Ciclos e Lei cíclica – W.Q.Judge
OBSERVAÇÃO – Última palestra de W.Q.J. no Parliament of Religions, em 1893. Outras palestras do Sr. Judge sobre “The organized Life of the T.S.” e “Theosophy in the Christian Bible” foram impressos nos Folhetos No 3 e No 15.
Senhoras e cavalheiros: essa é nossa última reunião; é o último impulso do ciclo que começamos quando abrimos nossas sessões nesse Parliament. Todos os outros grupos que se reuniram nesse edifício também iniciaram ciclos, assim como nós. Agora, muitas pessoas sabem o que a palavra “ciclo” significa, e muitas não sabem. Não há dúvida de que em Chicago muitos homens pensam que um ciclo [“cycle”, também uma abreviação de “bicycle”, bicicleta], é um aparelho a ser montado; mas a palavra com a qual estou lidando não é essa. Eu estou me referindo a uma palavra que significa um retorno, um anel. É um termo muito antigo, usado no passado remoto. Em nossa civilização, é utilizado para uma doutrina que não é muito bem compreendida, mas que é aceita por muitos cientistas, por muitos homens religiosos, e por muitos pensadores. A teoria é, conforme sustentam os antigos egípcios, que existe um ciclo, uma lei de ciclos que governa a humanidade, que governa a Terra, que governa tudo o que está no Universo. Você deve ter ouvido o irmão Chakravarti dizer que os hindus ainda estão ensinando que há um grande ciclo que começa quando o Desconhecido expira o Universo todo, e que termina quando ele é novamente inspirado em Si mesmo. Esse é o grande ciclo.
Fala-se dos ciclos nos monumentos, em papiros e outros registros egípcios. Eles e os antigos chineses também sustentavam que um grande ciclo governa a Terra, chamado ciclo sideral, porque diz respeito às estrelas. A tarefa era tão grande que teve que ser medida pelas estrelas, e esse ciclo é de 25.800 e poucos anos. Eles afirmam ter medido este enorme ciclo. Os egípcios deram provas de que também o mediram e mediram muitos outros, de forma que, nesses registros antigos, olhando para a questão dos ciclos, temos uma dica de que o homem tem vivido na Terra, tem sido civilizado e incivilizado por muito mais tempo do que nos ensinaram a acreditar. Os antigos teosofistas sempre sustentaram que a civilização com seres humanos percorreu a Terra em ciclos, em círculos, sempre retornando repetidamente sobre si mesma, mas que a cada volta do ciclo, no ponto de retorno, estava mais alta do que antes. Esta Lei dos ciclos é considerada na doutrina teosófica como a mais importante de todas elas porque está na base de tudo. É uma parte da lei daquela entidade desconhecida que é o Universo, de que há de ter um periódico proceder de e um periódico regresso sobre si mesmo.
Agora, que a Lei dos ciclos prevalece no mundo deve ser muito evidente, se você for refletir por alguns momentos. O primeiro ciclo para o qual gostaria de chamar sua atenção é o ciclo diário, quando o Sol nasce pela manhã e se põe à noite, retornando novamente na manhã seguinte, você acompanha o Sol, nascendo pela manhã e se pondo à noite, retornando novamente na manhã seguinte e se pondo novamente à noite, quase parecendo morto à noite, mas, na manhã seguinte, levantando-se para a vida uma vez mais. Este é o primeiro ciclo. Você pode ver imediatamente que há, portanto, na vida de um homem, tantos ciclos desse tipo quanto há dias em sua vida. O próximo é o ciclo mensal, quando a Lua, que muda a cada 28 dias, marca o mês. Temos meses corridos com mais dias, mas isso é apenas por conveniência, para evitar mudanças no ano. A Lua dá o mês e marca o ciclo mensal.
O próximo é o ciclo anual. A grande fonte de luz, a grande força motriz de tudo, retorna novamente ao ponto de onde ele iniciou. O próximo grande ciclo para o qual eu atrairia sua atenção, agora que chegamos ao Sol, a ciência alega e é provável, creio eu, por outros argumentos – que o próximo ciclo é que o Sol, embora parado para nós, está, de fato, em movimento através do espaço em uma enorme órbita que não podemos medir. Enquanto se move, ele arrasta a Terra e os planetas enquanto giram em torno dele.
Podemos dizer, então, que este é outro grande ciclo. Parece razoável que, na medida em que o Sol se move através desse grande ciclo, ele deva atrair a Terra para espaços e lugares e pontos no espaço onde a Terra nunca esteve antes, e que deve acontecer que a Terra deve chegar de vez em quando em algum lugar onde as condições são diferentes e que possa ser mudada em um momento, por assim dizer, porque aos olhos da Alma, mil anos são apenas um momento, quando tudo será diferente. Este é um aspecto da doutrina cíclica que o Sol está arrastando a Terra em uma grande órbita própria e está causando uma mudança na natureza da Terra em razão dos novos espaços atômicos nos quais ela está sendo levada.
Também sustentamos que a Terra é governada por uma Lei cíclica ao longo do século, como em um instante. Os seres sobre ela nunca estão no mesmo estado. Assim, nações, raças, civilizações e comunidades são todas governadas da mesma maneira e movidas pela mesma Lei. Essa Lei de ciclos é a Lei da reencarnação de que estávamos falando hoje: isto é, que um homem vem ao mundo e vive um dia, sua vida é como um dia; ele morre e vai dormir, acordando em outro lugar; depois dorme lá para acordar novamente no grande dia seguinte; depois de um período de descanso, ele entra novamente na vida; esse é o seu ciclo. Nós sustentamos na filosofia teosófica que foi provado pelos Adeptos através de experimentos que os homens em geral acordam desse período de descanso após 1.500 anos. Assim, apontamos na história para um ciclo histórico de 1.500 anos, após os quais as antigas ideias retornam. E se você voltar para a história do mundo você encontrará a civilização se repetindo a cada 1.500 anos, mais ou menos, como o que era antes. Ou seja, volte daqui a 1.500 anos e você descobrirá surgindo aqui e agora os teosofistas, os filósofos, os vários pensadores, os inventores de 1.500 anos atrás. E, indo ainda mais longe, sustentamos que aqueles antigos egípcios que fizeram pirâmides tão enormes e que tiveram uma civilização que não podemos entender, naquele período obscuro em que explodiram no horizonte da humanidade para cair novamente, tiveram seu ciclo de descanso e estão novamente reencarnando, até mesmo nos Estados Unidos. Então, alguns de nós acreditamos que o povo americano da nova geração seja uma reencarnação dos antigos egípcios, que estão voltando e trazendo para cá nesta civilização todas as ideias maravilhosas que os egípcios tinham. E esta é uma razão pela qual este país está destinado a ser um grande país, porque os antigos estão voltando, eles estão aqui, e vocês são muito tolos se recusarem a se considerar tão ótimos. Queremos que vocês se considerem grandiosos, e não pensem que são criaturas nascidas mesquinhas e miseráveis.
O próximo ciclo para o qual gostaria de chamar sua atenção é o das civilizações. Nós sabemos que civilizações estiveram aqui, e já se foram. Não há ponte entre muitas delas. Se a hereditariedade explica tudo, como alguns afirmam, como não é explicado por que os egípcios não deixaram nenhuma rastro que os conecta com o presente? Não há mais nada deles, exceto os coptas, que são escravos pobres e miseráveis. Os egípcios, como raça material, estão extinguidos, e isto acontece porque está de acordo com a Lei dos ciclos e de acordo com a Lei da Natureza pelas quais a encarnação física dos egípcios tinha que ser extinguida. Mas suas Almas não podiam deixar de existir e, assim, encontramos sua civilização e outras civilizações desaparecidas, civilizações como a antiga civilização da Babilônia e todas aquelas civilizações antigas naquela parte do oriente que eram igualmente insólitas e maravilhosas como qualquer outra. E esta nossa civilização surgiu em vez de afundar, mas está simplesmente repetindo a experiência do passado em um nível mais alto. Ela é potencialmente melhor do que a que a que era antes. De acordo com a Lei cíclica, ela subirá a cada vez mais alto, e quando chegar a sua hora, ela se extinguirá como as demais.
As religiões também têm tido seus ciclos. A religião cristã já teve seu ciclo. Ela começou no primeiro ano da era cristã e era uma coisa muito diferente do que é agora. Se você examinar os registros do próprio cristianismo, você verá que os patriarcas precursores e professores ensinavam, no início, de forma diferente do que os sacerdotes de hoje estão ensinando agora. Da mesma forma, você descobrirá que o bramanismo teve seu ciclo. Toda religião sobe e desce com o progresso do pensamento humano, porque a lei cíclica governa cada homem e, portanto, todas as religiões que o homem tem.
Assim também acontece com as doenças. Não é verdade que as febres são regidas por uma lei de reincidência no tempo; algumas duram três dias, outras quatro dias, nove dias, quinze dias, três anos e assim por diante? Nenhum médico pode dizer por que é assim; eles só sabem que é um fato. Portanto, por todos os lados, a Lei dos ciclos se encontra governando. Está tudo de acordo com a grande Lei inerente ao fluxo e refluxo periódico, o Grande Dia e a grande Noite da Natureza. As marés no Oceano sobem e descem; do mesmo modo, no grande Oceano da Natureza, há um constante fluxo e refluxo, uma maré mais forte que carrega tudo com ela. A única coisa que permanece inabalável, inamovível, nunca se modificando é o próprio Espírito. Isso, como disse São Tiago – e ele mesmo era sem dúvida um sábio teosofista – é imutável e não tem sombra de modificação.
Agora, esta grande Lei de retorno periódico pertence também a cada homem individual em sua vida e pensamento cotidianos. Toda ideia que você tem, todo pensamento, afeta seu cérebro e mente por sua impressão. Isso inicia o ciclo. Pode parecer que deixa sua mente, aparentemente sai, mas volta de novo sob a mesma Lei cíclica de alguma forma, seja melhor ou pior, e mais uma vez desperta a velha impressão. Mesmo os próprios sentimentos que você tem de tristeza ou de alegria retornarão com o tempo, mais ou menos de acordo com sua disposição, mas inevitavelmente em seus ciclos. Esta é uma Lei da qual faria bem a todos lembrar, especialmente àqueles que têm alterações de alegria e de tristeza, de exaltação e de depressão. Se você, quando deprimido, se da Lei e agisse de acordo, criando voluntariamente outro ciclo de exaltação, ao retornar novamente juntamente com o ciclo do sentimento inferior, não levaria muito tempo para ele destruir o ciclo depressivo e elevá-lo a lugares mais altos de felicidade e paz. Ela se aplica novamente em questões de estudo onde utilizamos apenas os órgãos intelectuais. Quando uma pessoa começa o estudo de um assunto difícil ou algum mais sério do que o habitual, há uma dificuldade em manter a mente sobre ele; a mente vagueia; ela é perturbada por outras ideias e impressões mais antigas. Mas através da persistência é estabelecido um novo ciclo, que, sendo perseverado, consegue, por fim, a maestria.
Também sustentamos – e eu só posso abordar isso brevemente – que na própria evolução, considerada como uma vasta totalidade inclusiva, há ciclos e que, a menos que haja essas voltas e retornos, nenhuma evolução seria possível, pois evolução é apenas outra palavra para Lei cíclica. A reencarnação, ou as reencarnações repetidas vezes, é uma expressão dessa grande Lei e uma parte necessária da evolução.
Evolução significa um advento de algo. Do que veio o Universo em evolução? Veio do que chamamos de Desconhecido e nós o chamamos de “Desconhecido” simplesmente porque não sabemos o que é. O Desconhecido não significa o não existente; significa simplesmente aquilo que não percebemos em sua essência ou plenitude. Segue adiante repetidamente, sempre mais elevado e melhor; mas, enquanto se desloca em seu arco mais baixo parece que está mais baixo do que nunca; mas está fadado a novamente se elevar. E esta é a resposta que damos àqueles que perguntam: e que tal todas aquelas civilizações que desapareceram, e que tal todos os anos que eu esqueci? O que eu fui em outras vidas, eu as esqueci? Nós simplesmente dizemos, você está passando por seu ciclo. Algum dia todos esses anos e experiências retornarão à sua memória como o tanto adquirido. E todas as nações da Terra deveriam conhecer esta Lei, lembrar-se dela e agir de acordo com ela, sabendo que voltarão e que outras também voltarão. Assim, elas deveriam deixar para trás algo que elevará o ciclo cada vez mais alto, assim, deveriam sempre trabalhar em busca da perfeição, a qual a humanidade como um todo está, de fato, se esforçando para adquirir para si mesma.
WILLIAM Q. JUDGE