O Subjetivo e o Objetivo – W.Q.Judge
UMA AULA DE “A CAVERNA DE PLATÃO” – “República”, Livro VII
Depois disso, eu disse, imagine o esclarecimento e a ignorância de nossa natureza em uma imagem: Eis!, seres humanos vivendo em uma espécie de caverna subterrânea, que tem uma abertura em direção à luz alcançando toda a caverna; eles estão aqui desde as suas infâncias e têm suas pernas e pescoços acorrentados de modo que não podem se mover, e só podem ver diante deles; pois as correntes estão dispostas de modo a evitar que virem a cabeça. A uma certa distância acima e atrás deles a luz de um fogo está brilhando, e entre o fogo e os prisioneiros há um caminho elevado, e você verá, se olhar, uma parede baixa construída ao longo do caminho, como a tela que os marionetistas têm diante deles, sobre a qual eles mostram as marionetes.
Eu vejo, disse ele.
E você vê, eu disse, homens passando ao longo do muro, carregando recipientes que aparecem sobre o muro; e, como você esperaria, alguns dos passantes estão falando e alguns deles estão em silêncio?
Essa é uma imagem estranha, disse ele, e eles são prisioneiros estranhos.
Como nós, respondi; e eles enxergam apenas suas próprias sombras, ou as sombras uns dos outros, que o fogo lança sobre o muro oposto da caverna?
É verdade, disse ele, como eles poderiam ver qualquer coisa além das sombras, se nunca lhes fosse permitido mover a cabeça?
E dos objetos que estavam sendo transportados da mesma maneira, eles só veriam as sombras?
Sim, disse ele.
E se pudessem falar uns com os outros, não achariam que estavam dando nomes ao que estava de fato diante deles?
Uma grande verdade.
E suponha ainda que a prisão tivesse um eco que viesse do outro lado, não teriam eles certeza de que a voz que ouviam era a voz de uma sombra passageira?
Não há dúvida, disse ele.
Não há dúvida que a verdade seria para eles apenas as sombras das imagens.
A palavra consciência é usada por escritores em conexão com o movimento teosófico numa ampla gama de significados. Os átomos são vidas invisíveis, diz H.P.B; e não existe algo como inorgânico no sentido de matéria morta ou sem vida. Cada variedade ou tipo de existência está consciente no seu próprio plano ou de acordo com sua própria condição ou estado; as moléculas de granito tão bem e tão verdadeiramente quanto as da mente humana, embora não do mesmo modo. Cada molécula no cérebro tem sua própria consciência de acordo com seu estado ou plano de existência; e a soma das consciências de suas moléculas é a consciência do cérebro em sua totalidade, considerado como um órgão meramente físico, visível.
Mas o homem astral, o qual podemos assumir como sendo coextensivo com o homem físico, e para corresponder com ele, se não para coincidir com ele, órgão por órgão e molécula por molécula, é a verdadeira sede da sensação; e as sensações são registradas e interpretadas no cérebro. O cérebro astral, o órgão do Kama Manas ou da mente inferior ou pessoal, fornece o elo entre o pensador e o objeto do pensamento; e aqui é superado o abismo que foi reconhecido pelos filósofos em terras ocidentais, pelo menos, como sendo totalmente intransponível. Diz o Presidente Bascom:
“Os fatos devem existir ou no espaço como físicos ou na consciência, como mentais; não há um terceiro estado. Os fenômenos mentais e físicos são separados um do outro de forma ampla e profunda, pelo fato de que uma classe acontece exclusivamente na consciência e a outra exclusivamente fora da consciência (no espaço).”
E ele prossegue:
“Não há impossibilidade a priori que possamos descobrir, que torna a transferência de influência da mente para a matéria, da matéria para a mente, um absurdo. Nossos últimos vestígios de força física no movimento para dentro são encontrados no cérebro; nossos primeiros vestígios no movimento para fora também são encontrados no mesmo lugar. Até agora, o olho só pode detectar mudanças materiais; aqui está ele, o primeiro capaz de capturá-las. Como o último impulso nervoso está ligado ao jogo da consciência… não conseguimos imaginar… Somos profundamente ignorantes de qualquer conexão entre os dois.”
Agora o esquema da Teosofia reconhece uma contínua gradação de poderes, aptidões, estados, princípios – chame-lhes do que quiser – do mais elevado ou mais espiritual, ao mais baixo ou mais material. Em todo esse leque de estados ou de condições nenhum fosso é encontrado; nada há para superar; a consciência é o substrato necessário e a premissa do mais material, e a consciência é o noumenon ou a realidade essencial do mais espiritual.
Não conhecemos nada mais material ou externo do que o corpo físico, material, visível – o assim chamado mundo da matéria; e aqui está o muro interno (invertendo a imagem de fora para dentro) da caverna que Sócrates descreve no diálogo de Platão; o muro sobre o qual recaem as sombras, presumidas pelos prisioneiros como sendo as únicas realidades. De fato, o “muro” pode ser assumido como apenas a cortina do teatro, e as próprias sombras como representando a substância física, conhecida por nós mesmos e por nossos companheiros prisioneiros. Portanto, não pode, realmente, haver neste plano mais baixo (o plano das sombras) nenhuma consciência como a conhecemos; a consciência só olha para o que está embaixo, e não o pode, porque suas correntes voltam seu rosto para cima, para a luz. Diz-se, de fato, que o átomo é o Atma ou sétimo princípio da molécula; mas a molécula é infinitesimal e invisível, e o que é a consciência nesse plano – não podemos proveitosamente imaginar, muito menos saber.
O homem astral ou kâmico está dentro, ou acima, ou superior ao homem físico; e sua apreensão da natureza externa ou física, que chamamos de sensação, é a forma mais baixa de consciência reconhecida por nós. Mas a mera sensação não é inteligente. Assim como o homem astral ou emocional existe dentro (no significado simbólico de “dentro”) do homem físico, e por meio de seu poder de sentir se apodera desse último, assim também existe dentro do astral ou emocional a faculdade ou princípio lógico cuja função é a de separar as sensações e referir cada uma à sua fonte ou causa no mundo externo. Esta faculdade lógica (a mente inferior ou Kama Manas) é a faculdade que percebe, já que relacionada ao mundo ou planos abaixo dela, e sua ação ao tomar posse de e ao interpretar a sensação é chamada de percepção.
Agora suponhamos que consideramos o verdadeiro Ego, a entidade duradoura que queremos dizer quando dizemos “homem”, como um dos prisioneiros representados por Platão como confinados em uma caverna ou gruta; e a matéria externa, física, visível e tangível como as sombras no muro da caverna. O Ego, em sua descida do espírito para a matéria, vai cada vez mais fundo na caverna até alcançar o muro e ser parado. Ele não pode ir mais longe; e deve, impelido pela lei universal e abrangente de ação e reação, refazer seu curso em direção ao espírito. Seu progresso para baixo ou para fora (do espírito, – para dentro em relação à caverna) tem sido sem consciência em qualquer sentido que possamos compreender. Quando ele atinge a parede de sua masmorra e se esforça para ir ainda mais longe, não consegue fazê-lo; seu limite foi atingido. Isso desenvolve uma consciência ininteligente – uma consciência totalmente espiritual e, em nenhum sentido, manásica. Na medida em que retrocede na involução, ainda de frente para o muro, a luz refletida de Manas jogada de volta pelo muro lhe permite interpretar, de certo modo, essas sensações – para distingui-las umas das outras e agrupá-las – mas, a princípio, não para relacioná-las a si mesmo. Aqui está o início da mente inferior, conhecida como Kama Rupa ou Alma Animal na classificação do Sr. Sinnett. Para atingir esse grau de desenvolvimento foram necessárias eras imensuráveis. O primeiro alvorecer das sensações começa quando o desenvolvimento físico já avançou o suficiente para fornecer um veículo adequado para o corpo astral. O desenvolvimento astral continua e molda o mundo físico para seu propósito, até que, por sua vez, ele se torne – ou até que os dois juntos se tornem – um veículo adequado para as faculdades emocionais e perceptivas. Estes passos são fáceis de citar, mas foram dados com lentidão e dificuldade através da primeira, segunda e terceira Rondas de nossa cadeia de globos; e foram repetidos em períodos mais breves, mas imensamente longos nas primeiras Raças dessa nossa quarta Ronda.
À pedra pertence a consciência molecular, não a consciência como a conhecemos mas, apenas assim chamada por analogia; à planta pertence a consciência astral, ou o alvorecer da sensação; ao animal pertence a consciência emocional, ou o alvorecer da percepção. À medida em que essa faculdade ou princípio se torna cada vez mais desenvolvido e ativo, uma nova faculdade começa a agir – o intelecto humano. Manas inferior começa a despertar e a exercer suas funções. O prisioneiro se afastou suficientemente da parede de sua caverna, evoluiu o suficiente em direção à percepção espiritual para ser capaz de reconhecer seus princípios inferiores como sendo ele mesmo, para relacionar a experiência, as sensações, as percepções desses princípios inferiores com sua própria identidade; para distinguir entre o “eu” e o “não eu”. Isso é autoconsciência ou consciência do self; e aqui o estágio humano é atingido no retorno da mônada da sua jornada aos confins da matéria.
Em Discussions of Philosophy and Literature, Sir William Hamilton, um dos maiores filósofos dos tempos modernos, faz a seguinte afirmação:
“Na filosofia da mente, o subjetivo, refere-se ao sujeito pensante, o Ego; o objetivo, o que pertence ao objeto do pensamento, ao Não-Ego. … Esses termos correlativos correspondem à primeira e mais importante distinção da filosofia; eles incorporam a antítese original na consciência do self e do não-self – uma distinção que, de fato, envolve toda a ciência da mente porque a psicologia nada mais é do que a determinação do subjetivo e do objetivo, em si, e em suas relações recíprocas.”
Hamilton não era apenas um profundo pensador e um erudito estudioso; ele também era um mestre na língua Inglesa e capaz de expressar seus pensamentos de forma clara e concisa. A definição acima citada certamente fornece o uso correto desses termos e, para aqueles como o Presidente Bascom, sustentam que um abismo que não pode ser transposto separa amplamente os fatos que acontecem na consciência e os fatos que acontecem no espaço, parece não precisar de mais esclarecimentos. Mas quando eles são usados nas discussões teosóficas, a consideração adicional não deve ser negligenciada, de que o Ego, o Não-Ego, e a ligação entre os dois (o pensador, o objeto do pensamento, e o pensamento) são todos uma coisa só. Isto dá ênfase ao fato de que a fronteira entre o sujeito e o objeto é puramente imaginária; a distinção é lógica e não metafísica. Assim, os termos subjetivo e objetivo são vistos como totalmente correlatos, e o que é subjetivo em uma relação é objetivo em outra, e vice-versa. Essa característica de correlação sempre foi reconhecida mas, torna-se mais significativa e assume novas fases quando vista à luz da constituição setenária do homem.
Os filósofos que pensaram mais profundamente e que exploraram mais integralmente a natureza do homem e os vários problemas da ontologia, mostram por seus postulados e seus argumentos que apreendem implicitamente, se não reconhecem explicitamente, várias das distinções representadas pela classificação setenária de princípios. O Dr. James March, presidente da Universidade de Vermont na época de sua morte, há cerca de cinquenta anos, deixou vários tratados filosóficos que foram posteriormente recolhidos e publicados por seu sucessor na faculdade daquela instituição. Passaram-se muitos anos desde que li o seu trabalho, mas relembro claramente um estudo no qual o culto doutor discute as mudanças engendradas pela aparição de faculdades superiores no curso da evolução. Ele falou da força pela qual um cristal é construído por acreção, por adições regulares do exterior; da força pela qual um germe vegetal se desenvolve do interior; dos poderes de percepção e de locomoção que distinguem o animal, a algumas espécies às quais ele concedeu a faculdade lógica de raciocínio e da faculdade de intuição, ou percepção de verdades e axiomas intelectuais e espirituais, que distinguem o homem das formas inferiores de vida animal. Aqui, na classificação da existência como amorfa, cristalina, vegetal, animal e humana, cada uma superior incluindo todas as inferiores, mas supra adicionando uma nova faculdade, poder, princípio ou crescimento, há claramente um prenúncio do método sobre o qual nosso ensino da constituição setenária da natureza e do homem é desenvolvido.
Como o subjetivo é o que está dentro, e o objetivo é o que está fora, a relação emerge primeiro sobre a evolução do princípio astral, ou Linga Sharira, porque a entidade meramente física é de natureza tão completa que suas diferentes formas dificilmente podem ser consideradas como tendo essa relação umas com as outras. (No entanto, provavelmente existe um setenário na natureza física abaixo do astral, como testemunham terra, água, ar, fogo, etc.; e a terra pode ser na verdade objetiva para o ar). As diferenças que são tão óbvias, orgânicas, inorgânicas, etc., são na verdade manifestações diferentes fundamentadas pelos princípios superiores. Mas quando o princípio astral se desenvolve, a relação surge; isso é, em relação ao corpo físico, e esse último é objetivo em relação ao anterior. Assim, quando o princípio kâmico se desenvolve, ou evolve da potencialidade para a potência, de um estado latente para um de atividade, esta, por sua vez, se torna subjetiva e os princípios inferiores são objetivos para ela. Quando Manas inferior, por sua vez, se torna ativo e subjetivo, ele toma conhecimento inteligente dos princípios inferiores como sendo objetivos, reconhecendo sua identidade consigo mesmo, e então surge a autoconsciência. E quando, por evolução ou treinamento, o Manas superior torna-se ativo, então todo o quaternário, ou Ego inferior, se tornará objetivo em relação a essa faculdade adicional.
Isto é muito bem explicado em um artigo em Lucifer de setembro de 1891 (Vol. IX, p.23 ), conforme segue:
“Esta expansão da consciência inclui um desenvolvimento dos sentidos sutis que abrem para o homem interno novos mundos, pessoas com seus habitantes, e que interdependem um com o outro. O subjetivo torna-se o objetivo, com uma subjetividade ainda mais sutil além, que pode tornar-se novamente objetivo à medida que uma consciência ainda mais espiritual é alcançada pelo lutador em busca de liberdade.”
Na Doutrina Secreta, Vol. I, p.189, H.P.B. diz:
“É lógico que deve haver uma enorme diferença em conceitos como “objetividade” e “subjetividade”, “materialidade” e “espiritualidade” quando as mesmas palavras são utilizadas para diferentes planos do ser e da percepção.“
Este trabalho pretende ser mais sugestivo do que exaustivo; e eu terei cumprido meu propósito se tiver estabelecido a relação do subjetivo para o objetivo de uma forma mais clara, e apontado a direção na qual buscar uma melhor compreensão do lado filosófico de nossa literatura.
ALPHA (WQJ)
Path, Fevereiro 1896