Hipnotismo e Teosofia – W.Q.Judge
Nota – Este artigo foi impresso no “Jenness Miller Illustrated Monthly”, possivelmente em algum momento em 1893. É aqui reproduzido de uma página sem data arrancada desta revista. Estando o conjunto da Biblioteca do Congresso incompleto, uma busca pelo volume em que ele tinha sido publicado se provou infrutífera. – Os editores.
O hipnotismo é compreendido? Qual é a posição da Sociedade Teosófica em relação ao hipnotismo?
Alguns pensam que o magnetismo e o hipnotismo são idênticos; porque muitos disseram que esta nova força ou poder é apenas a antiga prática de Mesmer reavivada neste século, após longos anos de desprezo e rotulada com um novo nome que permitirá aos médicos adotá-la. No entanto, isso não é totalmente verdade. O Dr. Charcot, de Paris, e seu seguidores, podem ser creditados pelo renascimento do hipnotismo; pois, em consequência de suas investigações foi aceito pela profissão médica. Eu vi os proeminentes médicos da costa atlântica mudar suas opiniões sobre este assunto em vinte e cinco anos. Dr. Hammond e outros riram da credulidade daqueles que acreditavam que os fenômenos, agora tão conhecidos entre os hipnotizadores, já ocorreram; hoje eles escrevem artigos e admitem os fatos anteriormente negados.
Há muitos anos, o Dr. Esdaile, um cirurgião do exército britânico, dirigia um hospital na Índia, e lá realizou muitas operações difíceis, usando o magnetismo como um anestésico, até mesmo instruindo os assistentes nativos a usá-lo em pacientes em seu lugar. Seu livro, há muito tempo publicado, fornece todos os fatos. Há muitos testemunhos em todos os países da realidade dos estados e poderes mesméricos e hipnóticos.
A grande questão que surgiu depois que as provas sobre o hipnotismo foram apresentadas estava em que era muito diferente de qualquer outra que tinha sido avançada anteriormente. Assim que o processo foi descrito e admitido, os experimentos prosseguiram com rapidez, e o grande tema do “sugestionamento” foi revelado. Descobriu-se que a pessoa hipnotizada poderia ser obrigada a fazer muitas coisas estranhas depois de se recuperar do estado hipnótico, contanto que a sugestão tivesse sido feita a ele quando ele estava naquele estado. O sujeito foi instruído a assassinar o Dr. A ou B; a roubar um livro de bolso. Ele era então tirado do estado hipnótico, e, na hora marcada, pegaria a arma sugestionada – uma faca de papel ou coisa inofensiva – e passaria por todas as ações necessárias, ou roubaria de fato o objeto que lhe foi dito para roubar. Se este poder pudesse ser usado por um médico em uma experiência, argumentou-se que um assassinato verdadeiro poderia ser planejado e executado através de uma pessoa hipnotizada. Por isso, era perigoso. O crime é possível de perpetração com impunidade pelo verdadeiro culpado. O Dr. Charcot entregou um artigo para uma importante revista nova-iorquina, no qual ele admitiu as possibilidades de sugestionamento de pacientes, mas negou que houvesse perigo por sugestionamento de crime e, no entanto, também disse ali que deveria existir leis contra o hipnotismo indiscriminado. Com esta última conclusão, a maior parte dos membros da Sociedade Teosófica concorda plenamente, mas eles também pensam que há, e haverá, o perigo do crime sugerido a indivíduos hipnotizados. Não no presente imediato, mas no futuro.
Isto porque o hipnotismo não é compreendido nem seus perigos avaliados pela classe médica; muito menos ainda creditam ao público um conhecimento correto sobre o assunto.
Os melhores hipnotizadores sabem muito bem que há ocasiões em que o sujeito hipnotizado foge à sua influência, continua no estado hipnótico e permanece sob alguma influência não conhecida pelo operador nem distinguível pelo sujeito. Há aqui um perigo – o perigo da ignorância e o perigo de um guia cego liderar alguém igualmente cego. Escritores como Braid, Binet e outros são apenas estatísticos. Eles simplesmente fornecem fatos e métodos, estando todos igualmente no escuro quanto às causas e às possibilidades. Novamente, os operadores na linha de frente da fama hipnótica também sabem, conforme disse o Dr. Charcot, que há o perigo de que a histeria se desenvolva onde nunca existiu, e um comboio de outros males. É por isso que ele exige a supressão de sua realização indiscriminada. Mas o verdadeiro empecilho, e bem conhecido pelos estudantes teosóficos, é que como a força e o poder do hipnotismo mais conhecidos, será visto que, qualquer que seja a influência, o processo que se passa no hipnotismo é a contração das células do corpo e do cérebro, a partir da periferia para o centro. Este processo é na verdade um fenômeno do estado de morte e é o oposto do efeito mesmérico; e este ponto não é conhecido pela classe médica, nem o será como eles procedem agora, porque os exames post mortem nunca revelam a ação de uma célula viva. O magnetismo por influência humana começa de dentro e procede para a superfície externa, exibindo assim um fenômeno de vida que é o oposto do hipnotismo. E o uso do magnetismo não é censurável mas deve ser limitada, na prática, a membros competentes da classe médica. Então, os membros mais estudiosos e sérios da Sociedade Teosófica são contra o uso do hipnotismo. Em todas as suas fases anestésicas pode ser duplicado pelo mesmerismo sem nenhum efeito negativo. O Dr. Esdaile tem demonstrado isso profusamente. Leis devem ser aprovadas no sentido de transformar em um delito a realização de sessões hipnóticas públicas ou privadas. E essas leis também deveriam ser dirigidas até para aqueles médicos que, sob o apelo da ciência, colocam sujeitos em posições absurdas e indignas. Tais práticas não são necessárias, e são deliberadamente contra a vontade desperta e o julgamento do sujeito. Elas exibem apenas o poder do operador e não acrescentam nada ao conhecimento, o qual não pode ser obtido de outra forma.
Mas mesmo com os casos notáveis registrados por Binet e outros na França, as leis que governam a constituição interna do homem, e que governam especialmente no hipnotismo depois de um certo ponto, não são percebidas pelos escritores eruditos. Alguns fornecem apenas fatos – apenas fatos sobre a estranha recorrência de estados e outros, como o Dr. James deste país, assumem que existe um self oculto que faz estes truques esquisitos com a forma mortal. Os teosofistas sabem que as extraordinárias alterações na mente ou no poder mental, a estranha “recorrência de estados” e a, aparentemente, distinta divisão ou separação da inteligência em um único sujeito humano são todas explicadas pelo antigo método oriental de limitar os poderes internos do homem em sete classes, em cada uma das quais o self oculto – o Ego – pode e age de fato de forma independente, sendo o corpo apenas um instrumento ou campo grosseiro para a ação do homem verdadeiro.
Essa teoria o divide em sete planos de ação, em cada um dos quais o Ego ou self oculto pode ter uma consciência operando de uma maneira particularmente apropriada para aquele plano, e também a participação da consciência e da experiência dos planos acima dele, mas não abaixo. E cada uma dessas camadas ou campos de consciência está ainda mais dividida em outros subcampos, em cada um dos quais pode haver uma experiência e ação separada, ou tudo pode ser combinado. Agora, nos casos tratados pelo Dr. James, a peculiaridade observada era que, quando o sujeito agia como No. I, ele não se recordava de um estado chamado No. 2. Nenhuma explicação para isso foi oferecida, apenas foi registrado o fato. É explicado pela localização da consciência do Ego em um ou outro dos subcampos de ação da primeira da grande classe dos sete.
A falha em recordar de um para o outro era devido ao fato de que o Ego era forçado a entrar naquele campo em particular, sendo assim incapaz de levar consigo a lembrança. Ele foi, portanto, totalmente automático em sua ação naquele plano. Este efeito era quase inteiramente devido à ação contrátil específica do processo hipnótico que, conforme dito acima, é essencialmente uma contração das células do exterior para o centro. Isto sempre impedirá o Ego de se educar para lembrar, de estado para estado e de campo para campo, a experiência de cada um deles, educação para o qual, no entanto, é possível no estado mesmerizado ou magnetizado e, é claro, na vida de vigília normal.
Os casos em que o sujeito escapa do controle do operador são todos explicáveis sob a mesma teoria teosófica, isso é, são casos em que o Ego se retira do primeiro plano ou campo de consciência composto de sete divisões ou subcampos para o próximo da classe toda de sete, em vez de entrar em uma das subdivisões da primeira. E, como os médicos não conhecem nem admitem a realidade das subdivisões internas superiores, não estão familiarizados com os meios para alcançar o Ego quando este escapou para mais longe deles, para um campo de consciência onde eles desconhecem as causas e condições; ou seja, os hipnotizadores não estão examinando o verdadeiro campo de operação da força, mas estão meramente olhando para alguns de seus fenômenos.
Estes fenômenos são exibidos no corpo ou invólucro externo enquanto os processos psicofisiológicos, que ocorrem internamente e causam os fenômenos visíveis, estão ocultos das suas vistas.
WILLIAM Q. JUDGE