Os Ensinamentos de um Místico alemão – W.Q.Judge
Nos últimos três números de PATH nós fornecemos a estória do místico alemão Kernning sobre as experiências de um sensitivo. A estória é deliberadamente intitulada “De Sensitivo a Iniciado”. Não pensamos que a intenção fosse mostrar o que é a iniciação final, mas apenas uma das muitas iniciações que temos que sofrer em nossa passagem pela matéria. As provas de Caroline ilustram as que todos nós temos, quer as conheçamos como tal ou não. Ela tinha uma “presença” para irritá-la; nós, embora não sensitivos como ela era, temos dentro de nós influências e presenças potenciais que nos afetam tanto quanto a ela; elas nos levam a ter preconceitos dessa ou daquela maneira, de, às vezes, estarmos confusos na nossa avaliação do que é o rumo real ou a correta visão a adotar e, como ela, enquanto não reconhecermos a causa das nuvens, seremos incapazes de dissipá-las. Mas Kernning era um teosofista, e um daqueles homens que conheciam a verdade em teoria e ao mesmo tempo eram capazes de fazer uma aplicação prática do que sabiam. Há muitos casos hoje em dia em que pessoas sensitivas fazem exatamente o que Caroline fez e têm “presenças” para incomodá-las; mas quantos de nossos teosofistas ou espíritas seriam capazes de expulsar o suposto obcecado, como Mohrland fez na estória? Eles podem ser contados nos dedos de uma mão. A simplicidade com que Kernning escreveu não deve nos enganar em relação ao valor de seu trabalho. Nos seus artigos anteriores, que temos fornecido de tempos em tempos, há muito a ser aprendido por aqueles que olham abaixo da superfície. Por isso, acrescentamos o que segue como uma observação à última estória para mostrar seu significado teosófico.
O diálogo sobre “mantrams” entre o Sábio e o estudante em Path de agosto envolve uma verdade oculta tão importante que vale a pena lembrar que o poder dos mantrams é reconhecido pela escola de ocultistas alemães representada por Kernning. Os leitores de Path que leram atentamente “Alguns Ensinamentos de um Místico Alemão” observaram que, em quase todos os casos, os alunos conseguem um despertar de seu self interno, ou o “renascimento espiritual” por meio de uma palavra, uma frase ou talvez até mesmo por meio de uma letra específica do alfabeto, e que, nos casos em que as pessoas são involuntariamente despertadas, é pensando continuamente em algum objeto ou pessoa, como no caso do jovem marinheiro cuja mente estava continuamente fixada em sua querida ausente e, assim, libertado das limitações de sua própria personalidade. Caroline Ruppert foi despertada de uma permanência mórbida na sua decepção no amor e pelo remorso por sua conduta para com sua mãe inválida, até que esses pensamentos ganharam um poder mântrico sobre ela, e isso exigiu um exercício inteligente com outros mantrams, dados a ela pelo Adepto Mohrland, para restaurar seu autocontrole e proporciona-lhe um desenvolvimento equilibrado. De uma médium, ou mera sensitiva, ela assim tornou-se uma iniciada, capaz de controlar as forças psíquicas por sua própria vontade. Todo “médium” infeliz que é obcecado por elementais e elementares, que fazem da vida um tormento e que é obrigado a cumprir as ordens dessas forças geradas pela vitalidade pessoal, e cujo conflito obscurece o verdadeiro self – como uma fonte cujas águas, não encontrando canal adequado, elevam-se ao nível de sua fonte e assim a afogam – tem em seu poder, pelo exercício inteligente da vontade, obter o comando sobre o que, agora, são obrigados a obedecer. Mas, ao fazer isso, o “motivo certo” deve ser constantemente mantido em vista; deve-se ter o cuidado de manter absolutamente livre de todas as considerações mercenárias ou outras considerações egoístas. Caso contrário, se tornará um mago negro. A condição conhecida como “mediunidade” tem sido objeto de demasiadas condenações indiscriminadas; ela pode se tornar uma bênção, bem como uma maldição, e o objetivo deve ser, não para suprimi-la, mas para desenvolvê-la na direção certa. Os poderes psíquicos, como todas as outras forças naturais, podem se tornar ou um bom servo ou um terrível mestre e, na proporção de sua sutileza em comparação com outras forças, muito maior é seu poder para o bem ou para o mal.
No trabalho psíquico, o poder da união dos esforços tem sido frequentemente enfatizado, e é fácil ver que o poder é desenvolvido quer exercido consciente ou inconscientemente. Assim, com milhares pensando unidos em uma única direção, como no atual despertar teosófico, todos ajudam uns aos outros, emprestando força à vontade uns dos outros, quer estejam conscientes disso ou não. De acordo com este princípio, pareceria que uma palavra usada comumente para fins de mantra tem maior potência sobre as forças do espírito, devido à impressão que causou no Akasha, do que uma palavra não comumente usada, pois no caso da primeira o usuário tem a ajuda da vontade de todos os outros que a usaram.
Em uma de suas obras, “O Maçom“, Kernning dá uma boa explicação do poder dos mantrams, em resposta às restrições de um crítico racionalista, que diz que tal uso de palavras é feito pelos bonzos (iogues) da Índia e devem, portanto, serem totalmente absurdos! Diz Kernning:
“Quem tem um grande amor por uma arte ou ciência não só encontra prazer nos resultados, mas seus próprios nomes têm uma espécie de poder mágico com ele. Quem sente amor por outra pessoa fica comovido sempre que pensa nessa pessoa ou que repete o nome dessa pessoa. O apostador, apesar de todos os argumentos contra sua paixão feitos pelos outros, e muitas vezes, de fato, por si mesmo, sempre vê dados e cartas diante de seus olhos. O bêbado, para ficar com sede, só precisa ouvir o nome do vinho. O avarento vive na visão de seus ducados e dólares, o homem ambicioso sobre a insígnia da fama e os aplausos da multidão, o cortesão sobre suas ordens e títulos, e em todos esses casos, não só as coisas em si, mas os nomes se tornaram idolatrados. Agora, suponha que alguém fosse, em vez de nadar nas profundezas, encher o espírito e a Alma com ideias e nomes exaltados e divinos, será que outros resultados que não os mais benéficos podem acontecer? De fato, poderia uma pessoa ser um cristão genuíno sem a vida de Cristo, e mesmo Seu nome, tornar-se animado em espírito e Alma? Portanto, não há nenhuma prática absurda ou irracional nisso; pelo contrário, cada um deve ser conscientizado desse método simples, que se baseia na natureza humana e é confirmado pela experiência, para que ele possa alcançar os meios de enobrecer sua natureza, de direcionar suas energias para o fim mais elevado de sua vida e alcançar este fim com certeza.”
WILLIAM. Q. JUDGE
Path, outubro 1888