Coisas comuns ao Cristianismo e à Teosofia – W.Q.Judge
Que a Sociedade Teosófica não se opõe ao cristianismo em sua forma dogmática ou pura é facilmente demonstrado. Nossa constituição o proíbe e o segundo objetivo da Sociedade também. As leis da nossa entidade dizem que não haverá cruzada alguma contra nenhuma religião, excetuando tacitamente, é claro, as poucas religiões degradadas e bestiais agora no mundo; o segundo objetivo prevê um estudo completo e gratuito de todas as religiões sem preconceitos, e sem ódio ou sectarismo. Também a nossa história, ao propor observar as sociedades filiadas em todo o mundo compostas de cristãos, refuta a acusação de que a Sociedade como tal se opõe ao cristianismo. Um exemplo é suficiente, o da conhecida Loja Escocesa, que declara em suas Transactions no. IX, “Teosofistas que são cristãos (e são a maioria na Loja Escocesa) … portanto, os cristãos que são sinceros e que sabem o que significa a Teosofia, só podem ser Teosofistas ….” Caso os membros desta Sociedade tenham dito o contrário, foi por ignorância e por um pensamento displicente, pois, pelo mesmo motivo, também deveríamos nos opor a todas as outras religiões que tivessem quaisquer formalidades, e tanto o bramanismo como o budismo têm tanto formalismo quanto o cristianismo. Portanto, de modo geral, a Sociedade não é e não pode ser contrária ao cristianismo, embora possa levar a uma negação de algumas teorias, criadas pelos homens daquela Igreja.
Mas isso não é mais do que ramos do cristianismo sempre fizeram, nem é um perigo tão grande para o cristianismo formal quanto os novos padrões de crítica que se infiltraram na Igreja.
Também não pode que a Teosofia, como um todo, se oponha ao cristianismo, na medida em que a Teosofia é, e deve ser, a única verdade subjacente a todas as religiões que já estiveram entre os homens. Um exame cuidadoso e sincero de todas as religiões do mundo revela o fato de que, em relação à ética, em relação às leis, em relação aos preceitos ou exemplo ou efeito sobre a vida cotidiana, ou mesmo em relação à cosmogonia e cosmologia, os outros livros religiosos do mundo são os mesmos na maioria dos aspectos que os dos cristãos, e que a distinção entre a religião desta última e as outras é que ela afirma uma exclusividade para si mesma e uma espécie de intolerância doutrinária não encontrada nas outras.
Se tomarmos as palavras e o exemplo de Jesus como o fundador do cristianismo, se vê imediatamente que não há qualquer antagonismo entre essa forma de religião e a Teosofia. De fato, existe a mais completa concordância. Não são trazidas novas éticas pela Teosofia, nem podem ser, pois a ética correta deve ser sempre a mesma. Em seus sermões e provérbios se encontra a ética fornecida por Buda e por todos os outros grandes Mestres de todas as eras. Estas não podem ser alteradas, mesmo que elas representem para os fracos mortais um ideal que seja muito difícil de ser vivido e, às vezes, impossível de realizar na vida cotidiana. Que estas regras de conduta estabelecidas por Jesus são reconhecidamente difíceis de serem seguidas é demonstrado no comportamento dos governos cristãos uns em relação aos outros e nas declarações de seus altos prelados de que a religião de Jesus não pode ser a base para relações diplomáticas nem para o governo de estado. Assim, descobrimos que o refúgio de tudo isso adotado pelo teólogo está na declaração de que, embora outras e mais antigas religiões tivessem verdade moral e ética semelhante às de Jesus, a religião cristã é a única em que o fundador afirmava que não era apenas um professor de Deus, mas também era ao mesmo tempo o próprio Deus; isto é, que antes de Jesus uma grande quantidade de bem foi ensinada, mas Deus não achou conveniente, até o tempo de Jesus, descer encarnado entre os homens. Uma tal declaração parece ter necessariamente o efeito de gerar intolerância a partir da natureza elevada e exclusiva da alegação feita. Mas uma análise do bramanismo mostra que Rama também era Deus encarnado entre os homens, embora ali a doutrina não tenha despertado a mesma quantidade de intolerância entre seus crentes. Portanto, deve ser verdade que, nem sempre, é uma consequência necessária de uma tal crença que a intolerância agressiva e exclusiva irá crescer.
As crenças e os ensinamentos do cristianismo não são todos sustentados pelas palavras de Jesus, mas suas doutrinas estão sempre de acordo com a Teosofia. Há certamente uma ampla diferença entre o mandamento de Jesus de ser pobre e de não ter nem pessoal nem dinheiro e o fato da posse pela Igreja de vastas somas de dinheiro e imensas quantidades de propriedades, e com a retirada de altos salários pelos prelados, e com o sentar-se de prelados sobre tronos no meio dos governantes da Terra, e na ida à guerra e na cobrança de impostos pelo Papa e por outros chefes religiosos. A coleta de dízimos e sua aplicação pela lei e pela prisão, no caso do clero protestante, não é de modo algum coerente com as palavras de Jesus. Mas todas as questões inconsistentes acima citadas, fazem parte do cristianismo atual, e se, nesses aspectos uma diferença ou antagonismo a eles deve parecer surgir dos ensinamentos teosóficos devemos admiti-lo, mas não podemos ser censurados. Se voltarmos aos tempos dos cristãos primitivos e comparar esse cristianismo com a forma atual, vemos que a oposição da Teosofia dificilmente poderia ser acusada, mas que o verdadeiro antagonismo, então, seria entre essa forma inicial da religião e seu formato atual. Ela tem sido alterada de tal forma que as duas dificilmente são reconhecidas como sendo as mesmas. Tanto é assim que existe hoje uma seita cristã chamada “Cristã Primitiva”.
Cada um tem sempre o direito de se opor a interpretações teológicas, se elas estiverem erradas, ou se distorcem o ensino original ou introduzem novas noções. A este respeito, há uma crítica da Teosofia e dos teosofistas. Mas os pensadores no mundo que não são membros desta Sociedade e não inclinados à Teosofia, fazem a mesma coisa. Huxley e Tyndall e Darwin e uma multidão de outros tomaram a posição que, pela simples força da verdade e dos fatos, foi contra a visão teológica, Galileo também, vendo que a Terra era redonda e se movia, assim o disse, mas os teólogos, pensando que tal crença tendia a destruir o poder da Igreja e a perturbar teorias bíblicas, o fizeram se retratar, correndo o risco de perder sua liberdade e sua vida. Se as antigas visões de teologia ainda estivessem em vigor com o Estado por trás delas, os triunfos da ciência teriam sido poucos e ainda poderíamos estar imaginando que a Terra seria plana e quadrada e que o sol giraria em torno dela.
A investigação teosófica revela, para a visualização do estudante, o fato de que em todas as eras surgiram grandes professores de religião e que todos eles tinham dois métodos de instrução. Primeiro, aquele para as massas de pessoas, era simples e fácil de entender; era sobre ética, desta vida e da próxima, sobre a imortalidade e o amor; sempre forneceu a Regra de Ouro. Buda era um desses professores, e não pode haver controvérsia sobre o fato de que ele morreu séculos antes do nascimento de Jesus. Ele declarou sua religião como sendo a do amor. Outros fizeram o mesmo. Jesus veio e ensinou a ética e o amor, com a proeminente exceção de sua profecia de que ele veio para trazer uma espada e a divisão, conforme registrado nos Evangelhos. Há também um episódio que acentua uma grande diferença entre ele e Buda; trata-se do banquete onde ele bebeu vinho e também produziu algum para outros beberem. Em relação a esse assunto, Buda sempre ensinou que deveríamos nos abster rigidamente de todas as bebidas alcoólicas inebriantes. O Segundo método era o método secreto, ou esotérico, e que Jesus também usou. Encontramos seus discípulos perguntando a ele por que ele sempre usava parábolas fáceis com o povo, e ele respondeu que aos discípulos ele ensinou os mistérios, ou os assuntos mais ocultos de religião. Isto é o mesmo que prevalecia com os santos mais antigos. Buda também teve seus ensinamentos particulares para certos discípulos. Ele até fez uma distinção entre seus seguidores pessoais, formando classes em suas fileiras, dando a uma as regras mais simples, para a outra as complexas e difíceis. Portanto, ele deve ter seguido a antiga prática de ter duas práticas de ensinamentos, e esta deve ter sido uma consequência de sua educação.
Aos doze anos de idade ele veio ao templo e debateu com os rabinos eruditos sobre questões de direito. Assim, ele deve ter conhecido a lei; e é necessário perguntar o que essa lei era e é. Era a lei de Moisés, cheia das coisas mais técnicas e ocultas e nem tudo pode ser encontrado nas palavras simples dos livros. Os livros hebraicos são uma vasta mina de códigos deliberadamente elaborados de tal forma e isso deve ser levado em conta por todos os estudantes. O que deveria ser conhecido pelos cristãos, mas não o é, pois eles preferem não entrar nos mistérios dos judeus. Mas Jesus sabia disso. Sua observação de que “nem uma fração ou um fragmento da lei passaria” mostra isso. A maioria das pessoas interpretam isso simplesmente como retórica, mas não é isso. As frações e os fragmentos fazem parte dos livros e compõem o código da Cabala ou o significado oculto da lei. Este é um amplo sistema por si mesmo e não foi inventado após o tempo de Jesus. Cada letra também é um número e, assim, cada palavra pode ser, e é, de acordo com uma regra bem conhecida, transformada em alguma outra palavra ou em um número. Assim, um nome será parte de uma suposta estória histórica, mas quando lido pelo código, torna-se um número de algum ciclo ou evento ou um sinal do Zodíaco ou outra coisa bem diferente das meras letras. Assim, o nome de Adam [Adão] é composto de três consoantes, A, D e M. Estas significam, pelo sistema codificado, respectivamente “Adão, Davi e Messias”. Os judeus também sustentavam que Adão, por causa do seu primeiro pecado, teria que reencarnar, e reencarnou, como Davi, e mais tarde viria como Messias. Voltando às Revelações, encontramos vestígios do mesmo sistema nas observações sobre os números da besta e do homem. A Cabala ou lei oculta é da mais alta importância, e como a religião cristã é uma religião hebraica, não pode ser devidamente estudada ou compreendida sem a ajuda proporcionada pelo ensino secreto. E a Cabala não está morta ou desconhecida, mas tem muitos tratados sobre ela escritos em diferentes idiomas. Ao utilizá-la, nós encontraremos no Antigo Testamento e nos registros de Jesus uma completa e singular concordância com a Teosofia.
Examine, por exemplo, os ensinamentos teosóficos de que existe um segredo da doutrina esotérica, e a doutrina da incapacidade do homem de compreender a Deus. Esta é a doutrina brâmane da inacessibilidade de Parabrahm. No Êxodo há uma história que é absurda para o profano, de Deus dizendo a Moisés que ele não podia vê-lo. Está em Êxodo xxiii, 20, onde Deus diz que Moisés somente podia vê-lo por trás. Trate isto pela regra da Cabala e é simples, mas leia-o superficialmente e você tem um absurdo. Em Êxodos iii, 14, Deus diz que seu nome é “Eu sou o que sou”, isto é, AHYH ASHR AHYH, que tem que ser transformado em seu valor numérico, pois cada letra também é um número. Assim, A é 1, H é 5, Y é 10, H é 5. Havendo duas palavras iguais, eles somam 42. A segunda palavra é A, 1; SH, 300; R, 200 perfazendo 501, que adicionado ao 42 dá 543 como sendo o número de “Eu sou o que sou”. Agora Moisés pelo mesmo sistema perfaz 345 ou o inverso do outro, pelo qual a Cabala mostra que Deus quis que Moisés conhecesse Deus por seu reverso, ou seja, o próprio Moisés. Para alguns isto pode parecer fantasioso, mas como é o método sobre o qual esses livros antigos estão edificados, isso deve ser conhecido para entender o que não está claro e para remover dos livros cristãos a bem-sustentada acusação de disparate e, às vezes, de injustiça e crueldade mostrada nas suas capas. Assim, ao invés de Deus ser ridicularizado atribuindo-lhe uma observação tal como a de que Moisés só conseguia “ver seu lado oculto”, percebemos que sob as palavras está uma profunda filosofia equivalente à da Teosofia, que Parabrahm não é para ser conhecido e que o Homem é uma pequena cópia de Deus através da qual, em algum sentido ou inversamente, podemos ver Deus.
Para os fins desta discussão na linha de comparação, teremos que colocar o cristianismo de um lado e colocar do outro, como representando todo o corpo de Teosofia até onde foi revelada, as outras várias religiões do mundo, e ver o que há, se houver, em comum entre elas. Primeiro vemos que o cristianismo, sendo a mais nova, tomou emprestada suas doutrinas de outras religiões. Agora estamos em uma era demasiada esclarecida para dizer, como fez a Igreja quando Abbé Huc trouxe de volta seu relato sobre o budismo do Tibete, que ou o diabo ou os homens maus inventaram as antigas religiões de modo a confundir e refutar o cristão. Evidentemente, não importa como foi feito, o sistema do cristão é uma mistura de ariano com judeu. Isto não poderia ser de outra forma já que Jesus era judeu, e seus melhores discípulos e os outros que vieram depois, como Paulo, eram da mesma raça e fé. Os patriarcas precursores também, vivendo como o faziam em terras orientais, tiveram suas ideias a partir do que que eles encontraram à sua volta.
Em seguida, um exame muito superficial revelará o fato de que o ritual da Igreja cristã também é emprestado. Tirada de todas as nações e religiões, nem uma parte dela é dessa era ou do hemisfério ocidental. Os brâmanes têm um ritual extenso e elaborado, assim como os budistas. O rosário, há muito presumido pelos católicos como sendo uma coisa própria, existe no Japão por anos incontáveis, e muito antes do ocidente ter alguma civilização, o Brâmane tinha sua forma de rosário. O católico romano cristão vê o padre tocar o sino em determinada parte da missa e o velho Brâmane sabe que quando ele está orando a Deus ele também deve tocar um sino, a ser encontrado em cada casa, bem como no templo. Isto é muito parecido com o que Jesus ordenou. Ele disse que a oração deve ser em segredo, ou seja, onde ninguém pode ouvir; o Brâmane toca o pequeno sino para que, mesmo que houver ouvidos próximo, não ouçam nenhuma palavra, mas apenas o som do sino. O cristão tem figuras de virgem e de criança; o mesmo pode ser encontrado em papiros egípcios e em estátuas esculpidas na Índia, feitas antes do surgimento do cristão. De fato, todo o ritual e as celebrações das igrejas cristãs podem ser encontrados na missa de outras religiões com as quais, no momento, estamos fazendo um comparativo.
Voltando agora à doutrina, encontramos novamente uma concordância completa da parte dogmática do cristianismo com essas religiões mais antigas. A salvação pela fé é ensinada por alguns sacerdotes. Essa é a antiga teoria Bramânica, mas com a diferença de que o brâmane exige fé em Deus como meio, fim e objetivo da fé. O cristão acrescenta a fé no filho de Deus. Uma forma de budismo japonês que se diz ser atribuída a Amitabha, diz que se pode ser salvo pela fé completa em Amita Buda, e que mesmo que alguém reze apenas três vezes para Amita, ele será salvo de acordo com um juramento feito por aquele professor. A imortalidade da Alma já foi ensinada pelos brâmanes. Todo o seu sistema de religião e de cosmogonia é fundamentada na ideia de Alma e da natureza espiritual do universo. Jesus e São Paulo ensinaram a unidade dos seres espirituais – ou homens – quando eles disseram que o céu e o espírito de Deus estavam em nós, e a doutrina da Unidade é uma das mais antigas e mais importantes do esquema bramânico. A possibilidade de chegar à perfeição por meio da religião e da ciência combinadas de modo que o homem se torne um deus – ou a doutrina dos Adeptos e Mahatmas, conforme encontrada na Teosofia – é comum ao Budismo e ao Bramanismo, e não é contrária aos ensinamentos de Jesus. Ele disse aos seus discípulos que eles poderiam, se quisessem, fazer obras ainda maiores – ou “milagres” – do que ele fez. Para fazer estas obras é preciso ter grande conhecimento e poder. A doutrina assume a perfectibilidade da humanidade e destrói a teoria do pecado original; mas longe de estar fora de concordância com a religião de Jesus, ela está em perfeita concordância. Ele orientou seus seguidores para serem perfeitos, iguais ao Pai que está nos céus. Eles não poderiam chegar a essa aptidão, de forma alguma, a menos que o homem tivesse o poder de chegar a esse estado elevado. A aptidão é a mesma encontrada no antigo sistema ariano. Portanto, se nós examinarmos amplamente o campo apenas para o mero dogma ritual ou para a ética, encontraremos a mais completa concordância entre a Teosofia e o verdadeiro cristianismo.
Mas retomando agora algumas doutrinas importantes apresentadas por membros da Sociedade Teosófica sob seu direito de livre investigação e de livre expressão, o que descobrimos? Novidade, é verdade, para a mente do homem ocidental ensinado pela metade sobre sua própria religião, mas nada que seja incomum ao cristianismo. Essas doutrinas podem ser, por ora, tais como a repetida reencarnação ou o renascimento com o propósito de disciplina e de ganho, por recompensa, castigo e engrandecimento do caráter; seguidos de Carma, ou justiça ou compensação exata para todos os pensamentos e atos. Ambas fazem parte do cristianismo, e podem ser encontradas na Bíblia.
A reencarnação tem sido considerada por alguns sacerdotes cristãos como essencial para a religião cristã. O Dr. Edward Beecher disse que via sua necessidade, e o Rev. Wm. Alger reportou seu ponto de vista com o mesmo sentido. Se um cristão insiste em acreditar em Jesus, que veio há apenas dezoito séculos depois de milênios terem passado e homens terem morrido aos milhões sem essa fé, será injusto que eles sejam condenados por não acreditar numa doutrina da qual nunca ouviram falar; daí o cristão pode muito bem dizer que sob a lei da reencarnação, que foi defendida por Jesus, todos aqueles que nunca ouviram falar de Jesus renascerão depois de sua vinda no ano 1 D.C., de modo a aceitar o plano de salvação.
Nos Evangelhos encontramos Jesus referindo-se a esta doutrina como se fosse uma doutrina bem estabelecida. Quando foi abordado pelos discípulos quanto ao possível motivo da punição por cegueira desde o nascimento de um homem da época, Jesus não contestou a doutrina, como ele teria feito caso ele tivesse visto em sua sabedoria, como Filho de Deus, que era pernicioso. Mas em outro momento ele afirmou que João Batista era a reencarnação de Elias, o antigo profeta. Isso não pode ser eliminado dos livros, e é uma doutrina tão firmemente estabelecida no cristianismo, embora agora em descrédito, como o é em qualquer outra. O artigo do Prof. Landsberg mostra o que Orígenes, um dos maiores patriarcas cristãos, ensinou sobre a preexistência de Almas. Esta teoria sugere naturalmente a reencarnação nesta Terra, pois é mais natural que se suponha que a Alma vagueia para estar aqui até que tudo o que a vida pode dar tenha sido obtido, em vez de a Alma vaguear entre outros planetas ou simplesmente cair nesse abruptamente, para ser subitamente elevada ao céu ou atirada ao inferno.
A próxima grande doutrina é o Carma. Esta é a religião da salvação pelas obras, ao invés da fé desprovida de obras. É uma das principais doutrinas de Jesus. Por “por suas obras, conhecê-los-eis”, ele deve ter querido dizer que a fé sem obras é morta. O significado de Carma é literalmente “obras”, e os hindus o aplicam não somente às ações da natureza e às grandes leis da natureza em conexão com a recompensa e a punição do homem, mas também a todos os diferentes trabalhos que o homem possa realizar. São Tiago insiste na religião das obras. Ele diz que a verdadeira religião é visitar os órfãos e as viúvas e se manter afastado do mundo. São Mateus diz que seremos julgados por cada ato, palavra e pensamento. Isto só é possível sob a doutrina do Carma. O mandamento de Jesus de nos abstermos de julgar ou nós mesmos deveremos ser julgados, é uma clara declaração de Carma, assim como o resto do verso que diz que o que nós distribuímos nos será devolvido. Seguindo isso, São Paulo, afirma nitidamente a doutrina assim: “Irmãos, não se enganem; Deus não é zombado”; pois tudo o que um homem semeia, isso também ele ceifará”. A palavra “tudo” inclui cada ato e pensamento, e não permite que se escape das consequências de qualquer ato. Uma declaração mais clara da lei do Carma, aplicada à vida diária, dificilmente poderia ser feita. Indo mais uma vez ao Apocalipse, nas últimas palavras do livro cristão, lemos ao longo de todo o livro que o juízo final procede das obras – em outras palavras – do Carma dos homens. Afirma claramente que tanto na visão, quanto nas mensagens às igrejas, o julgamento passa pelas obras.
Portanto, devemos concluir que a religião de Jesus está em total consonância com as principais doutrinas da Teosofia; é razoável supor que Ele não se oporia mesmo à mais oculta das teorias teosóficas. Nossa discussão deve ter nos levado à conclusão de que a religião do Carma e a prática de boas obras, é em que a religião de Jesus concorda com a Teosofia, e que só assim chegará o desejado dia em que o grande ideal da Fraternidade Universal será realizado, e fornecerá a base comum sobre a qual todas as fés poderão se estabelecer e da qual cada nação poderá trabalhar para o bem e para o aperfeiçoamento da família humana.
WILLIAM Q. JUDGE
Discurso lido ante a S.T.- Aryan (N.Y.), 1894