Estudos teosóficos – W.Q.Judge
Estudar todas as escrituras escritas perto ou longe;
Cultuar todas as imagens e santos da Terra;
Mas se você não estudar quem e o que você é,
Todos os seus vastos estudos não valem nada.
Há muitas pessoas que estão sempre lendo, lendo, lendo. Elas leem cada livro que conseguem obter sobre assuntos teosóficos ou ocultistas. No entanto, elas não parecem progredir em seus estudos e, por isso, afirmam com um ar que parece equivaler a uma condenação daquilo que elas estão estudando.
Depois, há outras que não são conhecidas por ler muito, mas que parecem ter uma compreensão completa do assunto. Conheço dois teosofistas, um dos quais já leu provavelmente mais do que todos os estudantes das sociedades ocidentais. Ele frequentemente se refere a algum novo livro que acaba de sair, perguntando se já o lemos. No entanto, ele está, nesse momento, desesperadamente enredado na vasta rede que ele jogou em torno de si, composta quase inteiramente das diferentes ideias apresentadas por outras mentes, e se colocou, portanto, voluntariamente sob seus jugos. O outro leu apenas alguns livros, apenas o suficiente para saber quais teorias são apresentadas, mas ele demonstra um conhecimento extraordinário sobre a maioria das proposições teosóficas e sobre coisas que geralmente não são bem conhecidas.
Qual é a razão disso?
A razão é que a verdade é de fato muito simples e está bem à tona, mas a maioria das pessoas preferem enterrá-la no fundo de um poço para que possam ter o prazer de cavar em busca dela.
Há algumas proposições axiomáticas gerais que devem ser aplicadas em todos os sentidos, e com sua ajuda a maioria das dificuldades podem ser eliminadas, e há uma grande doutrina que ofusca a todas, unindo-as. Essa última é a doutrina da fraternidade universal. Ela não deve ser simplesmente aceita como uma grande e elevada ideia – tão grande de fato que não pode ser compreendida – mas uma constante investigação deve ser feita por todas as pessoas sérias para descobrir sua base real, lógica e científica. Porque se não possuir tal base, então deve ser abandonada como uma mera ilusão, um mero malabarismo com palavras.
“Não há limite para a produção de livros”, já foi muito bem dito no passado. É fácil produzir um livro, mas é difícil escrever um. Para produzir um, tudo o que tem que ser feito é ler o suficiente daqueles anteriormente escritos e depois moldar tudo isso em seu próprio linguajar. Existem demasiados livros assim inventados e lançados sobre as águas teosóficas, confundindo o pobre estudante. Por que ler todos eles? Há muitos deles cheios dos conceitos equivocados de seus autores os quais, embora sinceros, estão eles próprios lutando para assimilar.
Mas toda essa preponderância de autoria tem produzido em nosso povo o hábito de desejar mais livros, e uma consequente desconsideração pelo que foi escrito nos tempos antigos. A humanidade não mudou muito em muitas eras, e tem sempre prosseguido suas investigações, deixando um registro para trás. Mas no decurso do tempo, os únicos livros que perduram são aqueles que contêm a verdade, e são, portanto, os livros verdadeiros. E nós, nessa época, estamos incessantemente e desnecessariamente escrevendo e lendo assim como faziam os de eras passadas, com o mesmo resultado inevitável: que nossos livros verdadeiros se tornarão, por fim, idênticos aos agora deixados para nós como herança do passado. Portanto, devemos recorrer a esses livros antigos e com suas ajudas, olhar para dentro! E para usá-los, tudo o que temos que fazer é, através de um pouco de cuidadoso estudo preliminar, vir a compreender a posição de seus autores, de modo que o que, a princípio, parece estranho em seus escritos, logo assumirá um significado diferente, permitindo-nos ver que, “aquele estreito e antigo caminho que leva para muito longe e no qual os sábios caminham”, foi encontrado e para nós apontado, com infinitos cuidados e dores pelos, às vezes desprezados, sábios de terras orientais.
Mas mesmo todo este bom estudo, se não combinado com a prática, “não vale nada”. É tempo jogado fora. E essa prática não consiste na formação de organizações secretas ou exclusivas, seja dentro ou fora da Sociedade Teosófica. As assim chamadas organizações “exclusivas” são conhecidas por existirem, mas os excluídos não precisam se arrepender. Aqueles exclusivos de outras organizações não estão praticando; eles não estão descobrindo nada de real proveito; nem seus estudos chegarão a muito mais do que desilusão, pois eles estão ignorando a fraternidade universal, e a primeira da grande lei, que “o primeiro passo na magia verdadeira é devoção aos interesses dos outros“.
Assim, chegamos às últimas palavras do primeiro verso, que devemos estudar a nós mesmos. Para fazer isso, devemos ajudar os outros e estudá-los. O grande self, que é a fonte e o doador de todo conhecimento e poder, se reflete em cada homem, e o estudante sábio não pode se permitir ignorar a evidente dedução que nosso primeiro esforço deva ser o de remover de nossa mente a sensação de estarmos separados de qualquer outra pessoa, de seus atos ou de seus pensamentos. Diz-se que esta é uma tarefa difícil; mas essa dificuldade surge, por um lado, do egoísmo, e por outro lado, de uma aversão natural para aceitar uma solução tão simples.
De fato, não é possível para nós ganharmos com os outros. Não podemos ser informados de verdades que já não existem em nós mesmos. Podemos ouvi-las, mas elas passam e partem sem deixar vestígios. Isso é o que Jesus quis dizer quando disse: “Àquele que tem, lhe será dado”; e na filosofia hermética, ela é claramente afirmada: “Não pense que eu lhe digo o que você não sabe; eu só conto o que você já sabia antes”.
É, portanto, melhor pegar dois ou três livros, como “Isis Unveiled”, o “Bhagavad Gita” e “Luz no Caminho”, estudá-los com cuidado e permitir que sua influência ocasione a reanimação do conhecimento antigo interno, e que as boas sementes que sobraram de vidas passadas, germinem e cresçam ,tornando-se árvores nobres.
WILLIAM Q. JUDGE
The Occult Word, fevereiro-março 1887