Reencarnação de animais – W.Q.Judge
Muito pouco foi dito sobre a questão se a teoria da reencarnação se aplica ou não aos animais da mesma forma que ao homem. Sem dúvida, se os membros Brâmanes que conhecem bem as obras em sânscrito sobre o assunto em geral, fossem publicar seus pontos de vista, teríamos finalmente uma grande quantidade de material para reflexão e encontraríamos muitas pistas sobre o assunto nas teorias e alegorias hindus. Até mesmo o folclore hindu indicaria muito. Sob todas as “superstições” populares, grande parte da verdade pode ser estar ocultada quando o conceito comum é examinado à luz da Religião-Sabedoria. Um bom exemplo disso, no plano material, pode ser encontrado no novo tratamento proposto para a varíola. A antiga superstição era de que todos os pacientes com aquela doença deviam ser tratados e mantidos na escuridão. Mas a prática foi abandonada pelos médicos modernos. Recentemente, porém, alguém teve o comum “flash” e decidiu que, talvez os raios químicos do sol tivessem algo a ver com o assunto, e começou a testar o vidro vermelho em todas as janelas onde se encontravam os pacientes com varíola. Foi relatado o êxito, sendo a teoria a de que a doença era uma em que os raios químicos lesionavam a pele e a saúde tal como o fazem as queimaduras solares comuns. Aqui vemos que, caso o novo procedimento venha a se provar correto, uma antiga superstição estava baseada numa lei da natureza. Da mesma forma, o folclore de um povo tão antigo como o Hindu merece ser examinado com o objetivo de descobrir a verdade oculta. Se ele possuir tais conceitos sobre o destino dos animais, uma análise cuidadosa poderá fornecer ideias valiosas.
Olhando para a questão à luz das teorias teosóficas, vemos que existe uma grande distinção entre o homem e os animais. O homem reencarna como homem porque chegou ao topo da escala atual da evolução. Ele não pode voltar atrás, pois seu Manas é demasiadamente desenvolvido. Ele tem Devachan porque é um pensador consciente. Os animais não podem ter Manas tão desenvolvido e, por isso, não podem ser autoconscientes no mesmo sentido que o homem é. Além de tudo isto, o reino animal, sendo inferior, tem ainda o impulso de ascender a formas mais elevadas. Mas aqui temos a declaração inequívoca dos Adeptos através de H. P.B. que, embora possivelmente os animais possam subir mais alto no seu próprio reino, não podem, nessa evolução, ascender ao estágio humano, uma vez que nós atingimos o ponto médio ou de inflexão na quarta Ronda. Sobre este ponto H.P.B. tem, no segundo volume da Doutrina Secreta, pág.196, a seguinte nota de rodapé:
Ao chamar os animais de “sem alma”, não se está desprovendo o animal, da espécie mais humilde à mais elevada, de uma “alma”, mas apenas de uma alma-Ego sobrevivente consciente, ou seja, aquele princípio que sobrevive ao homem e reencarna num homem semelhante. O animal tem um corpo astral que sobrevive à forma física durante um curto período; mas a sua Mônada (animal) não reencarna na mesma, mas numa espécie superior e, claro, não tem “Devachan”. Tem as sementes de todos os princípios humanos em si mesmo, mas eles estão latentes.
Aqui é feita a distinção acima anunciada. É devido à alma-Ego, isto é, a Manas com Buddhi e Atma. Encontrando-se estes princípios latentes no animal, e fechada a porta do reino humano, eles podem ascender a espécies superiores, mas não ao nível do homem. Claro que também não significa que nenhum cão ou outro animal jamais reencarne como cão, mas que a mônada tem tendência a ascender a uma espécie superior, qualquer que seja essa, sempre que tenha passado além da necessidade de mais experiência como “cão”. Sob a posição que a autora assume, seria natural supor que a forma astral do animal não durasse muito, como ela diz, e daí que as aparências ou aparições astrais de animais não são comuns. Isto é fato. Já ouvi falar de alguns poucos, muito poucos casos em que um animal predileto apareceu após a morte, mas mesmo o campo prolífico do espiritualismo não há muitos casos do gênero. E aqueles que aprenderam sobre o mundo astral sabem que os seres humanos assumem naquele mundo a forma de animal ou outras coisas com que mais se assemelham em índole, e que este tipo de aparição não se limita aos mortos, mas é mais comum entre os vivos. É por este tipo de indícios que os clarividentes conhecem a própria vida e o pensamento da pessoa diante deles. Foi sob a aplicação desta lei que a Swedenborg viu tantas coisas curiosas na sua época.
A objeção baseada no imenso número de animais vivos e mortos pedindo um fornecimento de mônadas nessa fase pode ser atendida dessa forma. Embora se afirme que não podem entrar mais mônadas animais no estágio do homem, não se diz nem se deduz que o fornecimento de mônadas para o reino animal tenha parado. Elas ainda podem estar chegando de outros mundos para a evolução entre os animais desse globo. Não há nada de impossível nisso, e fornecerá a resposta à pergunta, de onde vêm as novas mônadas animais, supondo que todas as atuais esgotaram aqui o número total de espécies superiores possíveis? Também é bem possível que as mônadas animais possam ser transportadas para outros membros da cadeia da Terra antes do homem, com o objetivo de se desenvolverem, o que diminuiria o número das suas aparições aqui. Porque o que mantém o homem aqui por tanto tempo é que o poder de seu pensamento é tão grande a ponto de fazer o Devachan durar em torno de quinze séculos para todos – com exceções – e para uma certa quantidade que desejam “o céu”, um Devachan, de enorme duração. Os animais, no entanto, sendo desprovidos de Manas, não têm Devachan, e devem ser forçados a seguir para o planeta seguinte da cadeia. Isso seria consistente e útil, pois dá-lhes uma oportunidade de desenvolvimento em prontidão para o momento em que as mônadas daquele reino começarem a ascender a um novo reino humano. Eles não terão perdido nada mas, ao contrário, serão os beneficiados
WILLIAM BREHON (WQJ)
Path, abril 1894