Ocultismo, o que é? – W.Q.Judge
Não só na Sociedade Teosófica, mas fora dela, existem “tyros” (1) no Ocultismo. Eles são amadores em uma bela arte, uma ciência poderosa, um mistério quase impenetrável. Os motivos que os trazem ao estudo são tão diversos quanto o número de indivíduos engajados nela, e tão escondidos até mesmo de si mesmos quanto o centro da Terra do olho da ciência. No entanto, o motivo é mais importante de que qualquer outro fator.
Estes amadores nessa ciência sempre estiveram em toda parte. Nenhuma época ou país ficou sem eles, e eles deixaram para trás muitos livros de nenhum valor concreto. Os de hoje os produzindo agora, pois o impulso irresistível da vaidade os leva a reunir as hipóteses mais ou menos infundadas de seus antecessores, as quais, temperadas com um traço próprio de mistério, são apresentadas à multidão daqueles que desmaiariam adquirindo sabedoria ao preço de custo de um livro. Enquanto isso, o mundo dos verdadeiros ocultistas sorri silenciosamente e prossegue com o laborioso processo de peneirar as joias vivas das massas de homens, pois os ocultistas devem ser encontrados, estimulados e preparados para as próximas eras, quando será necessário poder, e a presunção não servirá para nada.
Mas as pessoas que agora escrevem sobre ocultismo e são competentes para fazer mais do que repetir fórmulas e afirmações não comprovadas dos tempos medievais, são poucas em número. É muito fácil idealizar um livro cheio do assim chamado ocultismo, retirado de livros franceses ou alemães, e depois interromper o leitor de repente dizendo-lhe que não é sábio revelar mais. Os escritos de Christian na França revelam muito sobre iniciações no ocultismo, mas ele honestamente não vai além do que dizer o que ele obteve dos fragmentos em Grego e Latim. Sem embrago, outros o seguiram, repetiram suas palavras sem crédito e, como de costume, pararam na explicação.
(1) noviços, principiantes
Há, além disso, outros que, embora afirmando que existe uma ciência mágica chamada de ocultismo, apenas aconselham o estudante a cultivar a pureza e as aspirações espirituais, deixando que se assume que poderes e conhecimentos virão a seguir. Entre esses dois, os teosofistas do tipo egoísta ou altruísta estão completamente confusos. Aqueles que são egoístas talvez podem aprender pela amarga decepção e triste experiência; mas os altruístas e os sinceros precisam de encorajamento, por um lado, e de aviso por outro. Conforme um Adepto escreveu anos atrás aos teosofistas de Londres: “Aquele que não se sente à altura do trabalho não precisa empreender uma tarefa demasiado pesada para ele”. Isto é aplicável a todos, pois cada um deve ser informado sobre a natureza e o peso da tarefa. Falando dessa coisa tremenda – o ocultismo – Krishna diz no Bhagavad Gita : “Durante um período considerável, essa doutrina se perdeu no mundo…. esse mistério é muito importante.” Não pensamos que a doutrina ainda tenha sido reestabelecida ao mundo, embora esteja na posse de homens vivos – os Adeptos. E, em advertência àqueles que ambicionam o ocultismo com um motivo egoísta, ele declara: “Confusos por muitos pensamentos mundanos, rodeados pelas malhas da perplexidade, dedicados ao gozo de seus desejos, descem ao sórdido Naraka … e por isso seguem para o plano mais baixo do ser.”
Em que consiste, então, o peso da tarefa do ocultista? Na imensidão de seu alcance, assim como na infinitude de seus detalhes. O mero doce e delicioso anseio por Deus por si só não o realiza, nem se encontra progresso em ambicionar o autoconhecimento, mesmo quando, como resultado disso, se encontra iluminação parcial. Esses são excelentes; mas estamos falando de um problema cujo fronte implacável nada rende a não ser força, e essa força deve ser direcionada pelo conhecimento.
O campo não é emocional, pois o jogo das emoções destrói o equilíbrio essencial à arte. O trabalho feito reivindicando recompensa de nada vale, a não ser que tenha produzido conhecimento.
Alguns exemplos mostrarão que na Ciência Oculta existe uma imensidade e uma multiplicidade de divisões não suspeitadas por ocultistas teosóficos incipientes.
O elemento do qual o fogo é um efeito visível está cheio de centros de força. Cada um é governado por sua própria lei. O agregado de centros e as leis que os governam que produzem certos resultados físicos são classificados pela ciência como leis da física, e são absolutamente ignorados pelo ocultista que produz livros porque ele não tem conhecimento deles. Nenhum sonhador ou mesmo filantropo, como tal, jamais conhecerá essas leis. E assim por diante com todos os outros elementos.
Os Mestres do Ocultismo afirmam que uma lei de “transmutação entre as forças” vigora para sempre. Isto irá desconcertar qualquer um que não tenha o poder de calcular o valor até mesmo do menor tremor de uma vibração, não apenas em si mesma, mas instantaneamente após sua colisão com outra, seja ela semelhante ou diferente. A ciência moderna admite a existência desta lei como a correlação de forças. Ela é sentida tanto na esfera moral de nosso ser como no mundo físico e causa mudanças notáveis no caráter e nas circunstâncias de um homem muito além de nós no presente e inteiramente desconhecidas para a ciência e a metafísica.
Diz-se que cada pessoa tem um valor matemático distinto expresso por um número. Esse é um composto ou resultante de inúmeros valores menores. Quando é conhecido, efeitos extraordinários podem ser produzidos não apenas na mente da pessoa, mas também em suas sensações, e esse número pode ser descoberto por certos cálculos mais abstrusos do que os de nossa matemática superior. Com seu uso, a pessoa pode ser feita brava sem motivo e mesmo insana ou cheia de felicidade, de acordo com o que o influenciador deseja.
Há um mundo de seres conhecido pelos Indianos como o dos Devas, cujos habitantes podem produzir ilusões de uma natureza cuja descrição atirariam para a sombra nossos mais desvairados romances. Elas podem durar por cinco minutos e parecerem mil anos, ou podem se prolongar por dez mil anos efetivos. Nesse mundo, o mais puro teosofista, o homem ou mulher mais espiritualizado, não pode ir sem permissão, a menos que o conhecimento e o poder que o impeçam sejam possuídos.
No limiar de todas essas leis e estados de ser perduram forças e seres de caráter horrível e determinado. Ninguém pode evitá-los, pois eles estão no caminho que conduz ao conhecimento e, de vez em quando são despertados ou percebidos por aqueles que, embora completamente ignorantes desses assuntos, ainda persistem em brincar com encantos e práticas necromânticas.
É mais sábio para os teosofistas estudar a doutrina da fraternidade e sua aplicação, para purificar suas motivações e ações de modo que, depois de um trabalho paciente por muitas vidas, se necessário, na grande causa da humanidade, eles possam finalmente alcançar aquele ponto onde todo o conhecimento e todo o poder será deles por direito.
EUSEBIO URBAN (WQJ)
Path, Maio 1890