Cometas – W.Q.Judge
A provável gênese, a constituição, as movimentações e as funções dos cometas têm despertado a máxima atenção dos astrônomos. Com muita frequência eles parecem desafiar as leis que se aplicam a outros corpos celestes. Que as leis que regem os corpos celestes não são todas conhecidas, deve ser admitido após uma breve reflexão. Apenas duas coisas já levantariam dúvidas sobre se os astrônomos modernos estão familiarizados com todas essas leis. A primeira é que, embora as grandes estrelas fixas sejam conhecidas por se moverem a enormes velocidades – que Sirius, por exemplo, está constantemente se afastando de nós com grande celeridade – no entanto, por eras todas elas parecem estar nas mesmas posições relativas e, portanto, são chamadas de estrelas “fixas” em comparação com os corpos planetários mais perto de nós, que se movem com maior velocidade aparente. A outra é que alguns dos planetas que têm uma lua parecem ter uma lei diferente prevalecendo sobre eles, na medida que uma das luas se moverá em direção oposta às outras. Há, no primeiro volume da Doutrina Secreta (primeira edição, págs. 203-209), dois parágrafos que indicam alguns dos pontos de vista dos Adeptos em relação aos cometas.
“Nascido nas profundezas insondáveis do Espaço, a partir do Elemento homogêneo chamado de “Alma Mundial”, cada núcleo de matéria cósmica subitamente lançado à vida nasce sob as circunstâncias mais hostis. Através de uma série de inumeráveis eras ele tem que conquistar para si mesmo um lugar nas infinitudes. Ele gira em círculos entre corpos mais densos e estabelecidos, movendo-se aos trancos, impulsionado em direção a algum ponto ou centro determinado que o atrai, tentando evitar, como um navio arrastado para um canal pontilhado de recifes e rochas submersas, outros corpos que, por sua vez, o atraem ou repelem; muitos perecem, sua massa se desintegra devido a massas mais fortes e, quando nascido dentro de um sistema, principalmente dentro dos estômagos insaciáveis de vários sóis. Aqueles que se movem mais lentamente e são impelidos num curso elíptico estão condenados à aniquilação, mais cedo ou mais tarde. Outros, que se movem em curvas parabólicas, geralmente escapam da destruição devido à sua velocidade.
Alguns leitores muito críticos talvez imaginem que este ensino sobre a etapa cometária pelos quais passaram todos os corpos celestes contradiz as afirmações que acabam de ser feitas quanto ao fato de a Lua ser a mãe da Terra. Eles talvez imaginem que a intuição é necessária para harmonizar os dois. Mas nenhuma intuição é, na verdade, necessária. O que a ciência sabe sobre os cometas, sua gênese, crescimento e comportamento derradeiro? Absolutamente nada! E o que há de tão impossível que um centro Laya – um pedaço de protoplasma cósmico, homogêneo e latente – quando subitamente animado ou acesso, devesse se precipitar de seu leito no espaço e girar pelas profundezas abismais a fim de fortalecer seu organismo homogêneo por meio de um acúmulo e uma adição de elementos diferenciados? E por que um cometa como esse não deveria se estabelecer na vida, viver, e tornar-se um globo habitado!”
Aqui deve ser observado que a mesma guerra que vemos acontecer nesse plano acontece nos planos cósmicos também, sendo afirmado que quando um núcleo de matéria começa a vida, o faz sob as circunstâncias mais hostis. Nesse plano, no momento em que a alma deixa o corpo, a incessante energia vital começa a despedaçar as partículas e separá-las em vidas menores. E é sabido que a teoria sustentada pelos Adeptos é de que, durante a vida, um conjunto de células ou pontos de vida guerreiam contra outro conjunto, e que o que chamamos de morte resulta da destruição do equilíbrio, de modo que a massa de células que trabalham para a destruição, de qualquer constituição na natureza, ganhando a vantagem, começa imediatamente a devorar a outra e, ao final, volta-se contra si mesma para sua própria destruição como massa composta. Ou seja, não que exista uma quantidade distinta de células que são destruidoras, opostas por outra quantidade distinta que são conservadoras, mas que as forças negativas e positivas na natureza estão constantemente agindo e reagindo umas contra as outras. O equilíbrio, ou estado natural, é devido ao equilíbrio entre essas duas forças opostas. A positiva é destrutiva, e se essa força ganha a vantagem, ela converte todas aquelas células sobre as quais tem controle, naquele momento, em destruidoras das células negativas. Portanto, uma célula negativa pode, em algum momento, tornar-se uma célula positiva, e vice-versa. Depois que o equilíbrio é rompido, as forças positivas se acumulam elas mesmas mais células sob sua influência e então, novamente, ocorre uma divisão das duas forças, de modo que uma parte da positiva se torna negativa e, dessa maneira, continuamente dividindo e subdividindo, sucede a chamada morte, como nos é conhecida.
Não foi compreendido o que são cometas, mas estes parágrafos indicam que a opinião dos Adeptos é que eles são o começo dos mundos, ou seja, que vemos em cometas os possíveis começos dos mundos. A frase que inicia as citações – “Nascido nas profundidades insondáveis do Espaço”, etc. – significa que, sendo formado um centro Laya, a massa homogênea de matéria é condensada nesse ponto, e, sendo a energia da natureza propulsionada nela, ela principia uma massa ardente, para se tornar um cometa. Então, ou ela seguirá seu curso na evolução, se estiver acumulando para si matéria de outras massas, ou será atraída por elas para suas ampliações. A dica é dada de que as massas que se movem em parábola, devido à sua velocidade, escapam da destruição porque são capazes de evadir a atração de massas maiores.
No segundo parágrafo citado é dada uma pista para aqueles que provavelmente pensariam que esta teoria não poderia ser consistente com a outra, isto é, que a Lua é a mãe da Terra. Neste parágrafo, pretende-se demonstrar que a inicialização, conforme sugerido anteriormente, de uma massa de matéria do centro Laya é devida à energia impulsionada para dentro daquele centro de um globo moribundo, assim como a Lua. Isto tendo sido iniciado, não importando quais podem ser as andanças da massa em rápido movimento, ela voltará por fim para o lugar a partir do qual começou, quando terá crescido para uma maior maturidade. E isto é indicado na última declaração: “Por que um cometa assim não deveria se estabelecer na vida, viver e tornar-se um globo habitado”?
Esta teoria é tão útil, consistente e razoável quanto qualquer outra que a ciência materialista inventou em relação aos cometas ou a quaisquer outros corpos celestes e, estando perfeitamente em acordo com o resto das teorias apresentadas pelos Adeptos, não pode haver objeção levantada contra ela, de que ela viola o sistema geral que eles delinearam.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, abril 1895