Provas do Self oculto – W.Q.Judge
ATRAVÉS DOS SONHOS
O estado de sonho é comum a todas as pessoas. Algumas pessoas dizem que nunca sonham, mas após análise se descobrirá que elas tiveram um ou dois sonhos e que queriam apenas dizer que seus sonhos eram escassos. É duvidoso que exista uma pessoa que nunca tenha tido um sonho. Mas se diz que os sonhos não são importantes; que ocorrem devido à pressão arterial, ou à indigestão, ou à doença, ou a várias causas. Supõe-se que não sejam importantes porque, olhando para eles do ponto de vista utilitário, não se vê grande utilidade. No entanto, há muitos que sempre fazem uso de seus sonhos e a história, tanto secular quanto religiosa, não deixa de ter registros de benefício, de advertência e de instrução a partir do sonho. O bem conhecido caso do sonho do Faraó das vacas magras e gordas, que permitiu a José, como intérprete, prever e prover contra a fome, representa uma classe de sonhos que não é incomum, mas a visão utilitária é apenas uma de muitas.
Os sonhos mostram conclusivamente que, embora o corpo e o cérebro estejam adormecidos – pois o sono começa principalmente no cérebro e é governado por ele – ainda há um recordador e percebedor ativo que observa a experiência introspectiva de sonhar. Tristeza, felicidade, medo, raiva, ambição, amor, ódio e todas as emoções possíveis são sentidas e percebidas nos sonhos. A utilidade disso no plano desperto nada tem a ver com o fato da percepção. O tempo é medido não de acordo com a divisão solar, mas em relação ao efeito produzido sobre o sonhador. E, como a contagem desse tempo é feita a uma velocidade muito maior do que é possível para o cérebro, conclui-se que alguém está contando. Em todos esses sonhos há uma recordação dos eventos percebidos, e a memória delas é levada ao estado de vigília. A razão e todos os poderes do homem desperto inteligente são usados nos sonhos; e como a emoção, o raciocínio, a percepção e a memória são todos encontrados ainda mais ativos nos sonhos do que na vida desperta, conclui-se que o Self Oculto é quem tem e faz tudo isso.
A porção fantasiosa dos sonhos não invalida a opinião. A fantasia não é peculiar ao sonho; ela também está presente na consciência desperta. Em muitas pessoas a fantasia é tão comum e vívida como em qualquer sonhador. E sabemos que as crianças têm um forte desenvolvimento da fantasia. Sua presença no sonho significa simplesmente que o pensador, estando temporariamente liberado do corpo e das formas ou dos hábitos do cérebro, expande essa faculdade comum. Mas deixando a fantasia de lado, temos o fato de que alguns sonhos apresentam a profecia de eventos por vir. Isso não poderia acontecer sem a existência de um Self Oculto interno que vê claramente o futuro e o passado num eterno presente.
NA CLARIVIDÊNCIA
A clarividência desperta não pode ser negada. Os estudantes de Teosofia sabem ser uma faculdade do homem e sua prevalência na América é tanta que não demanda grandes provas. Há a clarividência de eventos passados, dos que virão e dos que estão acontecendo.
Perceber eventos que aconteceram nos quais o clarividente não teve parte nem foi informado, significa que algum outro instrumento além do cérebro é usado. Isso deve ser o Self Oculto. Ver e relatar eventos que depois acontecem leva à mesma conclusão. Se o cérebro é a mente, ele deve ter participado de um evento passado que ele agora relata, seja como ator ou como ouvinte de outro que estava presente mas, como nos casos citados ele não tinha nenhuma conexão como ator, então segue-se que ele recebeu o relatório de algum outro percebedor. Esse outro é o Self Oculto porque o verdadeiro caso de clarividência exclui qualquer relato de uma testemunha ocular.
Por outro lado, quando o clarividente está lidando com um evento que está em andamento à distância, é necessário que um percebedor que se lembre esteja presente para fazer o relato, pois o cérebro e seus órgãos da visão e da audição estão muito distantes, mas como o clarividente relata corretamente o que está acontecendo, é o outro Self Oculto que vê o evento, faz a ponte entre ele e o cérebro e imprime a imagem nos órgãos do corpo.
A SENSAÇÃO DE IDENTIDADE
Se a lembrança é a base para a sensação de identidade contínua ao longo da vida, e se o cérebro é o único instrumento de percepção, então existe uma série inexplicável de lacunas a serem contabilizadas ou colmatadas, mas admitindo o Self Oculto, não existem lacunas.
Nascemos sentindo que somos nós mesmos, sem um nome, mas usando mais tarde um nome por conveniência. Respondemos ao desafio dizendo “este sou eu” – o nome que segue apenas por conveniência para com a outra pessoa. Essa identidade pessoal permanece apesar de adormecermos todas as noites e, até então, nos tornemos inconscientes. E sabemos que, mesmo quando um longo período é apagado da memória por queda, golpe ou outra lesão acidental, o mesmo sentimento de identidade atravessa essa lacuna e continua o mesmo “eu”, idêntico ao ponto de onde a memória volta a agir. E apesar de anos de vida com toda sua multiplicidade de eventos e experiências se passaram, deixando apenas uma pequena quantidade de lembranças, nós ainda nos reconhecemos como aquela pessoa sem nome que veio à vida há tantos anos atrás. Nós não nos lembramos do nosso nascimento nem do nosso batismo e, se somos apenas um pacote de experiência material, um mero produto do cérebro e da lembrança, então não devíamos ter identidade, mas sim uma constante confusão. Sendo o contrário, e sendo a incessante identidade pessoal sentida e percebida, a conclusão inevitável é que somos o Self Oculto e que o Self está acima e além do corpo e do cérebro.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, agosto 1894