O Mistério e o Destino da Lua – W.Q.Judge
Provavelmente nenhum corpo celestial tem recebido tanta atenção dos homens em todas as eras como a nossa Lua. Muitas causas contribuíram para isso. A Lua está perto de nós; ela é um objeto notável e grande no céu; ela ilumina a noite; ela parece ter muito a ver com o homem e seus assuntos. Presságios, feitiços, desejos, oráculos, adivinhações, tradições se aglomeram sempre em torno dela. Seria difícil encontrar uma escritura que não exalte a Lua. A Bíblia Cristã diz que Deus ordenou que o Sol deveria governar o dia e a Lua a noite. A Igreja Romana retrata Maria, a Mãe de Deus, segurando a criança enquanto ela está sobre a lua crescente. O décimo segundo capítulo de Apocalipse se inicia assim:
“Apareceu no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida com o Sol, com a Lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas.”
Outras religiões assemelham-se a essa em Hebraico moderno ao dar grande destaque à Lua.
Até mesmo a ciência não pode escapar o fascínio. O brilho e a proximidade da Lua e todas as suas recorrentes mudanças ajudam a prender a atenção da ciência. Tanto a ciência moderna quanto a antiga se unem em observar a grande luz da noite enquanto ela realiza sua jornada em torno de nós. As nações ajustam suas ações, religiosas e comerciais, pela lua. Os dias de festa da igreja são fixados mais pelo calendário lunar de que pelo calendário solar, pois todas as festas móveis dependem da Lua. Os calendários regem os negócios de crédito, as obrigações e os acordos.
Desde os primeiros tempos, governado de fato pelo movimento da Lua, o calendário tem sido de imenso interesse para o homem. Periodicamente os governantes da Terra tentam reformar o calendário de dias e meses em que ele periodicamente fica incorreto. O atual arranjo de meses com vinte e oito, vinte e nove, trinta e trinta e um dias foi inventado para elaborar um calendário que durasse alguns séculos antes que outro fosse necessário, apenas porque o movimento da Lua não daria doze meses regulares, mas doze meses regulares e um outro pequeno com cerca de seis dias. E quando a atual maneira de cômputo foi introduzida, muitas comunidades de homens na Europa se rebelaram porque pensavam ter sido privados de alguns dias efetivos de vida.
Cesar ordenou uma reforma do calendário tentando usar o Sol, mas com o tempo ele se tornou uma grande confusão. O Papa Gregório XIII ordenou que dez dias fossem eliminados, e depois descobriu que o calendário juliano tinha um erro que somaria três dias em quatrocentos anos – um assunto bem sério. Agora, prevalece o ano gregoriano, exceto na Rússia. Mas, ainda assim, o maior número de homens e o maior número de festivais dependem da Lua e do seu movimento. Se examinarmos os registros relativos à superstição, descobriremos que qualquer que tenha sido o lugar uma vez ocupado pelo Sol, ele foi usurpado pela Lua, deixando uma nação marcadamente adoradora do Senhor do Dia.
A Teosofia moderna, entrando no campo como a unificadora de todas as religiões ao explicar os símbolos e as tradições de cada uma, não está isenta do mistério da Lua. H. P. Blavatsky é nossa única autora de uma teoria sobre o satélite que não poderia ter sido inventada, mesmo com a mais fantástica imaginação. Ela diz que seus professores lhe contaram e nos deixa resolver os detalhes; mas sua teoria suportará a investigação se for tomada como parte de todo o plano evolutivo relatado por ela. Se tivéssemos pensado em escapar dos sonhos e enigmas lunares, estaríamos errados, pois enquanto ela afirma claramente que o corpo anterior da entidade, agora chamada Terra do homem, é a própria Lua em nosso céu, a realidade de um mistério é tão claramente enunciado. O primeiro mistério que ela afirmou revelar – e, de fato, ela é a primeira a afirmar – é que em um período remoto, quando não havia a Terra, a Lua existia como um globo habitado, morreu e imediatamente jogou para o espaço todas as suas energias, não deixando nada a não ser o veículo físico. Essas energias giraram e condensaram a matéria no espaço próximo e produziram nossa Terra; a Lua, sua mãe, prosseguindo em direção à desintegração, mas obrigada a girar em torno de seu filho, essa Terra. Isso nos proporciona um propósito e uma história para a Lua.
Mas então, a mesma mensageira diz que a “superstição” que prevalece por tanto tempo e tão amplamente quanto à má influência da Lua, como a insanidade, na necromancia, e similares, deve-se ao fato de que a Lua sendo um cadáver intimamente associado à Terra, lança sobre essa última, tão próxima a ela, uma corrente de emanações nocivas que, quando aproveitada por pessoas perversas e conhecedoras, pode ser usada para prejudicar o homem. Depois, a mesma escritora prossegue afirmando que ainda permanecem não reveladas seis misteriosas doutrinas ou fatos, e todos relacionados à Lua.
Seria inútil especular sobre esses mistérios, pois já foi descoberto que, a menos que os Grandes Iniciados falem, a grande maioria dos homens só consegue modificar, aumentar ou misturar, com sua imaginação, aqueles fatos e doutrinas dos quais ouviram falar. Mas quanto ao destino da Lua, H.P.B., falando em nome desses Iniciados, diz claramente o que será do nosso satélite.
No primeiro volume de Doutrina Secreta, numa nota de rodapé na página 155 da primeira edição, ela escreve:
“Ambos [Mercúrio e Vênus] são muito mais velhos que a Terra, e, antes que essa última alcance sua sétima Volta, sua mãe Lua terá se dissolvido no ar, assim como as “luas” que os outros planetas têm, ou não têm, conforme o caso, já que há planetas que têm várias luas – um mistério mais uma vez que nenhum édipo da astronomia tem resolvido.”
Isso está muito claro em relação a nossa Lua, mas que, no entanto, levanta outro mistério quanto ao assunto das luas em geral. Se a correspondência é uma lei da natureza, como eu acredito firmemente, então seria de acordo com ela que a Lua, considerada como o antigo corpo da Terra, se dissolvesse com o passar do tempo e, à medida que a evolução prossegue com uniformidade, o progresso ascendente de nossas Raças e da Terra deveria ser marcado pelo desvanecimento gradual e final da Lua, conforme H.P.B. afirma. É provável que antes do fim de nossa sexta ronda, sendo a ronda relativa a Buddhi, o veículo do espírito, o corpo da Lua, que era o veículo de prana e do corpo astral, tenha desaparecido. Um dos mistérios não revelados tem muito provavelmente a ver com os usos e propósitos de e para toda a massa de matéria que agora constitui a massa da Lua. Mas quaisquer que sejam esses mistérios, o destino de nosso satélite é muito claramente afirmado, em benefício daqueles que têm confiança nos professores de H.P.B., e que estão dispostos a levar a chave da correspondência para o desbloqueio da fechadura da Natureza.
WILLIAM BREHON (WQJ)
Path, Junho 1894