Elementais e Elementários – W.Q.Judge
Estudante – Se o entendo, um elemental é um centro de força, sem inteligência, sem caráter moral ou tendências, mas capaz de ser dirigido em seus movimentos por pensamentos humanos, que podem, conscientemente ou não, dar-lhe qualquer forma e, em certa medida, inteligência; na sua forma mais simples é visível como uma perturbação num meio transparente, como seria produzido por um “peixe de vidro, tão transparente a ponto de ser invisível, nadando pelo ar do aposento”, e deixando atrás de si um brilho, como faz o ar quente saindo de um fogão. Além disso, os elementais, atraídos e vitalizados por certos pensamentos, podem se alojar no sistema humano (do qual eles então compartilham a direção com o ego), e são muito difíceis de serem retirados.
Sábio – Correto, no geral, exceto quanto ao seu “alojar-se”. Algumas classes de elementais, porém, têm uma inteligência própria e um caráter, mas estão muito além de nossa compreensão e talvez devessem ter algum outro nome.
Essa classe que mais tem a ver conosco corresponde à descrição acima. São centros de força ou energia sobre os quais agimos enquanto pensamos bem como através de outros mecanismos do corpo. Nós também agimos sobre eles e lhes damos forma por uma espécie de pensamento da qual não temos registro. É como quando uma pessoa pode moldar um elemental de modo a parecer um inseto, e não ser capaz de contar se tinha pensado em tal coisa ou não. Porque há um vasto campo desconhecido em cada ser humano, que ele mesmo não entende até que tenha tentado, e somente depois de muitas iniciações.
Que “os elementais … podem se alojar no sistema humano, do qual eles então compartilham a direção, e são muito difíceis de serem retirados” é, como um todo, incorreto. É apenas em certos casos que algum ou mais elementais são atraídos e “encontram alojamento no sistema humano”. Nesses casos, aplicam-se regras especiais. Nós não estamos considerando tais casos. O mundo elementar interpenetra esse mundo e, portanto, está eternamente presente no sistema humano.
Uma vez que (o mundo elementar) é automático e semelhante a uma placa fotográfica, todos os átomos que chegam e partem continuamente do “sistema humano” estão constantemente assumindo a impressão transmitida pelos atos e pensamentos da pessoa e, portanto, se ela estabelece uma forte corrente de pensamento, ela atrai elementais em maior número, e todos eles assumem uma tendência ou cor predominante, de modo que todos os recém-chegados encontram uma cor ou uma imagem homogênea que eles assumem instantaneamente. Por outro lado, um homem que tem muitas diversidades de pensamento e meditação não é homogêneo, mas, por assim dizer, variegado, e assim os elementais podem se alojar naquela parte que é diferente do resto e ir embora em condições semelhantes. No primeiro caso, é uma massa de elementais vibrando ou eletrizando e colorindo de modo semelhante e nesse sentido pode ser chamada de um só elemental, da mesma forma que conhecemos um homem como Jones, ainda que, há anos, esteja desprendendo e assumindo novos átomos de matéria grosseira.
Estudante – Se são atraídos e repelidos pelos pensamentos, eles se movem com a velocidade do pensamento, digamos, daqui até o planeta Netuno?
Sábio – Eles se movem na velocidade do pensamento. No mundo deles, não há espaço ou tempo como nós entendemos esses conceitos. Se Netuno estiver dentro da esfera astral deste mundo, então eles se deslocam até lá a essa velocidade, do contrário não; mas esse “se” não precisa ser resolvido agora.
Estudante – O que determina seus movimentos além do pensamento, i.e., quando estão flutuando no aposento?
Sábio – As outras classes de pensamentos acima referidas; certas exalações de seres; diferentes taxas e razões de vibração entre os seres; diferentes mudanças de magnetismo causadas por causas presentes ou pela Lua e pelo ano; diferentes polaridades; mudanças de som; mudanças de influências de outras mentes à distância.
Estudante – Quando assim flutuam, eles podem ser vistos por qualquer pessoa ou somente por aquelas pessoas que são clarividentes?
Sábio – Clarividência é uma palavra ruim. Eles podem ser vistos por pessoas parcialmente clarividentes. Por todos aqueles que assim podem ver; por mais pessoas, talvez, do que aquelas que estão cientes do fato.
Estudante – Podem ser fotografados, assim como o ar que sai do fogão quente?
Sábio – Que eu saiba, ainda não. Todavia, não é impossível.
Estudante – São eles as luzes vistas flutuando numa sala escura de sessão mediúnica por clarividentes?
Sábio – Na maioria dos casos, essas luzes são produzidas por eles.
Estudante – Qual é exatamente sua relação com a luz que faz com que seja necessário realizar sessões mediúnicas na escuridão?
Sábio – Não é a sua relação com a luz que torna a escuridão necessária, mas o fato de que a luz provoca constante agitação e alteração no magnetismo do ambiente. Todas essas coisas podem muito bem ser feitas à luz do dia.
Se eu pudesse esclarecer “qual é exatamente a sua relação com a luz”, então você saberia o que há muito tempo é mantido em segredo, a chave do mundo elementar. Isso é mantido em segredo porque é um segredo perigoso. Por mais virtuoso que você seja, não poderia – assim que conhecesse o segredo – evitar que o conhecimento se espalhasse na mente de outros que não hesitariam em usá-lo para maus propósitos.
Estudante – Tenho notado que muitas vezes a atenção interfere em certos fenômenos; assim, um lápis não escreverá quando observado, mas escreverá imediatamente quando coberto; ou uma pergunta mental não pode ser respondida até que a mente a tenha deixado e ido a outra coisa. Por que isso acontece?
Sábio – Este tipo de atenção cria confusão. Nessas coisas usamos o desejo, a vontade e o conhecimento. O desejo está presente, mas o conhecimento está ausente. Quando o desejo está bem formado e a atenção é removida, o feito acontece com frequência; mas quando nossa atenção é continuada, só a interrompemos, porque temos apenas a metade da atenção. Para usar a atenção, ela deve ser daquele tipo que consegue se prender na ponta de uma agulha por um tempo indefinido.
Estudante – Me foi dito que poucas pessoas podem ir a uma sessão sem perigo para si mesmas, seja de alguma contaminação espiritual ou astral, seja de ter sua vitalidade esgotada em benefício das aparições, que sugam a força vital do círculo através do médium, como se o primeiro fosse um copo de limonada e o segundo um canudo. Como é isto?
Sábio – Geralmente isto acontece. É chamado de culto aos Bhuts pelos Hindus.
Estudante – Por que os espectadores de uma sessão estão muitas vezes extremamente cansados no dia seguinte?
Sábio – Entre outras razões, porque os médiuns absorvem a vitalidade para o uso dos “espíritos” e, muitas vezes, estão presentes infames vampiros elementares.
Estudante – Quais são alguns dos perigos nas sessões?
Sábio – As cenas visíveis nas sessões – no astral – são horríveis, porquanto esses “espíritos” – os Bhuts – se precipitam tanto sobre a plateia quanto sobre os médiuns; e como não há sessão sem a presença de alguns ou muitos elementários maus – seres humanos meio mortos – há muita vampirização acontecendo. Essas coisas caem sobre as pessoas como uma nuvem ou como um grande polvo, e desaparecem dentro delas como se fossem sugadas por uma esponja. Esse é o motivo pelo qual, em geral, não é bom atendê-las.
Os elementários não são todos maus, mas, de um modo geral, não são bons. São cascas, sem dúvida. Bem, eles têm muita ação automática e ação aparentemente inteligente remanescentes, caso forem as de pessoas fortemente materialistas que morreram apegadas às coisas da vida. Se forem de pessoas de caráter oposto, eles não são tão fortes. Depois, há uma classe que não está realmente morta, como os suicidas, os de mortes súbitas e pessoas altamente perversas. Eles são poderosos. Os elementais entram em todos eles, e assim adquirem uma personalidade fictícia e uma \para a ação, e por seu intermédio podem ver e ouvir como se eles próprios fossem seres como nós. As cascas são, nesse caso, como um corpo humano sonâmbulo. Por hábito, elas exibirão o progresso que obtiveram enquanto estavam em carne e osso. Você sabe que algumas pessoas não transmitem para as suas moléculas corporais grande parte dos hábitos das suas mentes quanto outras. Assim, vemos porque as afirmações desses chamados “espíritos” nunca estão à frente do ponto de progresso mais elevado alcançado pelos seres humanos vivos, e porque tomam as ideias elaboradas no dia a dia pelos seus seguidores. Esse culto de sessões é o que na Velha Índia se chamava o culto aos Pretas e aos Bhuts e aos Pisachas e Gandharvas.
Eu não acho que qualquer elementar capaz de ter um motivo teve, alguma vez, outro que não um mau; o resto não é nada, eles não têm motivo e são apenas as sombras recusadas por Charon.
Estudante – Qual é a relação entre a força sexual e os fenômenos?
Sábio – Está na base. Essa força é vital, criativa e uma espécie de reservatório; ela pode se perder tanto pela ação mental quanto pela física; de fato, sua parte mais sutil se dissipa pela imaginação mental, enquanto que os atos físicos só retiram a parte grosseira, aquela que é o veículo (upadhi) da mais fina.
Estudante – Por que tantos médiuns trapaceiam, mesmo quando eles podem produzir fenômenos reais?
Sábio – É o efeito do uso daquilo que, em si mesmo, é a sublimação da fraude, que, agindo sobre uma mente irresponsável, causa a forma inferior da fraude, da qual a superior é qualquer forma ilusória. Além disso, um médium é necessariamente desequilibrado, de alguma forma.
Eles lidam com essas forças por pagamento, e isso é suficiente para chamar para eles toda a maldade que existe. Usam o tipo de matéria realmente grosseira, que causa incitamento em partes correspondentes do caráter moral e, portanto, desvios do caminho da honestidade. É uma grande tentação. Também não sabeis que furor há naqueles que “pagaram” por uma sessão e desejam “valor pelo seu dinheiro”.
Estudante – Quando um clarividente, como fez um homem aqui há um ano, me diz que “vê um bando forte de espíritos sobre mim”, e entre eles um velho que diz ser um certo personagem eminente, o que ele realmente vê? Cascas vazias e sem sentidos? Se sim, o que os trouxe até aqui? Ou são os elementais que conseguiram a sua forma da minha mente ou da dele?
Sábio – Cascas, eu penso, e pensamentos e antigas imagens astrais. Se, por exemplo, você visse essa pessoa eminente e concebesse um grande respeito ou medo por ela, de modo que sua imagem fosse gravada em sua esfera astral em linhas mais profundas de que outras imagens, ela seria vista por toda a sua vida pelos videntes, que, se fossem não-treinados – como todos o são aqui – não poderiam dizer se era uma imagem ou uma realidade; e então, cada visão dela é um reavivamento da imagem.
Além disso, nem todos veriam a mesma coisa. Caia, por exemplo, e machuque o seu corpo, e isso trará à tona todos os eventos semelhantes e velhas coisas esquecidas diante dos olhos de qualquer vidente. O mundo astral inteiro é uma massa de ilusão; as pessoas veem dentro dele, e então, pela novidade da coisa e pela exclusividade do poder, ficam perplexos ao pensar que eles realmente veem coisas verdadeiras, enquanto eles só removeram uma fina crosta de sujeira.
Estudante – Aceite os meus agradecimentos pela sua instrução.
Sábio – Que você possa alcançar o patamar do esclarecimento.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, maio 1888