A Cura de Doenças – W.Q.Judge
Entre todos os assuntos que chamam a atenção da raça, doenças mortais e as necessidades do estômago, vêm logo após a autopreservação. Se não continuarmos vivendo, não poderemos fazer o trabalho que pensamos que há para fazer; se nós permanecermos com fome, perderemos a capacidade de trabalhar adequadamente ou de nos divertir e, por fim, chegaremos à porta da morte. De alimentos ruins ou escassos segue uma série de males físicos, geralmente chamado de doença. A doença chega até nós também através do excesso de alimentos. Assim, esses males nos atacam por todos os lados; mesmo quando nossa alimentação é correta e suficiente, descobrimos que nós nos tornamos vítimas porque nosso Carma, estabelecido por nós mesmos em alguma vida anterior, ordena que entremos nesta vida prejudicados pela mancha hereditária devido à maldade ou aos erros de nossos pais e mães. E os registros da ciência mostram que o defeito no sangue ou na linfa pode saltar muitas vidas, atacando com virulência alguma geração muito distante da origem. Que surpresa então, que a cura de doenças é um assunto tão empolgante para todos! O cristão sabe que é decretado por Deus Todo-Poderoso que Ele visitará os pecados dos pais sobre os filhos, até mesmo a terceira e quarta gerações, e o não crente vê que, por algum poder na natureza, a penalidade é sentida até o momento.
Tudo isso tem dado às escolas de cura mental e às assim chamadas “metafísicas” uma forte atração sobre os medos, os sentimentos, os desejos e os corpos daqueles a quem eles se dirijam, e especialmente nos Estados Unidos. Que há mais atenção dada ao assunto na América parece verdadeiro para aqueles que estiveram do outro lado do Atlântico e notaram quão pequena é a proporção de pessoas que sabem alguma coisa sobre o assunto. Mas nos Estados Unidos, em cada cidade, muitos que conhecem essas escolas e praticam seus métodos podem ser encontrados. O porquê de ter mais força aqui pode ser deixado para conjecturar, já que o ponto em consideração é o motivo pelo qual ela tem alguma força. É algo como a medicina patenteada. Ofereça uma cura às pessoas para seus muitos males, e elas a aceitarão; ofereça-a barata, e elas vão usá-la; ofereça-a como um método fácil, e elas vão apressar-se na sua busca sob certas condições. A cura metafísica é fácil para alguns porque declara, primeiro, que não precisa pagar dinheiro aos médicos por medicamentos; segundo, que os líquidos médicos e os medicamentos podem ser dispensados; e terceiro, que é facilmente aprendida e praticada. As dificuldades que surgem das necessidades da lógica não estão presentes para aqueles que nunca a estudaram, mas são um tanto fortes para aqueles que raciocinam corretamente; mas isso não é usual para a maioria. Eles vêem certos efeitos e aceitam a causa assumida como a correta. Mas muitas pessoas nem mesmo investigarão o sistema, porque pensam que ele exige que eles postulem a inexistência do que veem diante de seus olhos. As declarações citadas no PATH de março, da revista mensal Christian Science, são impedimentos no caminho de tais mentes. Se eles pudessem ser induzidos para apenas tentar o método oferecido para a cura, poderia resultar a crença, porque os efeitos, de fato, seguem com frequência. Mas a mente popular não está a favor de “cura pela mente”, e mais destaque é dado nos jornais diários aos casos de morte por ela do que por curar. E sempre aparecem relatórios muito detalhados de casos como um em março, quando “curadores da fé”, a fim de restaurar a vida, foram rezar sobre o cadáver de um dos membros de uma família que acredita.
Durante uma recente viagem por este país, do Atlântico ao Pacífico e de volta, eu tive a oportunidade de encontrar centenas de discípulos dessas escolas, e descobri que, em quase todos os casos, eles não eram viciados em lógica, mas ignoravam tranquilamente teses muito simples, satisfeitos com o fato de que, se as curas foram realizadas, a causa alegada deveria ser a certa, e, quase sem exceção, negavam a existência do mal, da dor ou do sofrimento. Havia uma concordância de testemunhos de todos para mostrar que a ideia dominante em suas mentes era a cura de seus males corporais e a continuidade da saúde. A ênfase não estava na beleza da santidade ou no valor de um sistema moral correto e de vida correta para eles e para a comunidade, mas sobre a cura de suas doenças. Assim, concluiu-se forçosamente que todas essas escolas existem porque as pessoas desejam estar bem, mais do que desejam ser boas, embora não se oponham ao bem, se isso trouxer a plenitude.
E, de fato, não é preciso ser bom para se obter o benefício dos ensinamentos. É suficiente ter confiança para afirmar com ousadia que isso não existe e que isso não tem poder de ferir alguém. Eu não digo que os professores da “ciência” concordam nisso comigo, mas somente que, se você é bom ou mau, os resultados seguirão a prática firme do método preconizado, independentemente das ideias dos professores.
Pois na pura cura mental, em comparação com sua congênere “a Ciência Cristã”, você não têm que acreditar em Jesus e nos evangelhos, mas os mesmos resultados são reivindicados, porque Jesus ensinou que para o que quer que você tenha rezado com fé, você o deverá alcançar.
A pesquisa científica revela que os corpos de nossa raça estão infectados por estigmas que causam quase todas as nossas doenças, e escola após escola de medicina tem tentado e ainda tenta encontrar o remédio que eliminará a sujeira no sangue. Isto é científico, já que procura a verdadeira causa física; a cura metafísica diz que cura, mas não pode provar que a causa é destruída e não meramente atenuada. Que há algum espaço para dúvida, a história nos mostra, pois ninguém negará que muitos pais que pensam e agem de forma pura trouxeram à tona crianças que exibiram algum estigma oriunda de um ancestral distante. Evidentemente, seus pensamentos puros individuais não tinham poder sobre o notável desenvolvimento universal da matéria utilizada por esses corpos humanos.
Voltando agora à medicina, encontramos o Conde italiano Mattei promulgando um sistema de cura pelo uso homeopático de sutis essências vegetais que podem muito bem fazer refletir aqueles que tornariam universal a cura apenas pela fé ou pela mente. Alguns de seus líquidos irão instantaneamente parar a dor violenta, restaurar a visão, devolver a audição e dissipar os crescimentos anormais. Seus glóbulos farão um homem bêbado sóbrio e, dados à ama que amamenta uma criança, curará a criança que toma o leite. O bêbado e a criança não pensam ou não têm fé nos remédios, mas eles curam. Não é melhor restaurar a saúde por meios físicos e deixar os altos ensinamentos dos curandeiros, todos tirados de fontes bem conhecidas, para o benefício de nossa natureza moral?
E se os curandeiros cristãos lerem estas linhas, eles não deveriam se lembrar que quando o profeta restabeleceu o filho da viúva, ele usou meios físicos – o seu próprio magnetismo aplicado simultaneamente a cada parte do corpo da criança, e de Jesus, quando a mulher que tocou sua roupa foi curada, perdeu uma parte de sua vitalidade – não seus pensamentos – pois ele disse que a “virtude” tinha saído dele? O Apóstolo também forneceu instruções de que, se alguém estivesse doente, os outros deveriam se reunir em torno da cama e ungir com óleo, impondo suas mãos enquanto isso: terapias físicas simples, seguindo uma longa linha de precedentes antigos que remonta a Noé. Moisés ensinou como curar doenças e como desinfetar lugares onde o contágio espreita. Não foi pelo uso do elevado poder do pensamento, mas por processos considerados por ele como eficazes, tal como aspergir sangue de animais abatidos em circunstâncias peculiares. Sem declarar a favor ou contra seus métodos, é muito certo que ele supunha que por esses meios, forças sutis de natureza física seriam liberadas e trazidas à tona no caso em questão.
A massa de testemunhos ao longo dos tempos é contra a cura de doenças físicas pelo uso das forças superiores na Natureza, e a razão, outrora bem conhecida, mas posteriormente esquecida, é a dada no artigo de janeiro de 1892, – que as doenças são manifestações grosseiras se manifestando ao sair da natureza para que se possa purificar. Detê-las, por meio do pensamento ignorantemente dirigido significa jogá-las de volta para a sua causa e replantá-las em seu plano mental.
Este é o verdadeiro motivo de nossa objeção às práticas metafísicas de cura, as quais nos distinguimos das suposições e da chamada filosofia sobre a qual esses métodos alegam se basear. Pois insistimos claramente que os efeitos não são provocados por qualquer sistema filosófico mas pelo uso prático, embora ignorante, de processos psicofisiológicos.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, setembro 1892