Espiritualismo – W.Q.Judge
NOTA – Um artigo lido perante a S.T.- Aryan em 28 de fevereiro de 1893.
O tema do espiritualismo nos coloca frente a frente com a história da Sociedade Teosófica e do verdadeiro progresso da Alma humana. Quando Mme. Blavatsky veio a este país em obediência às ordens que lhe foram dadas por aqueles que ela chamava de seus Mestres e que são conhecidos por nós como os Mahatmas e Adeptos, foi com o espiritualismo aqui que ela começou. Foi visto pelos Mestres que a nova onda de investigação tinha começado nessas fileiras, mas tinha sido desviada para o canal do materialismo, erroneamente chamado pelo elevado nome de “espiritualismo” e, no início, foi procurado para dar aos espiritualistas uma oportunidade de fazer o que eles podiam e deveriam para o bem das raças ocidentais. Mas a oportunidade não foi aproveitada de forma alguma: em vez disso, o ridículo e o ódio foram atirados por eles em H.P.B. Qualquer pessoa que ler as cartas publicadas dos Mestres pode ver a atenção dada de início a isto. Um deles disse que estava empenhado em examinar as declarações dos médiuns em suas reuniões ao ar livre, e H. P. B. frequentemente escrevia suas opiniões como se ela quisesse entrar nas fileiras deles. Ela desejava chegar lá com a finalidade de reformar, mas não a deixaram entrar e assim perderam a maior oportunidade da época. Cartas foram escritas por ela a muitas pessoas para que elas ajudassem um novo jornal em Boston chamado The Spiritual Scientist como alguém que forneceria os conceitos corretos sobre estes assuntos, e ela e Olcott escreveram no jornal e deram dinheiro a ele. No entanto, ele logo se extinguiu. Eu conhecia o editor e sabia pessoalmente o que H. P. B. e Olcott, então, estavam fazendo naquele caso específico. Ela queria corrigir abusos tais como médiuns pagos e públicos e toda a massa de noções e de abordagens equivocadas sobre o assunto, e ela desejava, especialmente, como nós também queremos, que as coisas fossem chamadas por seus nomes corretos, e que certos fatos não fossem aceitos como provas de teorias avançadas por médiuns, e especialmente por A. J. Davis, quanto ao estado após a morte e ao poder e à natureza das forças que chegam a, e ocorrem com os médiuns. Portanto, pode ser dito com justiça que no início ela tinha em mente promover uma reforma no espiritualismo, numa época em que o ciclo permitia muito mais fenômenos do que agora. E um estudante de Teosofia verá nisso seu conhecimento de fatos e leis dos quais tantos ignoram até hoje. Porque é fato que, outrora, havia mais poder psíquico solto no país do que agora e, também, que estava fadado, na medida em que os anos passavam, de desaparecer até certo ponto. Isto é corroborado pela história, pois hoje é difícil encontrar muitos médiuns físicos bons enquanto, então, era muito fácil e eles eram bastante comuns. O mundo pensa que a razão pela qual eles se tornaram escassos agora foi por causa de muitas exposições, mas a verdadeira razão é que a força tem, por enquanto, diminuído. Seu desejo, na verdade, sua pressa, era aproveitar o momento antes que fosse tudo tarde demais. E assim, quando ela não encontrou aceitação entre os espiritualistas, ela e Olcott começaram o Sociedade Teosófica.
Pelo assunto, somos colocados frente a frente com o problema da natureza e do destino da Alma humana, porque os fatos do espiritualismo são os fatos da própria vida da Alma e dos veículos que ela utiliza para sua experiência da Natureza. Os espiritualistas abordam esse assunto de modo material e atiram-se nele cegamente, pondo em perigo todos os que têm algo a ver com isso. Eles falam de vida após a morte, e dão detalhes sobre os fatos dessa vida que são, para os de mente espiritualizada, a forma mais grosseira de materialismo, pois eles apenas deificam e prolongam na forma mais sensorial a vida que se supõe ser levada após a morte, uma vida modelada inteiramente nessa nossa pobre vida mesquinha e não se assemelha de modo algum ao que a vida da Alma deveria ser. Eles apenas tornaram o velho paraíso cristão um pouco mais definido e grosseiro.
O teosofista deve aceitar os fatos do espiritualismo ou ser acusado de ignorância e de fanatismo. Mas sua filosofia fornece a esses fatos uma explicação que assimila a verdadeira natureza do homem, sem sentimento, milagre ou espanto. Ele procura o significado certo a todo custo. É tolice e perda de tempo ir dia após dia a um médium e ouvir repetidamente o que incita o assombro. E o teosofista cuidadoso sabe que também é perigoso procurar médiuns; é melhor ficar longe e tentar entender a filosofia antes de tudo. Nem uma única coisa vista em uma sessão não pode ser encontrada em menor medida em outro lugar, se você optar por procurar, porque o mundo está cheio de maravilhas todos os dias, e a vida de cada um tem nela muita coisa que fornece a explicação para aquilo que o espiritualista afirma sendo exclusivamente dele. Se você assistir sua própria vida em seus três estágios de vigília, sono profundo e sonho, você encontrará a chave para todos os mistérios da mente e até mesmo para os mistérios de toda a Natureza. Assim, ao considerar o espiritualismo, você não deve colocá-lo em um compartimento por si só, mas deve examinar cada parte do assunto com referência ao homem vivo e à filosofia da constituição desse homem vivo. Se você não o fizer, mas continuar olhando para esses fenômenos isoladamente, você estará o tempo todo no caminho errado e com certeza você acabará chegando a conclusões erradas sobre todo o assunto. Por isso, é importante para nós mantermos claramente em mente a constituição setenária do homem, como explicada na literatura teosófica. Nossa natureza setenária deve ser conhecida se quisermos saber tudo o que os fenômenos psíquicos significam e devemos também lembrar que o que realmente estamos considerando não é o corpo, mas a ação da própria Alma no uso dos seus diversos invólucros, às vezes chamados de “princípios”. E é essencial também, se você deseja saber a verdade, que você aceite e tente entender a natureza impermanente de tudo o que é normalmente chamado “material”, “matéria” e “objetivo”. O denso pode se tornar imediatamente fluido, e o objetivo se transformar em subjetivo; da mesma forma, também o subjetivo pode, pelo funcionamento das leis naturais, tornar-se objetivo, e o invisível é mais permanente do que o visível. Se isto não for aceito e compreendido, então não haverá esperança de que o inquiridor realmente saiba tudo a não ser o superficial de todos esses fenômenos estranhos. Então, estabeleça com muito cuidado na mente, que os pensamentos e ideias produzem formas próprias que têm o poder, sob certas condições, de afetar nossos sentidos de tal forma que parecem objetivas à nossa cognição desperta. Isto acontece frequentemente no reino da natureza psíquica, e tem enganado centenas de pessoas a pensar ser espírito aquilo que não era espírito, mas era da parte e essência mais grosseira da matéria. E isto nos leva à raiz de tudo isso, que é que a matéria em sua essência é invisível, mas ao mesmo tempo muito mais grosseira do que a matéria de que falamos diariamente. Homens como Tyndall e Huxley quase chegaram a essa conclusão quando dizem que é impossível para nós realmente saber qualquer coisa da natureza essencial ou derradeira da matéria.
Examinando o espiritualismo, ele se resume, no que se refere a diferencia-lo de outros assuntos, naqueles fenômenos chamados de retorno dos espíritos dos mortos, a materialização de formas supostamente dos mortos e, portanto, chamadas de “formas materializadas”, a condução pelo ar de objetos ou os corpos de médiuns, a escrita de mensagens ou a sua entrega e a precipitação de tais mensagens no estilo e na caligrafia do falecido. O falar em transe, mensagens entregues em transe ou não, falar por inspiração, clarividência e clariaudiência, e todos esses tipos de fenômenos não são especificamente propriedade do espiritualismo atual, já que todos eles têm sido conhecidos por eras. Mas o que eu coloquei de lado como singular é bastante fantástico para a mente leiga comum, pois não sabemos como pode ser possível que uma forma tangível saia do ar, nem como uma mulher enquanto em transe possa ser capaz de contar muitos fatos, tais como o nome, as condições e todos esses detalhes sobre um homem morto a quem ela nunca conheceu. E bem aqui está o ponto de divergência entre o Teosofista e o espiritualista. Este último diz que isto prova que o espírito do homem morto está presente, mas o teosofista o nega e diz que tudo isso é feito por alguns ou por todos os três mecanismos, excluindo as entidades em Kama-Loka. O primeiro é o resto astral do homem morto, desprovido de sua Alma e consciência; o segundo é o corpo astral do médium vivo; e o último é a mente e o corpo astral das pessoas presentes. Nesses três agentes está a explanação de cada um dos fenômenos; estando os espíritos elementares incluídos nos três, pois participam de todos os movimentos da Natureza e do homem no globo todo e ao seu redor. É por isso que eu não lhes dei uma parte separada no assunto. Cada um dos nossos pensamentos atiça e usa esses elementais, e o movimento do vento, os raios do sol, e os fluidos do corpo com os movimentos dos órgãos, fazem todos a mesma coisa. Esses elementais são os nervos da Natureza e nada pode acontecer ou ser feito em qualquer área da vida que não envolva e utilize os espíritos dos elementos. Por sua ajuda, agindo somente sob a lei, nossos pensamentos voam de um lugar para o outro. Eles energizam os corpos astrais abandonados dos mortos e, deste modo, dando-lhes uma vida breve e totalmente artificial, os fazem, assim como máquinas, emitir sons, repetir o que lhes preocupava, para imitar a pessoa outrora ativa e animada. Isso é tudo de “espírito” que há nas comunicações dos mortos. Poderíamos também dizer que muitos papagaios adestrados deixados em uma casa abandonada eram as Almas das pessoas que um dia viveram lá e que possuíam os pássaros. De fato, a ilustração do papagaio é perfeita, porque um bom papagaio atrás de uma tela poderia fazer você pensar que um homem inteligente estava escondido mas falando com uma voz que você ouve e palavras que você entende.
Tomemos agora o caso de uma “forma materializada”. Aqui você vê, levantando-se do chão ou vindo do gabinete, uma forma humana aparente que você pode tocar e sentir, e que, no melhor dos casos, pronuncia algumas palavras. O que é isto? É real? É um espírito?
Não é um espírito. Ela é feita do corpo astral do médium, e muitas vezes de matéria astral sugada das pessoas que podem estar presentes. O médium fornece o laboratório químico natural no qual as partículas astrais são adicionadas aos átomos físicos soltos das pessoas próximas, de modo a produzir uma forma densa a partir do subjetivo que se torna objetivo por um tempo, mas que não consegue permanecer. Desvanecer-se-á. Primeiro, é produzida uma estrutura de partículas magnéticas e astrais, e depois é condensada pela adição das partículas físicas dos corpos das pessoas presentes. Então se torna visível. Mas não tem órgãos. Não poderia ser dissecado. E se durasse o suficiente para ser serrado em dois, você descobriria que era inteiramente sólido, ou etéreo, como você quiser, porque a linha divisória entre essas duas condições estariam constantemente mudando. Certamente não seria a forma celestial de seus falecidos. O mais provável é que ela seja composta pela grande força de alguma pessoa de natureza muito má e totalmente depravada que permanece na esfera da Terra e é incapaz de sair dela, mas que deseja constantemente gratificar seus antigos desejos.
Esta é a explicação antiga, e a mesma solução foi dada por um ou dois médiuns sob o que eles chamam de controle. Uma vez, alguns anos atrás, uma médium em Chicago relatou que um certo Jim Nolan, há muito falecido, mas que dizia ser um fantasma muito culto, veio até ela e disse que as materializações foram exatamente como eu lhe disse, e acrescentou: “Por que você supõe que seja útil ou necessário para nós produzir uma nova forma para cada novo espírito que vem até você? Usamos a mesma forma antiga repetidamente e apenas reproduzimos sobre ela, da luz astral, o rosto daqueles que estão mortos que você deseja ver”. (1) Ele poderia ter acrescentado que se os visitantes persistissem em perguntar apenas por aqueles que ainda estavam vivos, as formas e os rostos dos vivos também se materializariam proveniente do aposento. Este experimento não foi tentado pelos espiritualistas, mas isso inevitavelmente resultaria na prova de que outros que não os mortos, apareceriam e cobririam com dúvida a questão dos mortos retornando. Pois se um espírito se materializasse, o qual afinal de contas, acabou sendo o simulacro de uma pessoa viva, que prova teria alguém de que todos os outros fantasmas também não seriam vivos? Isto é exatamente o que diz a Teosofia. Todos eles estão vivos e são todos e cada um representações fraudulentas daqueles cujos nomes são tomados em vão. E até que esse experimento crucial tenha sido tentado e bem experimentado, o espiritualista não pode afirmar efetivamente que os mortos voltam e se tornam visíveis.
A imaginação de ambos, participantes e o médium, também é muito potente. Não em fazê-los ver o que não está lá, mas ao dar a forma ou a feição ao que aparece.
(1) Vide Religio-Philosophical Journal de 1877
Eu já vi ao lado de um médium com fraco poder de produzir imagens formas dos chamados espíritos que pareciam como se fossem feitas por um amador, como se fossem grosseiramente cortadas de alguma substância. Isto se deu porque o médium não tinha a capacidade de desenhar ou de imaginar uma coisa por si mesmo e, assim, tendo os elementais que seguir o modelo natural na mente do médium, tinha necessariamente de produzir apenas a forma que ali estava. Mas há outros que têm um bom poder de imaginação e, portanto, com eles o fantasma é bem concebido.
Isto me leva à precipitação ou à escrita de mensagens; e aqui a capacidade do médium de escrever ou de desenhar não faz qualquer diferença, já que o modelo ou matriz da escrita ou da imagem é fixado na luz astral, ou éter, o que facilita para as forças naturais produzir uma imitação exata da escrita daqueles que morreram. E como eu vi a escrita dos vivos assim imitada por precipitação, eu sei que este é o processo, e que a matriz ou modelo é independente do médium.
As leis que regem a produção de uma precipitação de uma matéria a partir do espaço para uma superfície de modo a se tornar fixa e visível no papel ou em outro material são as mesmas em cada caso, seja realizado inconscientemente por um médium ou conscientemente por um Adepto na arte.
O médium atua como o meio controlado e ignorante; o Adepto é o mestre e por sua própria vontade, usando as mesmas leis, gera o mesmo efeito. A diferença entre os dois é a mesma que existe no caso da pessoa que atira uma massa de tinta para uma tela e produz, por uma combinação acidental de cores, um pôr-do-sol ou outra cena, e o artista que, com conhecimento e habilidade, pinta deliberadamente um quadro. Outros exemplos do mesmo tipo ocorrerão a você. No entanto, no reino da força psíquica, as leis agem com maior certeza e poder, mostrando assim resultados mais surpreendentes. Então, não podemos dizer que o médium utiliza qualquer uma das leis de forma deliberada, mas podemos afirmar que o corpo interno do médium, o astral, pode usar essas leis e forças de uma maneira não compreendida pelo sentido desperto da pessoa.
Agora, quando o Adepto faz uma precipitação, ele constrói com o desenvolvido poder de imaginação ou poder de produzir imagens da mente, uma imagem, exata em cada detalhe, das palavras ou imagens a serem precipitadas e então, usando a força de sua vontade, tira do ar o carbono ou outra matéria para a cor. Isto cai como chuva, condensada a partir do ar, e é infalivelmente atraído para os limites do quadro assim produzido pela mente. Sendo a força de atração continuada, ela condensa gradualmente sobre o papel, e você tem a mensagem ou a foto. É claro que há alguns outros detalhes que eu não dei; mas agora, eles não são necessários para a explicação. O médium é o meio para a mesma ação, ajudado pelos elementais.
Os casos de psicografia em lousas não costumam ser precipitados, mas são a fricção real do lápis na superfície da lousa, e isso é sempre feito pela mão astral do médium, incitado pelas forças elementais e pelas cascas astrais vivificadas dos mortos. A explicação da semelhança com a caligrafia etc., é a que foi anunciada acima, das imagens na luz astral, das imagens na aura dos participantes e também aquelas na aura e na mente do médium. Não há nenhum espírito presente, a não ser aqueles encerrados em corpos vivos, e nenhuma das mensagens será mais elevada ou melhor do que a educação e a natureza do médium e dos participantes e das impressões subconscientes no corpo astral do médium.
Objetos foram transportados pelo ar e até mesmo através de paredes na presença de alguns médiuns e, às vezes, também os corpos dos médiuns foram levitados. Como isto é feito? Se você for à Índia você pode ver, se procurar, os corpos de iogues levitados e objetos arremessados pelo ar. Vi ambos lá, tanto quanto na presença de, e pela força consciente de Mme. Blavatsky. Na levitação do corpo humano, a coisa é feita alterando a polaridade do corpo para que seja do tipo de eletricidade oposto ao do local abaixo da terra. A distância que ela irá levitar depende da força e da potência da mudança polar. Isto não é contrário à gravidade, pois essa lei é apenas uma metade da grande lei que deveria ser chamada de atração e repulsão, ou, em outras palavras, simpatia ou seu oposto. A gravidade, na opinião do ocultismo, depende inteiramente da lei elétrica, e não do peso ou da densidade.
O transporte de objetos através do ar sem meios visíveis é uma proeza dos elementais ou da mão astral do médium. E, portanto, temos que saber tudo sobre o corpo astral. Um das propriedades do corpo astral é a de se esticar a uma distância de muitos metros.
O envio de um objeto sólido através de uma parede é feito com objetos pequenos, e então uma parte da parede igual ao tamanho do objeto selecionado é desintegrada, de modo que o pequeno objeto possa atravessar. Isso não pode ser feito com coisas muito grandes, nem com a estrutura humana organizada, exceto pelo uso de uma grande quantidade de força, que não esteja no controle de qualquer um, exceto de um Mestre. Eu vi H. P. B. esticar seu braço e mão astrais para fora por uma distância de mais de três metros e trazer para sua mão física um objeto do outro lado da sala, e foi isto o que ela quis dizer com “fraudes psicológicas”, já que vocês não perceberam o braço e a mão, e estavam cheios de admiração por verem coisas inanimadas se moverem por vontade própria, pelo que vocês puderam perceber. Os médiuns fazem a mesma coisa a maior parte do tempo, e em pouquíssimos casos eles estão cientes de que é seu próprio membro que o faz. Mas é claro que há casos em que os espíritos elementais também o fazem.
Outros fenômenos pertencem a outros campos. Porque todos eles, já existiram muito tempo antes desse mundo, e tudo o que realmente distingue o espiritualismo do resto é que ele equivale a não mais do que a adoração ou seguimento dos mortos. Não é de modo algum a adoração de espíritos. É o fato de lidar com as cascas mortas de homens e mulheres outrora vivos. Nós sustentamos que, na morte, a Alma voa para outros estados e deixa suas camadas de pele e de matéria astral para trás. Estas devem ser deixadas em paz, pois há perigo nelas. Elas pertencem a outros planos da natureza, e se as acordarmos, brutas e demoníacas como de fato são, nos então nos sujeitamos à influência e ao poder delas. Eu digo que elas são brutas e demoníacas porque os melhores de nós sabem que uma parte de nossa natureza não é divina, mas está relacionada com a Terra e com a matéria grosseira, e cheia também de todas as paixões e desejos que temos tido na vida. Tendo a Alma ido embora, não há dirigente para orientar e prevenir, e por isso lidamos apenas com os resíduos grosseiros do homem quando assistimos às sessões ou permitirmos que nos tornemos médiuns. No sono, vemos uma pequena, mas convincente evidência disso. Pois estamos fora por um tempo, e o corpo, deixado a si mesmo, se joga em atitudes impróprias, ronca, se esparrama e pode golpear outra pessoa: li sobre casos em que um homem durante o sono se inclinou e matou a pessoa que estava deitada ao seu lado. “Oh”, diz você, “isso foi um pesadelo”. Precisamente; foi; mas foi o corpo do homem não controlado por sua Alma que realizou o ato. O mesmo acontece com esses fantasmas. Eles são desprovidos de Alma, não importa quem possam ter sido os proprietários em vida, e é melhor deixá-los em paz e tentar, por outro lado, desenvolver e educar a Alma vivente enquanto ela está no corpo e é a verdadeira trindade, somente através da qual, em qualquer vida, o verdadeiro conhecimento pode ser adquirido.
Em um breve artigo, é impossível tratar completamente este assunto, pois ele traz à tona todo a dinâmica e a ciência das forças psíquicas. Mas eu indiquei a solução para todos os problemas que surgem. Por enquanto, e até que você tenha cuidadosamente estudado a constituição setenária e a natureza da mente com seus poderes, você pode ter dificuldades com a matéria, exceto no que diz respeito aos argumentos históricos e analógicos. Estes, juntamente com a improbabilidade deduzida dos absurdos das falas e ações mostradas pelos alegados espíritos, devem sustentar a posição tomada há tantos anos por H. P. Blavatsky e descrita acima. E certamente ninguém pode duvidar que nenhuma declaração espiritual verídica – a não ser quanto a fatos genuínos – pode advir da prática de sórdidas transações monetárias entre os médiuns e os inquiridores. Esta é a maldição do espiritualismo, e deve ser eliminada a qualquer grande ou doloroso custo. Até que isso seja feito, nenhum bem pode sair daquela Nazaré.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, abril 1893