Comunicações de “Espíritos” – W.Q.Judge
A complexidade deste assunto dificulta a sua abordagem. Tão pouco se sabe, e o desafio do poder de saber é tão natural, que qualquer abordagem deve ser insatisfatória. Aqueles “espíritos”, cuja existência como entidades ativas, inteiramente no mundo espiritual, é afirmada pelos seguidores do culto aos mortos, não nos disseram claramente qualquer coisa de valor duradouro. Nos Estados Unidos, eles tiveram precisamente quarenta anos, para entregar as informações, mas, discordando entre si e não mostrando de forma alguma uma consonância de ação mental a título de explicação, até agora nada ainda resultou do próprio âmbito onde o conhecimento deveria existir, caso exista em algum lugar. Se for verdade, como é afirmado por eles, que aqueles que se comunicaram são espíritos conscientes e inteligentes, então são condenáveis todos aqueles que, ao se comunicaram com o homem falharam em levá-lo a uma conclusão correta. No entanto, algumas dessas entidades ou inteligências ou espíritos ou o que quer que eles sejam, por meio de seus médiuns, fizeram afirmações de fatos sobre a natureza e a fisiologia oculta que, em minha opinião, são verdadeiras, mas que não foram aceitas. Falando sozinhos no ar, usando médiuns em transe e psicografia, várias vezes eles falaram e descreveram a luz astral; sustentaram a reencarnação; defenderam o ensinamento de Swedenborg e, em muitos aspectos, manifestaram um completo acordo com explicações teosóficas de natureza oculta; eles demonstraram que materializações de espíritos não são possíveis e que, às vezes, formas coaguladas verdadeiras são suscetíveis de serem fraudes de natureza religiosa, na medida em que não são os corpos dos mortos nem, em qualquer sentido, suas propriedades, que eles são, repetidamente, simplesmente superfícies ou massas nas quais imagens de mortos ou de vivos podem ser refletidas, sendo assim um truque de espírito-ilusionista além de nosso poder. Mas eles não encontraram nenhum apoio e o culto, como um todo, não pensa dessa forma. Se, então, os próprios “espíritos” não conseguiram obter credibilidade, como devo conseguir alguma? Por outro lado, o mundo não conhece esses reinos e não acreditando em explicações teosóficas ou espiritualistas, não creem nem em um nem em outro. Portanto, teremos que nos contentar em apenas dizer o que está na mente, confiando somente no destino e no tempo.
Muitos fatores têm que ser admitidos como presentes nessa pergunta. Alguns deles podem ser descritos, mas muitos ainda devem permanecer inacessíveis.
Primeiro: Há as mentes (a) do médium, e (b) do participante ou dos participantes ou inquiridores. Nenhuma delas pode ficar de fora. Isto deve mostrar imediatamente o quão vasto é o assunto, pois é bem conhecido que a mente e seus poderes são muito pouco conhecidos.
Segundo: Poderes e aptidões psicológicas ocultas de todos os envolvidos. Isso inclui a mente subconsciente ou subliminar das escolas hipnóticas.
Terceiro: A memória física, que é automática, racial, nacional e pessoal. Ela está presente em todos os momentos. Desconsiderá-la é simplesmente cegueira. Rastreá-la é extremamente difícil, requerendo uma mente treinada e um senso interno treinado. É essa memória que faz uma criança agarrar um apoio, mesmo logo depois do nascimento; é o guia durante o sono, quando frequentemente agimos por preservação ou o contrário; ela traz à tona o ódio que um homem de uma raça pode sentir por outra raça após séculos de opressão ou de aversão; ela faz o gato, não importa quão jovem, arcar-se para trás e estender a cauda quando um cão está próximo. Seria uma insensatez dizer que o homem, que é o derradeiro grande produto de toda a evolução material, não possui essa memória física. Mas não ouvi dizer que os espíritos tenham mencionado isso, nem a tenham descrito nem tenham indicado como pode ser rastreada, nem em que medida atua na simulação da inteligência consciente.
Quarto: Forças em sua lei e método totalmente desconhecidas dos médiuns ou dos participantes. Essas constituem a força motriz, a força de escrita, o poder de reflexão e todo o vasto número de forças poderosas ocultas por trás do véu da matéria objetiva.
Quinto: Entidades de algum tipo, invisíveis mas presentes, sejam elas elementais, elementares, sombras, anjos, espíritos da natureza, ou o que for.
Sexto: A Luz Astral, o Éter, o Akasha, o Anima Mundi.
Sétimo: O corpo astral do médium e do participante. Coloquei isto em separado de propósito porque tem sua própria ação automática tanto quanto tem o corpo físico. Com ele, também deve ser observadas sua memória, suas idiossincrasias, seja ela nova para a pessoa em questão ou se é alguma que tem sido usada por mais do que uma vida, embora cada vez em um corpo diferente. Pois se ela for nova para o corpo atual, suas memórias, poderes e peculiaridades serão diferentes daquelas de alguma que passou por várias vidas. De fato, não é tão raro que o corpo astral seja um corpo astral antigo; muitos médiuns têm poderes estranhos porque têm várias memórias astrais distintas devido a tantas experiências anteriores em um corpo astral. Isto, por si só, forneceria um campo de estudo, mas não temos ouvido os “espíritos” falar sobre isso, embora alguns tenham mostrado que experimentam essas personalidades múltiplas.
Por último, há o grande fato bem conhecido por aqueles que estudaram esse assunto a partir de seu lado oculto, de que o self interno pessoal autocentrado no corpo astral tem o poder de não apenas se iludir, mas também de iludir o cérebro no corpo e fazer com que a pessoa pense que uma outra personalidade e inteligência distinta esteja falando para o cérebro de outras esferas, quando é do self astral. Para algumas pessoas, isso é extremamente difícil de entender, pois não conseguem ver como aquilo que, aparentemente, é outra pessoa ou entidade possa ser eles mesmos, agindo por meio da consciência dual do homem. Essa consciência dual age para o bem ou para o oposto, de acordo com o Carma e o caráter do self interno e pessoal. Às vezes parece, ao sensitivo, como uma outra pessoa que lhe pede para fazer isto, aquilo ou outra coisa, ou repreendendo alguma linha de conduta, ou meramente usando alguma expressão inequívoca, ainda que em silêncio. A imagem parece ser outra pessoa, age como outra pessoa, para todos os presentes é uma apreensão fora do cérebro perceptivo e não é de se admirar que o sensitivo pense que é outra pessoa ou que não saiba o que pensar. E se o presente aparecimento vem a ser de algum em que o forte poder psíquico faz parte de sua natureza, a ilusão pode ser ainda maior.
Após uma breve análise para dar início, vamos agora mais além
Durante a história do espiritualismo, muitas comunicações têm sido feitas para e através de médiuns sobre muitos assuntos. Foram fornecidos fatos que não poderiam ser conhecidos pelo médium, algumas ideias sublimes também foram manifestadas, conselhos emanaram, profecias foram proferidas, algumas das questões que afligem a Alma foram tratadas.
Os fatos da morte, do tipo de morte, do lugar onde os testamentos poderiam ser encontrados foram contados, objetivos não realizados dos mortos expressos, peculiaridades pessoais da antiga pessoa mostrados, foram todos aceitos com demasiada facilidade como prova de identidade. Estas coisas não são prova. Se elas o são, então um papagaio ou um fonógrafo pode provar a identidade de um homem. As possibilidades são demasiado numerosas em outros sentidos para que este tipo de prova seja final ou até mesmo idônea. O clarividente vivo pode, ao tomar as medidas mentais necessárias, tornar-se tão cativada pela pessoa clarividentemente criada – ambos estando vivos – a ponto de reproduzir todas as peculiaridades da outra pessoa. Consequentemente, a mesma coisa feita em relação a um falecido pode ser possível da mesma forma para uma entidade clarividente nos relatando do outro lado da morte. Mas, ao mesmo tempo, é fato que o corpo astral do falecido, de vez em quando, conscientemente, toma parte de tais relatos por causa da separação inacabada da Terra e de suas preocupações, ou da sua materialidade grosseira. Em outros casos em que a “casca” astral, como alguns a chamam, está envolvida, ela é galvanizada por espíritos da natureza ou pelo poder de seres vivos, que já foram homens, que são condenados por suas próprias naturezas a viver e atuar na parte mais densa do envelope astral da Terra.
No exato momento em que vamos a um médium, que sempre forma o foco condensador para essas forças e para esse reino, começamos a atrair para nós os restos mortais astrais de todas as pessoas em quem pensamos ou que são suficientemente parecidos conosco ou como o médium para ingressar na linha de atração. Assim, temos na esfera do foco aqueles que conhecíamos e aqueles de quem nunca ouvimos falar, e que nunca ouviram falar de nós quando estavam vivos. Espíritos elementais que atuam como os nervos da Natureza também vêm, e eles, condensados ou mergulhados nas cascas astrais humanas, dão uma nova vida a essas últimas e fazem-nas simular inteligência e ação o suficiente para iludir todos aqueles que não estão adequadamente treinados nessas questões. E, até agora, esse tipo de treinamento ainda é quase desconhecido aqui; não basta ter seguido os procedimentos de centenas de sessões ou centenas de experiências; ele consiste no treinamento real dos sentidos internos do homem vivo. Se a forma astral é coerente, ela proporcionará um relato coerente, mas isso é o que um fonógrafo também faz. Se ele está em parte quebrado ou desintegrado, ele dará, como um cilindro fonógrafo danificado, um relatório confuso ou de repente parar, para ser substituído por outro, melhor ou pior. Ele pode, em hipótese alguma, ir além dos fatos anteriormente conhecidos, ou aqueles conhecidos pelo sentido interno ou externo do médium ou do participante. E como essas cascas astrais formam a maior parte do que chega a um médium, esta é a razão pela qual passados quarenta longos anos lidando com eles ter resultado em tão pouco. Não é de se admirar, então, que a teoria da “casca astral” tem sido muito desgastada por muitos teosofistas, fazendo com que os espíritas pensem que essa é a única explicação que temos. Um medo sensato também tem contribuído para a longa permanência sobre essa teoria porque, com ela, surgem todos os reais e muito presentes perigos para os médiuns e os participantes. Essas coisas galvanizadas são necessariamente desprovidas de consciência e, portanto, só podem agir sobre e a partir do plano moral e de vida mais baixo, assim como pode acontecer com a memória material que sobra da pessoa astral; e isso irá variar de acordo com a essência da vida anterior e não com sua aparência. Assim, podemos ter a sombra de Smith ou de Jones que pareciam aos seus vizinhos terem sidos homens bons, mas que, na realidade, sempre tiveram pensamentos baixos ou perversos e desejos vigorosos que a lei ou a convenção os frustraram de dar-lhes plena expressão. No entanto, no mundo astral, essa hipocrisia está ausente, e o verdadeiro caráter interno se mostrará ou produzirá seu efeito. E em qualquer que seja o caso, a sombra material do melhor dos homens não será tão boa quanto o homem tentou ser, mas terá todas as loucuras e a pecaminosidade interna de seu legado contra as quais ele lutou quando vivia. Por isso, não é possível que esses restos astrais sejam benéficos para nós, não importa quem foi a pessoa a quem eles um dia pertenceram. Eles são apenas roupas velhas, e não o espírito do homem. Eles são menos divinos do que o criminoso vivo, pois ele ainda pode ser uma trindade completa.
Mas, bons pensamentos, bons conselhos, bons ensinamentos, ideias elevadas e sentimentos nobres também vieram desse outro mundo, e não é possível que as “cascas astrais” as tenham dado. Se fossem peneiradas e catalogadas, não são diferentes de o que os homens vivos disseram de sua própria livre vontade e intenção. Elas não são novas, a não ser como meio de comunicação. A estranheza do método serve, muitas vezes, para mais profundamente causar impressão sobre a mente do destinatário. Mas, no entanto, esse extraordinário meio tem agora e mais uma vez, levado os homens a dar-lhes como algo novo em todos os tempos, tão maravilhoso quanto uma revelação, quando o observador sem preconceitos vê que eles são o oposto, são velhos ou triviais e, às vezes, misturados com entusiasmo e insensatez, o resultado de um lado ou do outro, como pode acontecer. Isso lançou um estigma sobre o culto do Espiritualismo e fez o profano rir.
Temos, portanto, que considerar tais comunicações que foram valiosas à época ou para uma pessoa, e benéficas em seu efeito. Pois se nos recusarmos a fazer isso, a arma assim forjada cortará o teosofista que tantas vezes é considerado um crente – como eu mesmo sou – nas comunicações dos Mestres ou Mahatmas que não são menos espíritos, mas ainda mais, porque eles ainda estão em corpos de uma ou outra espécie.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, Outubro 1894