Q.Judge
“Há algum fundamento para a doutrina da transmigração das Almas em que antigamente se acreditava e agora é defendida por algumas classes de Hindus…?” é uma pergunta enviada ao “Path”.
De um exame cuidadoso dos Vedas e dos Upanishads verificar-se-á que os antigos hindus não acreditavam nessa doutrina, mas sustentavam, como fazem tantos teosofistas, que “uma vez homem, sempre homem”, mas claro que há a exceção do caso em que os homens vivem persistentemente vidas vis por eras. Mas também parece muito claro que os brâmanes posteriores, com o propósito de ter um domínio sacerdotal sobre o povo ou para outros fins, ensinaram-lhes a doutrina de que eles e os seus pais poderiam ir para os corpos dos animais depois da morte, mas duvido que a teoria seja sustentada a tal ponto de a tornar uma doutrina nacional. Alguns missionários e viajantes concluíram precipitadamente que a crença é essa, porque viram tanto os hindus como os jainistas agindo com muito cuidado em relação aos animais e aos insetos, evitando-os em seus caminhos, perdendo muito tempo para retirar os insetos do caminho cuidadosamente de modo a não os pisar. Isso, disse o missionário, é porque eles acreditam que seus falecidos amigos e parentes possam estar nessas formas.
A verdadeira razão de tal cuidado é que eles pensam que não têm o direito de destruir a vida que não está em seu poder restaurar. Embora eu tenha algumas opiniões sobre o tema da transmigração de um certo tipo que agora não estou disposto a revelar, posso estar autorizado a compartilhar sobre a questão “Como pode tal ideia surgir da doutrina verdadeira?”
Primeiro, qual é o destino do corpo astral, e de que forma e em que medida isso afeta a posterior encarnação do homem? Segundo, que influência tem o homem sobre os átomos, milhões deles, que de ano em ano entram na composição do seu corpo, e até que ponto é ele – a Alma – responsável por esses efeitos e responde por eles numa vida subsequente, de alegria ou tristeza, ou de oportunidade ou obscuridade? Essas são questões importantes.
O estudante do programa teosófico admite que após a morte a Alma astral ou morre e se dissipa de imediato, ou permanece vagando por um tempo em Kama Loka. Se o homem era espiritualizado, ou aquilo a que por vezes se chama “muito bom”, então a sua Alma astral se dissipa rapidamente; se era perverso e material, então sua parte astral, sendo demasiadamente grosseira para se desintegrar facilmente, está condenada, por assim dizer, a flutuar em Kama Loka, manifestando-se em salas de sessões espiritualistas como o espírito de algum falecido, e fazendo estragos ao equipamento mental de mortais, enquanto ele mesmo sofre de outras dores. Os videntes dos tempos modernos declararam que tais eidolons ou fantasmas assumem a aparência de animais ou répteis de acordo com as suas características predominantes. Os antigos ensinavam as vezes que essas formas astrais grosseiras, tendo uma afinidade natural com os tipos inferiores, como o reino animal, gravitavam gradualmente nessa direção e eram, por fim, absorvidas no plano astral dos animais, para o qual forneciam as partículas siderais necessárias tanto para eles como para o homem. Mas isso não significava, de modo algum, que o próprio homem tivesse entrado num animal, pois antes que isso ocorresse, o ego já poderia ter reentrado na vida com um novo corpo físico e astral. No entanto, o povo comum não conseguiu fazer estas distinções, e, assim, muito naturalmente sustentavam que a doutrina significava que o homem se tornou um animal. Após algum tempo, os sacerdotes e videntes assumiram essa forma do princípio e ensinaram-na abertamente. Pode ser encontrada no Desatir, onde se diz que os tigres e outros animais ferozes são encarnações de homens perversos, e assim por diante. Mas deve ser verdade que cada homem é responsável e imputável pelo destino do seu corpo astral deixado para trás na morte, uma vez que esse destino resulta diretamente dos atos e da vida do próprio homem.
Considerando o assunto dos átomos na sua marcha ao longo do caminho da evolução, outra causa para uma crença erroneamente sustentada na transmigração para formas inferiores pode ser encontrada. Os iniciados podiam ensinar e compreender totalmente como cada ego é responsável pela utilização que faz dos átomos no espaço, e como cada um pode e imprime uma característica e uma determinada direção em todos os átomos utilizados ao longo da vida, mas os não iniciados também o interpretariam mal e pensariam que se referia à transmigração. Cada homem tem um dever não só consigo mesmo, mas também para com os átomos utilizados. Ele é o grande, o mais elevado educador deles. Estando em cada instante de posse de alguns e, da mesma forma, sempre expelindo-os, ele deveria viver de tal modo para que eles obtivessem um novo impulso para a vida superior do homem, em comparação com a do homem bruto. Essa impressão e esse impulso dados por nós ou conferem uma afinidade pelos corpos e cérebros humanos, ou por aquilo que, correspondendo a vidas brutas e paixões grosseiras, pertence aos reinos inferiores. Assim, os professores inculcaram isso, e disseram que se o discípulo vivesse uma vida perversa os seus átomos seriam precipitados para baixo em vez de para cima nessa escala relativa. Se ele fosse lento e desatento, os átomos igualmente impressionados, viajariam em paus e pedras. Em cada caso eles representavam, até certo ponto, o homem, assim como o nosso ambiente, mobiliário e vestuário nos representam geralmente a nós, que os acumulamos e usamos. Então, a partir desses dois conceitos verdadeiros, as pessoas podem finalmente vir a acreditar na transmigração como sendo uma maneira conveniente e fácil de formular o problema e de apontar uma regra de conduta.
HADJI (WQJ)
Path, março 1891