O Teste do Interesse teosófico – W.Q.Judge
O teste do interesse teosófico é exatamente o teste de qualquer outro tipo de interesse – o que se fará para promovê-lo. E aqui, obviamente, duas considerações surgem.
A primeira é que nenhum ato que seja superficial, ou casual, ou para o benefício pessoal, pode de forma alguma avaliar a devoção a uma causa que é tanto impessoal quanto profunda. É fácil dissertar sobre a glória de um sistema tão elevado como a Religião Sabedoria. É tão fácil proclamar a própria apreciação de seus princípios. Não é difícil assistir pontualmente às reuniões de uma Sociedade Teosófica e absorver prontamente, talvez com proveito, o que quer que seja de verdade que lá seja revelado. Pode não ser fácil, mas é inteiramente possível, ler cada conceituado trabalho teosófico, extrair seu pensamento principal e digerir bem o aprendizado adquirido. E, no entanto, muito evidentemente, os dois primeiros são apenas exercícios da voz, os dois últimos apenas da mente. Se a Teosofia fosse uma questão de respiração ou de cérebro, esta participação não seria apenas salutar, mas extensa.
Na realidade, no entanto, a Teosofia dá apenas uma leve bênção ao simples palestrante ou ao mero estudante. Isso, de forma alguma, desvaloriza uma homenagem sincera ou uma investigação zelosa, mas está tão empenhada no trabalho de transferir o interesse dos níveis inferiores para os superiores do ser, tão ansiosa para excitar o entusiasmo altruísta pelo bem altruísta que, subordinando seu próprio avanço, ficará mais entusiasmada com a chance de fazer avançar a humanidade, que seu ideal é o homem que está se esforçando para ajudar os outros ao invés do homem que está se esforçando para chegar à frente. E, como acredita que o organismo atual mais eficaz para expandir a verdade, vivificar a motivação e elevar a raça é a Sociedade Teosófica, a Teosofia considera como seus melhores expositores, aqueles que mais trabalham para a Sociedade que fundou.
Alguém com mais impetuosidade do que de percepção irá imediatamente clamar: “mas isto é novamente apenas a Igreja e sua motivação”! De modo algum. Não se trata de triunfos doutrinários, de crescimento de seitas, de templos rivais, de comparações missionárias. Os elementos de distinção social, de nível clerical e de influência legislativa estão todos ausentes. Não há sequer a ambição de forçar a Sociedade para a área de organizações religiosas reconhecidas, pois ela não apenas renuncia à competição com as Igrejas, mas é desqualificada para tal competição por sua falta de credo, sua mínima coerência organizacional e sua vigorosa afirmação do individualismo na opinião e no treinamento.
Além disso, antes de assumir o perigo de um possível eclesiasticismo, deve-se lembrar que o padrão aplicado à Sociedade Teosófica é exatamente o mesmo que se aplica a um teosofista, – o desprendimento no trabalho para os outros. Se o membro individual se mantém fiel à doutrina de que ele melhor realiza os objetivos teosóficos através da eliminação da ambição e, portanto, da sua substituição por uma vida altruísta, da mesma forma que a Sociedade. O autoenaltecimento, como uma busca, poderia desenvolver um Mago Negro; poderia até desenvolver uma Igreja; mas nunca poderia desenvolver uma Sociedade Teosófica.
Dos três objetivos contemplados na fundação da S.T., o primeiro e o mais importante é a fomentação da Fraternidade Universal. Mas isto não significa apenas um reconhecimento sentimental de uma fraternidade humana geral; significa uma beneficência ativa para o resto da família. E se visões corretas, ideais mais elevados, motivos mais valiosos, princípios mais belos e aspirações mais saudáveis são mais alcançáveis através do sistema teosófico do que através de outros sistemas de fé ou moral, o teosofista é o que melhor serve os interesses de seus irmãos, ao fornecer a esse sistema toda a divulgação possível. E se, ainda mais, ele aceita o fato de que os Mestres adotaram a Sociedade como seu canal para transmitir e partilhar a Verdade à família humana, ele chega à conclusão de que, ao trabalhar para a Sociedade, ele está mais estreitamente em conformidade com com seus desejos, beneficiando mais eficientemente a Raça da qual ele faz parte, usando, esperemos, o melhor meio para o bem espiritual. Por isso, em termos práticos, o mais verdadeiro teosofista atualmente é aquele que mais está interessado na Sociedade Teosófica.
E agora se chegou ao ponto em que o teste de interesse teosófico pode ser aplicado a um teosofista. O que ele está fazendo para dar suporte à Sociedade? Não quantas vezes ele coloca F.T.S. [Fellow of the Theosophical Society]depois de seu sobrenome; não quão alta sua voz está em bênção aos Fundadores; não quão calorosas em elogios suas cartas aos membros ativos; não quantas reuniões ele assiste, ou livros ele lê, ou problemas intrincados no ocultismo ele explora; não que comida ele come, ou roupas ele veste, ou opiniões ele proclama; mas o que ele está fazendo para ajudar? Ele pode ser abundante em frases e eflorescente em discurso gracioso, ou, como alguns, misteriosamente pesaroso das falhas de outros que assim impedem suas próprias evoluções; ele pode dobrar as mãos diante das necessidades da Causa, e piedosamente confessar confiança na interposição de Mahatmas, ou pode apontar que o tempo não é propício, ou que um sistema espiritual não reivindica dinheiro, ou que fazer uma coleta degrada a Teosofia; ele pode sugerir que ao dar seu nome ele faz melhor do que dar dinheiro, ou que parece ainda não haver brecha para a expressão de seu zelo, ou que suas simpatias estão conosco e que sua única aspiração é estar no caminho, e ainda assim o teste inexorável, inexorável por estar na natureza das coisas e, portanto, não suscetível a bajulação ou a humilhação, está diante dele, – O que ele está fazendo para ajudar?
A segunda consideração citada no início é que o teste do interesse teosófico não corresponde à quantidade absoluta de ajuda dada, mas aquela quantidade relacionada à capacidade do doador. Cinco centavos, cinco horas, constituem uma proporção muito maior dos meios ou do tempo disponível de um homem, do que cinco mil dólares ou cinco meses dos de outro. Portanto, não são os números, mas seus valores proporcional que determinam o nível de interesse. Assim também em cada outro interesse humano. O quanto se cuida de uma relação, de um amigo, de uma causa filantrópica, de um objeto público, é demonstrado de forma inequívoca pela proporção do dispêndio que ele dedica a isso. E isto não significa uma profusão descuidada de bens supérfluos, mas o corte de indulgências pessoais, apreciadas mas dispensáveis, para o melhor sustento de uma causa, em outras palavras, o auto sacrifício. O auto sacrifício também não significa o sacrifício de outras pessoas, como alguns pensam; o suportar com grande coragem privações que não se compartilham, a consagração de dinheiro ou o tempo ou o esforço que realmente pertence à própria família ou círculo pessoal. E a medida em que isso é feito, mede a proporção entre seu amor por essa causa em relação a seu amor por si mesmo.
Agora, a Teosofia não é irracional ou capciosa. Ela não aconselha nenhum homem a passar fome, ou a usar trapos, ou de zombar das condições de vida na civilização em que ele nasceu e que expressam as leis da sociologia. Ela não recomenda o monaquismo, nem a reclusão, nem a parcimônia, nem a falta de espírito público, nem a abnegação de amenidades sociais, nem a unilateralidade, nem o fanatismo, nem a insensatez sob qualquer nome. Devemos ser homens, homens racionais, homens civilizados, homens cultos, e não promover nenhuma causa nobre, muito menos a mais nobre, se formos antissociais, pouco práticos ou excêntricos. Mas embora tudo isso seja verdade, é igualmente verdade que nos próprios assuntos privados, naquela esfera de pertences pessoais fora das reivindicações dos outros e onde a liberdade absoluta é inquestionável, o teste do interesse teosófico é diretamente aplicável. É, como já foi demonstrado, a proporção de tempo, dinheiro, esforço literário ou outro, que se está disposto a desistir pela Sociedade Teosófica.
Não poucos leitores sinceros podem honestamente perguntar: “o que tem para eu fazer?” A resposta a isso é mostrar o que deve ser feito e, então, cada um pode se perguntar como e em que medida pode ajudar. Primeiro, há o amparo à própria Sociedade Teosófica, à sua ação e trabalho orgânico. Dificilmente alguém é demasiadamente pobre para tornar-se um membro geral e ajudar com $ 1,00 por ano. Se puder contribuir mais, pode fazê-lo com a certeza de que suas necessidades crescentes em impressão, postagem, circulação de documentos, publicidade, os programas ocasionais de promoção da teosofia, para os quais se pede ajuda direta, constituem um canal amplo para qualquer doação. Depois há a Literatura Teosófica. Suas revistas precisam ser mantidas, sustentadas pelas assinaturas daqueles que as consideram úteis, sustentadas por aqueles que tanto as têm para sua própria leitura, e as mandam para lugares onde podem ser de benefício. Os panfletos, os folhetos, os documentos podem ser comprados pelos dedicados e enviados a indivíduos onde há suspeita de terem interesse crescente, ajudando assim a tornar possíveis novos folhetos e proporcionando a circulação daqueles agora impressos. Os livros teosóficos podem ser apresentados às Bibliotecas Públicas e, conforme mostram os fatos atuais, com a certeza de que serão lidos. Em conversas privadas, uma ideia ou frase teosófica pode ser solta, o suficiente para provocar um questionamento, possivelmente uma pesquisa. As aberturas para a transmissão da verdade podem ser utilizadas criteriosamente. Depois, tem a criação de uma sucursal. Cada membro da Sociedade em uma cidade sem uma sucursal pode muito bem julgar sua criação ser sua missão especial. De muitas maneiras e em muitos corações a semente pode ser semeada, confiante de que o tempo, possivelmente curto, trará essa colheita. Como um membro de uma sucursal, ele tem diante de si o trabalho de fortalecê-la, de ampliar sua Biblioteca, de estimular as suas reuniões, de ajuda a fornecer energia e não apenas sustentar, cogitar planos pelos quais sua existência possa ser conhecida pela comunidade e reconhecida como um centro de distribuição de luz. Caso tenha acesso à imprensa, ele pode assegurar a inserção de artigos curtos ou recortes que manterão a temática diante do público. Se for competente para escrever, ele pode apresentar alguma verdade que ele considere poderosa ou corrigir algum erro que ele considere ser comum.
O que posso fazer? Tudo o que você consegue fazer. Uma palavra, uma dica, um folheto, um volume, uma assinatura. Se não lhe custa nada, seu interesse é nada. Se lhe custa pouco, seu interesse é pouco. Se lhe custa até que você se sinta bem, então é que você sente seu interesse. E quando você mesmo, corpo, alma e espírito, se dedica ao fazer, quando se empolga com esse assunto como se não houvesse outro, quando seu prazer está no esforçar-se para sua divulgação, quando você se esquece de si mesmo, perdendo-se nele, então você terá se tornado, em certa medida, o que são os Fundadores, – se pode sequer dizer – o que são os próprios Mestres.
HARRIS P. (WQJ)
Path, Janeiro 1889