O Kali Yuga – W.Q.Judge
Um correspondente está confuso sobre esse assunto a partir da declaração em “What is Theosophy” do Sr. Old, de que estamos no meio da Idade do Ferro ou Idade Negra. Sem dúvida, sua frase que está na página 28 do livro é enganosa, porque “Kali” significa “negro”, e por isso parece que ele quis dizer que estamos agora no meio do Kali Yuga, mas lendo mais adiante, vê-se que ele se refere apenas à primeira parte da Idade. Kali Yuga tem uma duração de 432.000 anos, de acordo com o antigo cálculo indiano, e agora estamos chegando ao final de seus primeiros cinco mil anos, sendo esse período preliminar contado a partir da morte de Krishna. De passagem, pode-se pensar justamente que este período de cinco mil anos é a origem da ideia dos hebreus de que o mundo tem mais ou menos essa idade, assim como os gregos no tempo de Sólon imaginavam que todas as coisas tinham de ser consideradas a partir de seu grande cataclismo anterior, mas que os sacerdotes Egípcios mostraram a Sólon ser incorreto, pois, conforme eles disseram, “houve muitos grandes cataclismos antes disso”.
Em “A Doutrina Secreta” pode se encontrar o seguinte: “a quarta sub-Raça estava em Kali Yuga quando foi destruída”. Isto não é passível de objeção com base no fato que nós, que não somos essa Raça, estamos em Kali, pois cada Raça passa pelas várias Idades de forma individual; daí que as Raças anteriores, tanto primárias quanto as sub-Raças, passam por todos os quatro períodos, desde o Áureo até o Negro.
Deve resultar disto, e tal é o ensino mais antigo sobre o assunto, que as Raças podem estar simultaneamente na Terra, passando cada uma individualmente por um ou outro dos períodos. Algumas podem estar na Idade de Ouro e outras na Idade Negra. No momento, admite-se que os Arianos estão na era Kali, mas certas Raças na sua infância não estão. No atual período de cinco mil anos, sabemos que Raças terminaram inteiramente seus Kali Yuga e deixaram de existir. Isso aconteceu com aquela que governava uma parte do continente americano e, portanto, para ela em particular, seu Kali Yuga deve ter começado mais cedo do que o nosso. Os Hotentotes também desapareceram durante a nossa história recente. Este método de considerar o assunto vai esclarecê-lo, deixando apenas para ser resolvido em que período cada Raça se encontra, ou o início e o fim deste. E, como foi dito, para os Arianos o grande Kali Yuga começou há (aproximadamente) cinco mil anos atrás.
Descobrir quando começou o grande Kali Yuga para a Raça principal, incluindo todas as suas sub-Raças, seria impossível, pois não há meios, e H.P.B, a única até agora que tinha acesso àqueles que mantinham os registros, disse que não seriam dados números precisos sobre esses assuntos. Mas ela, e também aqueles por trás dela que lhe deram tanta informação, estabeleceram, de acordo com a filosofia da natureza, que uma divisão em quatro era a ordem de evolução no que diz respeito à vida das Raças e, portanto, que cada Raça principal, qualquer que fosse seu número no conjunto das sete, seria obrigada a passar pelos quatro períodos desde Satya até Kali, enquanto as Raças menores tinham a mesma divisão, apenas que cada parte seria mais curta do que as pertencentes à Raça principal como um todo. Por esse motivo, parece claro que os números para as várias eras (ou Yugas) são apenas os que se relacionam e regem as sub-Raças ou Raças menores.
A sobreposição de Raças quanto a seus Yugas (ou eras) específicos pode ser facilmente vista na história. Quando os brancos vieram para a América, os índios estavam na idade da pedra em alguns lugares, usando martelos de pedra, lanças, facas e flechas. Mesmo na América do Sul civilizada, os sacerdotes usavam facas de pedra para o uso em sacrifícios. O Índio vermelho da América do Norte teria permanecido totalmente na idade da pedra se não o tivéssemos mudado até certo ponto enquanto procedíamos como instrumentos para sua aniquilação. Assim sendo, temos exemplos em nossa própria época de duas Raças em eras diferentes vivendo no globo ao mesmo tempo.
O acima exposto é o desenho geral delineado em “A Doutrina Secreta”, onde há inúmeras páginas mostrando que quando chega uma nova Raça, seja uma sub-Raça ou uma Raça principal, isso ocorre enquanto muitos membros da Raça antiga ainda existem, uma gradualmente subindo em desenvolvimento enquanto a outra decai. Elas sombreiam uma à outra assim como a noite ao dia, até que, por fim, predomina ou a noite ou o dia. Este período de sombreamento é proporcionado em relação às eras e, no cálculo bramânico, descobrimos que eles adicionam crepúsculos e amanheceres, já que antes de uma nova era deve haver o amanhecer, pois a seguir virá o crepúsculo. O crepúsculo de um será o amanhecer do outro.
Usando o Zodíaco com o propósito de considerar a questão das Eras, descobrimos que, grosso modo, o tempo que o Sol leva para girar por todo o círculo é de 25.800 anos, como mostra o movimento retrógrado dos pontos equinociais. Esse é o modelo para a órbita anual que produz as quatro estações e, por sua vez, as quatro estações simbolizam as quatro Eras. Suas durações serão em proporção ao maior curso do Sol. Entre as estações do ano, o inverno corresponde à Era de Kali, porque nessa estação tudo fica duro e frio assim como na Era Negra, a luz do Sol Espiritual sendo diminuída, a dureza e a frieza da materialidade aparecem na vida moral. Agora, se o período sideral for dividido por quatro, temos o número de 6450 anos, ou o período de cinco mil anos adicionado do crepúsculo ou do amanhecer necessário. E foi ensinado pelos Egípcios que a cada quarto de círculo do grande caminho do Sol havia mudanças causadas fisicamente pela inversão dos polos e, espiritualmente, deve haver mudanças devidas ao desenvolvimento interno da Raça humana como um todo. Enquanto o filósofo materialista pensa que as mudanças seriam devidas ao movimento dos polos, o ensinamento da Loja é que as mudanças internas espirituais causam as físicas através dos meios apropriados; nesse caso, esses meios estão nos movimentos dos grandes corpos celestes. É assim porque o cosmo todo está no mesmo plano, com todas as suas partes operando juntas, cada uma a seu modo.
Os estudantes terão, por enquanto, de ficar satisfeitos com a afirmação geral de que estamos em Kali Yuga. As características do momento atual mostram-no claramente, pois enquanto a civilização física está no alto, o lado espiritual dela está baixo e escuro, e o egoísmo é a regra predominante. Nenhum de nós pode realmente supor saber mais do que isso, pois enquanto temos o cálculo bramânico e as palavras de “A Doutrina Secreta”, no entanto, isso é acreditar nas palavras alheias, plausíveis, é claro, e também concordantes com todas as outras partes do sistema, mas ainda não são de nosso próprio conhecimento. O início dessa era e o momento de seu fim são desconhecidos para nós; mas a teoria geral é suficiente para nossas necessidades atuais, é perfeitamente clara, e uma suposição tão boa quanto qualquer uma das que a ciência nos dá, certamente melhor do que as implausíveis ideias do teólogo. A cada dia estamos recebendo mais e mais provas de uma coisa, que é do imenso período durante o qual o homem esteve na Terra, e com isso, todas as grandes durações cíclicas fornecidas pelos antigos e modernos teosofistas de peso têm direito à crédito.
Também podemos ficar confortáveis com a teoria transmitida de que em Kali Yuga um pequeno esforço leva a resultados muito maiores do que o mesmo quando é feito em uma era melhor. Nas outras eras, as taxas de todas as coisas são mais lentas do que nesta; portanto, o mal agora parece rápido; mas da mesma forma, o bem também é muito mais rápido de fato e de alcance do que em um tempo mais lento.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, Novembro 1894