O Estudo e o Trabalho teosófico – W.Q.Judge
O nascimento e a vida de uma Seção da Sociedade Teosófica são muito semelhantes aos de um indivíduo. Assim como com pessoas, também um corpo de teosofistas comprometido com o esforço e o estudo teosófico, a linhagem e o subsequente ambiente tem muito a ver com a continuidade da vida e com o poder da influência exercidos sobre as unidades que compõem a organização, como também daquilo que irradia das Seções para outras pessoas, externamente. E na Sociedade Teosófica, sua autoria é dividida entre todos aqueles que se juntam com o intuito de iniciá-la e de levá-la adiante. Se os autores de sua existência são pouco inteligentes, confusos ou inseguros ou egoístas na formação da Sociedade, sua vida e seu trabalho serão o mesmo. O crescimento será interrompido, a influência entravada e os resultados … nada. O trabalho e a influência de uma Seção depende das intenções, das ideias e dos ideais dos membros e, então, temos de considerar qual o conhecimento requerido e quais deveriam ser os objetivos, as ideias e os ideais daqueles que formam e irão trabalhar numa Seção da S.T. Uma busca também deverá ser efetuada nos métodos que deverão ser adotados como também nos que deverão ser evitados.
O trabalho de uma Seção tem dois pontos objetivos onde se pretende, na ordem teosófica das coisas, que sua ajuda e influência devem ser sentidas. O primeiro está dentro e entre os seus membros, e o outro, naquela parte do mundo que esteja dentro do seu âmbito. Se, como eu convictamente acredito, a teoria da fraternidade universal está baseada sobre uma lei – um fato – na natureza de que todos os homens são seres espirituais que estão indissoluvelmente ligados e unidos em um amplo todo, então nenhuma Seção, nenhum teosofista individual pode ser considerado sem importância e influência, nem a qualquer membro é legitimado supor que ele ou ela é demasiado retraído, insuficientemente avançado para ser de alguma utilidade para o Movimento e, portanto, para a humanidade em geral.
O fato de que uma Seção da S.T. é um corpo de indivíduos, fortalece a certeza de que, por meio da ligação sutil que, sob a lei da unidade, conecta todos os homens nesse planeta, uma influência maior e mais potente, para o bem ou para o mal, pode ser exercida através da Seção do que através de um único indivíduo. Porque assim como o homem é composto de átomos advindos de várias linhagens de muitos antepassados, todos os quais têm parte na influência que ele exerce, assim também uma Seção é um ser composto de átomos – seus membros – incluídos nas suas divisas. E não é um sonho extravagante, fantástico, dizer que esse ser pode ser inteligente ou vigoroso, ou fraco, ou malvado como um todo, tal qual é feita uma coisa ou outra, por suas partes constituintes. E as declarações feitas pelos Adeptos no tocante a teosofistas, individualmente, deveriam ter peso em tal corpo. Aqueles Seres têm dito que cada membro pode ajudar o movimento explicando as suas doutrinas fundamentais ou, pelo menos, eliminando concepções erradas, e que nenhuma unidade no todo deveria ser tão ignorante a ponto de supor que ele ou ela tem um Carma especial próprio sem conexão com o resto. Não se perde um único bom exemplo na vida teosófica, dizem Eles, mas cada um de nós afeta não só os associados próximos, mas também projeta, na grande corrente universal, uma influência que tem o seu peso no destino da Raça. Algumas dessas palavras de ouro são como seguem:
“Não deixe o fruto do bom Carma ser sua motivação; pois o vosso Carma, bom ou ruim, sendo um só e propriedade comum de toda a humanidade, nada de bom ou de ruim pode lhe acontecer que não seja partilhado por muitos outros”. Assim, se o motivo for para si mesmo vós próprio, é egoísta e só pode gerar um duplo efeito – bom e ruim – e anulará as vossas boas ações ou as transformará em benefício de outro homem. “Não há felicidade para quem pensa em si próprio e se esquece dos outros selfs.”
Tudo isto é aplicável a uma Seção na sua totalidade, porque é um ser inteligente tanto sob a regência de Carma quanto qualquer indivíduo. Irá sentir o Carma de suas ações, e a responsabilidade irá recair sobre os membros que negligenciaram ou obedeceram aos preceitos do dever teosófico. E o Carma de todo o organismo internacional reagirá sobre ele para o benefício ou o contrário, de acordo com o Carma bom, ruim ou indiferente que a Seção possa ter adquirido por meio de seu curso de ação. É uma parte do todo, e nenhuma parcela pode ser isentada das influências pertencentes à massa total de trabalhadores. Assim, uma Seção que tenha sido indiferente, ou egoísta, ou cheia de dúvidas ou deslealdade em relação aos ideais que prometeu seguir, atrairá do Carma teosófico internacional exatamente o suficiente para acentuar a sua fraqueza e dúvida e, por outro lado, uma Seção que tenha trabalhado arduamente, sem egoísmo, e seriamente, atrairá o bem de toda a soma do Carma, e que, somado ao seu próprio, lhe permitirá resistir aos efeitos negativos e reforçará ainda mais os elementos vitais no seu próprio entidade corporativa.
O Carma bom ou ruim da Sociedade Teosófica pode ser considerado como rodeando-a de um extremo ao outro do mundo sob a forma de camadas ou esferas de luz ou de escuridão. As unidades – que contêm os elementos de luz dentro delas – atrairão da esfera de luz tanto quanto forem capazes de conter, e a escuridão será atraída por aquelas que já têm escuridão. Assim, todos nós somos, teosoficamente falando, guardiões e ajudantes uns dos outros, não só nos Estados Unidos mas na Inglaterra, em Bombaim, em Calcutá, em Madras. Se não fizermos o nosso dever, pode acontecer que alguma Seção com dificuldades em algum lugar longínquo se torne o recipiente, em razão da sua novidade ou fraqueza, não de nossa ajuda, mas de nosso dano. Cada Seção é individualmente responsável pelas suas próprias ações e, no entanto, cada uma é ajudada ou prejudicada por todas as outras. Estas influências recíprocas funcionam no plano real, embora invisível, onde cada homem está dinamicamente unido a todos os seus semelhantes. E não estou sendo pouco caridoso ao dizer que se as Seções indianas tivessem trabalhado mais para os distantes Estados Unidos, quando eram incapazes de serem independentes, poderíamos agora ser os detentores de mais, na forma de elucidações, de estatísticas e de outras ajudas daquela terra distante do que podemos evidenciar. Mas mesmo que as recém-formadas Seções americanas tivessem trabalhado com mais zelo e energia para os verdadeiros fins da Sociedade, deveríamos ter sido capazes mais cedo de ajudar materialmente e aliviar nosso irmão sincero e trabalhador sacrificado, o Cel. H.S.Olcott. E agora, as mais novas Seções da Sociedade nesse país têm uma melhor oportunidade do que outras no passado, pois todas as lutas foram travadas e grande parte do trabalho está pronto e ao seu alcance.
Assim, o mais desconhecido tem seu lugar no esquema tão importante quanto aquele que é grande e bem conhecido, enquanto aqueles que são preguiçosos ou céticos ou egoístas devem, em algum momento, compensar pelos seus atos de incumbência, bem como por qualquer falha em acrescentar à soma geral do bem.
Com isso em vista, podemos concluir que uma única Seção tem o poder de ajudar e beneficiar eficazmente não só os seus membros, mas também toda a corporação teosófica, o que pode ser tornado mais claro ao recordarmos quantas vezes na história do mundo uma família ou mesmo um homem tem sido um poder, por vezes, para a nação ou para a raça, para o maior bem ou mal.
Sob esta doutrina de unidade e de altruísmo, o trabalho de uma Seção deve ser encetado por todos os membros com um espírito altruísta que os leve a ter paciência com os irmãos mais fracos, pois uma corrente não é mais forte do que o seu elo mais fraco, pelo que se deve procurar trazer à mente dos mais fracos as verdades que os outros veem com menos dificuldade. E a seguir, cada indivíduo, ao eliminar o desejo de obter conhecimento para si próprio, tornará assim a Seção como um todo aberta e porosa às influências invisíveis, mas reais e poderosas, geridas a partir dos bastidores pelos grandes personagens que têm como parte do seu trabalho no mundo o movimento teosófico, e que estão constantemente trabalhando entre nós com o propósito de ajudar aqueles que são sinceros e altruístas. Se devemos acreditar no testemunho daqueles que estão há muito tempo na Sociedade, então, conforme afirmam, há entre nós, todos os dias, muitos discípulos (que são conhecidos na nossa literatura pelo nome de “Chelas”) que estão empenhados em avivar a chama da iluminação espiritual onde quer que a encontrem entre os membros. A sua influência não é exercida por causa da riqueza ou proeminência pessoal, mas sobre qualquer um, de qualquer classe, que tenha tentado compreender a Teosofia para o bem dos outros e para que, por sua vez, possa transmiti-la aos outros. Isso não só foi afirmado pelos líderes do movimento, mas através da experiência de muitos de nós, vimos a ajuda ser estendida àqueles que estão comprometidos com seus semelhantes.
E isso é especialmente e mais fortemente aplicável aos membros que têm como um dos seus objetivos a aquisição de poderes psíquicos e anormais. Esses poderes não podem ser encontrados de forma segura e utilizados pelo homem que os deseja para si próprio, e a sua mera afirmação no seu coração ou em palavras de que os deseja para os outros, são em vão, a menos que o motivo e o objetivo mais profundo e interno coincidam com o propósito elevado que é expresso. Os nossos membros, novos e antigos, poderiam muito bem familiarizar-se agora com a verdade nua e crua sobre esse assunto, em vez de esperar por anos de amarga experiência para gravá-la neles. Existem tais poderes e o homem pode adquiri-los, mas cada era e cada Raça tem as suas limitações que não é possível ao homem médio superar. Dificilmente algum membro que tenha anseios por eles admitiria que estaria disposto a tornar-se um mago negro para os adquirir, ou seja, sacrificaria as suas oportunidades de emancipação por causa deles. No entanto, sem altruísmo não se pode obtê-los a não ser como um mago negro. É preciso decidir, deliberadamente, que sacrificará tudo e todos os outros ao seu desígnio, se é sua intenção obtê-los sem seguir as regras estabelecidas pelos Adeptos Brancos, inculcando verdade, pureza, caridade, e todas as virtudes – de fato, o altruísmo. Não há segredo sobre o fato de que dois caminhos, e não mais, se abrem a quem deseja os poderes de um Adepto, e esses são o da direita, o da virtude e do altruísmo, e o da esquerda – o lado negro – o do intenso e implacável egoísmo. Não é permitido nem possível qualquer compromisso, qualquer mera experimentação, e mais ainda no caminho egoísta, pois ali a mão de cada um está contra a dos outros; ninguém ajudará em qualquer crise, e, quando chegar a hora em que o estudante daquela escola estiver em perigo devido às forças invisíveis e terríveis da natureza, os seus companheiros de estrada não deixarão de escarnecer da sua fraqueza e de se regozijar com a sua queda. E de fato, a linha de demarcação entre esses dois caminhos, para os alunos da classe da maioria dos membros da nossa Sociedade, é muito tênue. É como a linha do cabelo que o místico Maometano diz dividir o falso do verdadeiro. É preciso ter muito cuidado para saber se o seu motivo é realmente tão altruísta como acha ser para si mesmo. Mas pode sempre ser testado pela autenticidade do sentimento de irmandade que ele tem nele. O mero anseio intelectual para saber e para descobrir mais nesse campo, é egoísta e da variante negra, pois a não ser que cada desejo para conhecer a verdade seja para dá-la a outros, ele está cheio de máculas. Além disso, não conduzirá a nenhum poder e a nenhum conhecimento real, pois o sucesso de ambos os lados depende do ardente desejo no coração. Com a Escola Branca isso é para o bem do próximo, e na mão negra, o mesmo desejo feroz é somente para si mesmo.
Muitas pessoas, contudo, pensam que podem pertencer à Sociedade, e embora negativamente egoístas, isto é, prontas e dispostas a sentar-se e ouvir os outros exporem a doutrina teosófica e nunca trabalharem eles mesmos para a organização, podem receber benefícios na forma de compreensão das doutrinas do homem e da natureza que são promulgadas entre nós. Mas esquecem-se de uma lei de grande importância nessas matérias, uma lei que, de fato, eles podem não estar dispostos a admitir, e que é muito contrária às nossas ideias modernas sobre os poderes e funções da mente humana. É que tal atitude, devido ao seu egoísmo, constrói um muro duro entre suas mentes e as próprias verdades que eles desejam conhecer. Falo de um verdadeiro efeito dinâmico que é tão evidente para o olho do vidente treinado como qualquer objeto para o olho saudável.
Por muitos anos estivemos habituados a ideias vagas sobre a mente humana, o que ela é e quais são de fato os seus poderes, que as pessoas em geral não têm noção precisa se há ou não qualquer efeito material na organização humana a partir dos pensamentos, ou se eles são como aquilo a que normalmente é chamado de “imaginação”, algo muito irreal e totalmente sem objetividade. Mas é um fato que a mente da pessoa egoísta está sempre fazendo de si própria uma superfície refletora dura, que lança fora e longe do seu alcance o próprio conhecimento que o próprio homem tomaria se ele mesmo soubesse a razão pela qual ele falha.
Isso nos leva naturalmente à proposta de que os objetivos dos membros de uma Seção devem ser a erradicação do egoísmo e a promulgação e ilustração da doutrina da fraternidade universal, baseando a explicação na verdadeira unidade de todos os seres, o que, por si só, conduzirá à explicação de muitas outras doutrinas, pois está subjacente a todas elas, grandes e pequenas. E para o fazer, os membros devem estudar o sistema como um todo, para que as suas partes possam ser compreendidas. É para a necessidade de tal estudo que ouvimos tantas vezes os membros dizerem, quando lhes é pedido que expliquem a sua Teosofia: “Bem, para dizer a verdade, eu sei como é tudo isto, mas não sou capaz de lhe esclarecer”. Eles não são claros porque não levaram o tempo e o trabalho para aprender as poucas propostas fundamentais e como aplicá-las a toda e qualquer questão.
Um erro muito comum é a suposição de que novos homens, novos inquiridores, podem ser convertidos à Teosofia e trazidos para as suas fileiras através da adoção e da aplicação de fenômenos. No termo “fenômenos” incluo todos como espiritualismo, clarividência, clariaudiência, psicometria, hipnotismo, mesmerismo, leitura de pensamento e afins. Esses convertem apenas poucos ou nenhum, porque não se sabe muito sobre eles e são necessárias muitas provas antes de se induzir à crença. E mesmo a crença nessas coisas não proporciona uma base sólida de uma característica teosófica. Um exemplo perfeito disso é visto na história de H.P. Blavatsky que, durante muitos anos, permitiu que fenômenos ocorressem consigo mesma em benefício de certas pessoas específicas, sobre as quais o mundo inteiro tem falado, e a Sociedade Psíquica achou por bem enviar um homem para investiga-las depois de terem ocorrido, mas embora as próprias pessoas que as viram acontecer testemunharam a sua veracidade, foram desmentidos por ele e por todos os que foram acusados de fraude e de associação. Todos os que estavam inclinados, desde o princípio, a acreditar neles continuaram acreditando, e aqueles que nunca acreditaram permaneceram na mesma condição de antes.
Os fenômenos mais bem comprovados estão sempre sujeitos à dúvida enquanto a filosofia da qual dependem não for compreendida.
Além disso, a massa de homens e mulheres no mundo não se preocupa com os fenômenos. Pensam que podem ser deixados de lado por agora, porque coisas mais prementes chamam a sua atenção e exigem solução. Os grandes problemas da vida: por que estamos aqui; por que sofremos; e onde pode ser encontrada a justiça que mostra a razão do sofrimento do homem bom ou, na verdade, do sofrimento de qualquer um, nos pressionam. Porque cada homem pensa que é injustamente sobrecarregado pelo destino quando os seus acarinhados planos dão em nada, ou a sua família é levada pela morte, ou o seu nome é desonrado por uma criança teimosa, ou quando, como é muitas vezes o caso, é injustamente acusado e prejudicado pelos seus semelhantes. Há muitos que nascem pobres quando outros menos dignos são ricos, e perguntam por que é tudo assim e não recebem resposta dos sistemas religiosos comuns do momento. É a vida e as suas tristezas que destroem a nossa paz, e cada coração humano quer saber a razão disso.
Devemos, portanto, oferecer teorias que deem a resposta, e essas teorias são as grandes doutrinas do Carma e da reencarnação. Essas mostram a justiça triunfante no mundo, aplicando recompensa ou castigo, conforme é merecido, em qualquer condição de vida. Depois de uma experiência de quinze anos no trabalho da Sociedade, tenho visto que homens e mulheres bons e úteis foram mais atraídos para o nosso movimento por essas doutrinas do que jamais o foram por causa de fenômenos, e que muitos que principiaram no lado fenomenal deixaram as nossas fileiras. Os membros em geral podem não estar conscientes de que, quando a Sociedade foi formada, a maioria dos seus membros de Nova Iorque eram espiritualistas e que quase todos eles nos deixaram há muito tempo.
Existe um poder misterioso nessas doutrinas do Carma e da reencarnação que, por fim, os obriga a crer naqueles que se dedicam ao seu estudo. É devido ao fato de ser o próprio ego o experimentador do renascimento e do Carma, que tem internamente uma clara recordação de ambos, e que se alegra, por assim dizer, quando encontra Manas inferior se dedicando a estudá-los. Cada pessoa é a concentração e o resultado do Carma, e é, interiormente, compelida a acreditar. A ética da Teosofia, tal como aplicada e iluminada por essas doutrinas gêmeas deve, portanto, ser objeto da nossa busca e disseminação.
Além disso, esse processo é abalizado para aqueles que acreditam nos Adeptos, pelas suas palavras escritas sobre nós. Cito:
“É o desejo insaciável por fenômenos tantas vezes degradantes que vos tem causado tantos problemas. Que a Sociedade floresça doravante sobre o seu valor moral e sobre o estudo da filosofia e da ética colocada em prática”.
A questão seguinte é como levar tudo isto à prática.
Em primeiro lugar, tendo a Seção aberta ao público e nunca privada.
Segundo, por meio de participação frequente e reuniões.
Terceiro, criando uma biblioteca, iniciando com os poucos livros importantes, aos quais alguns podem ser adicionados pelos membros de tempos em tempos, através de doações dos livros que tenham lido.
Quarto, tendo sempre um artigo, original ou não, para leitura e discussão. Se o talento literário não estiver disponível, a sua procura pode ser suprida a partir da grande quantidade de artigos que têm saído nas revistas da Sociedade durante os últimos quinze anos. Nesses, quase todos os assuntos de interesse teosófico foram noticiados e explicados. Podem ser procurados com muito pouco trabalho, e utilizados em cada reunião. E podem ser levados a frente por linhas já estabelecidas, de modo a examinar cada assunto na íntegra. Será descoberto que quase todas as perguntas que agora intrigam novos membros foram, num ou noutro momento, exemplificadas e explicadas nesses artigos.
Quinto, por um cuidadoso estudo básico das nossas doutrinas a partir de um ou dois livros até que o esboço principal de todos seja compreendido. Tomemos, por exemplo, “Esoteric Buddhism”. Isto dá o essencial do sistema e muitas pessoas leram-no, mas muitas delas fizeram-no apenas uma vez. Para elas surgem frequentemente perguntas que poderiam facilmente ser respondidas se tivessem feito, do sistema como um todo, uma parte do seu mobiliário mental. Este livro pode ser corrigido pela “Doutrina Secreta”, na qual Blavatsky disse que “Esoteric Buddhism” está correto no geral, e ela dá os meios para suprir as suas deficiências. Depois há aquele livro muito útil, “Five Years of Theosophy”, contendo alguns dos artigos mais valiosos que apareceram no Theosophist.
Sexto, através de um método de discussão que não permita a ninguém na Seção afirmar que os seus pontos de vista são os corretos. Não conseguimos chegar à verdade pela imposição, mas somente através da consideração ponderada dos pontos de vista colocados, e a pessoa autoconfiante está quase sempre próxima ao erro. Sei que esta visão é contrária à da independência americana, que nos leva sempre a nos afirmarmos. A verdadeira filosofia anula isso e ensina que só a partir do concurso da investigação é que se pode chegar à verdade. E o ocultismo mais profundo diz que o homem autoconfiante se exclui da verdade para sempre. Ninguém tem todo o conhecimento possível, e cada um é naturalmente capaz de ver apenas o único lado que lhe é acessível por causa da sua herança racial e das tendências incutidas da sua educação.
Em sétimo lugar, lembrando que não podemos alterar de imediato as tendências constitucionais dos átomos dos nossos cérebros, nem nós próprios mudarmos num instante. Somos imperceptivelmente afetados pela nossa educação, pelas ideias da nossa juventude, pelo pensamento, seja ele qual for, que precedeu a nossa entrada na Teosofia. Precisamos ter paciência, não com o sistema da Teosofia, mas conosco, e estar dispostos a esperar pelo efeito gradual das novas ideias sobre nós.
A adoção dessas ideias é, de fato, uma nova encarnação mental e nós, assim como no caso de um Manvantara, devemos evoluir do estado anterior e, cuidadosamente, erradicar a tendência anterior. É ensinado na “Doutrina Secreta” que a Lua é parente da Terra e nos deu tudo o que estamos trabalhando agora em nosso mundo. O mesmo se passa no caso em pauta. O nosso antigo estado mental é a nossa lua mental, e nos forneceu determinado material sobre o qual temos de trabalhar, pois de outra forma estaremos tentando ir na contramão de uma lei da natureza e seremos derrotados.
Alguns podem perguntar se não existe qualquer tipo de estudo que nos permita reduzir esses velhos modos errados de pensar. A eles só posso dar a experiência de muitos dos meus amigos na mesma linha. Dizem, e são apoiados pela mais elevada autoridade, que o único processo é investigar e tentar compreender a lei da unidade espiritual e o fato de que ninguém está separado, mas que todos são um no plano do espírito, e que nenhuma pessoa em particular tem um espírito próprio, mas que o Atman, chamado de “sétimo princípio” é, de fato, a síntese do todo e é a propriedade em comum de cada ser, elevado ou baixo, humano, animal, animado, inanimado ou divino. Este é o ensinamento do Upanishad Mundaka dos Hindus e o significado do título “Mundaka” é “barbear”, porque raspa os erros que formam um obstáculo à verdade, permitindo então que a lâmpada cintilante do conhecimento espiritual ilumine a nossa natureza interna.
E para aqueles que desejam encontrar a mais elevada ética e filosofia condensada num livro, eu recomendaria o Bhagavad Gita, estudado com a ajuda de palestras como as do nosso irmão Hindu – agora falecido – Subba Row de Madras. (1) Na “Doutrina Secreta”, Mme. Blavatsky diz: “A melhor definição metafísica da teogonia primitiva no espírito dos Vedantes pode ser encontrada nessas palestras”.
(1) Theosophist de Fev., Mar., e Junho1887.
Na conclusão de “A Chave para a Teosofia”, H.P. Blavatsky, falando do futuro da Sociedade Teosófica, escreve:
O seu futuro dependerá quase inteiramente do grau de altruísmo, seriedade, devoção e, por último mas não menos importante, da quantidade de conhecimento e de sabedoria possuída por aqueles membros sobre os quais recairá a responsabilidade de continuar o trabalho e de dirigir a Sociedade após a morte dos fundadores. Se eles não puderem se livrar do preconceito da educação teológica, o resultado só poderá ser o de que a Sociedade se desviará para um ou outro banco de areia do pensamento, e ali permaneça uma carcaça encalhada para apodrecer e morrer. Mas, se esse perigo for evitado, a Sociedade continuará a viver até, no e pelo século XX, e irá romper os grilhões de ferro do credo e da casta. O ocidente aprenderá a compreender e apreciar o oriente em seu pleno valor. O desenvolvimento dos poderes psíquicos prosseguirá saudável e normalmente, e a humanidade será salva dos terríveis perigos, tanto mentais quanto corporais, que são inevitáveis quando esses poderes se desenvolvem em um viveiro de egoísmo e de paixão, como agora ameaçam fazer.
No último quarto de cada século, uma ou mais pessoas apareçam no mundo como agentes dos Mestres, e uma maior ou menor quantidade de conhecimentos ocultos é transmitida.
Ela conclui afirmando que a atual S.T. é uma dessas tentativas de ajudar o mundo, e o dever de cada membro é deixado claro: que devem preservar este corpo com a sua literatura e planos originais, de modo a entregá-los aos nossos sucessores que os terão pronto no último quarto do século seguinte para o mensageiro dos Mestres que então, assim como agora, irá reaparecer. O fracasso ou o sucesso nesse dever não terá resultado ambíguo. Se formos bem sucedidos, então no século XX aquele mensageiro encontrará os materiais nos livros, no pensamento e em palavras populares, para lhe permitir levar adiante a grande obra para outra fase, sem a oposição feroz e os tremendos obstáculos como os que nos afligiram durante os últimos quinze anos que acabam de terminar. Se falharmos, então o mensageiro voltará a desperdiçar muitos anos preciosos em preparar novamente o terreno, e a responsabilidade será nossa.
WILLIAM Q. JUDGE
Aryan Branch Paper, Novembro 1890