Intoxicaçao astral – W.Q.Judge
Existe algo como ser intoxicado no curso de uma busca imprudente pelo que erroneamente imaginamos ser espiritualidade. Na Bíblia Cristã é muito sensatamente orientado a “provar tudo” e a manter apenas o que é bom; este conselho é igualmente importante para o estudante de ocultismo que pensa que se separou daquelas pessoas “inferiores” engajadas ou em seguir um dogma ou em mesas mediúnicas para mensagens de parentes falecidos – ou inimigos – como é para os espíritas que acreditam na “Terra do eterno Verão” [Céu] e nos “espíritos que retornam”.
A superfície plácida do mar de espírito é o único espelho no qual os reflexos das coisas espirituais podem ser apanhadas impassivelmente. Quando um estudante inicia no caminho e começa a ver manchas de luz brilhando de vez em quando, ou bolas de fogo douradas rolarem por ele, isso não significa que ele está começando a ver o Self verdadeiro – espírito puro. Um momento de paz profunda ou de revelações maravilhosas dadas ao estudante, não é o magnífico momento em que se está prestes a ver seu guia espiritual, muito menos sua própria alma. Nem são borrifos psíquicos de chama azul, nem visões de coisas que depois acontecem, nem visões de pequenas seções da luz astral com suas maravilhosas fotografias do passado ou do futuro, nem o repentino tilintar de sinos distantes como de fadas, qualquer prova de que você está cultivando a espiritualidade. Essas coisas, e coisas ainda mais curiosas, ocorrerão quando você tiver percorrido uma pequena distância no caminho, mas são apenas os meros postos avançados de uma nova terra que é, em si mesma, totalmente material, e apenas um grau do plano da consciência física bruta.
Deve-se precaver do risco de ser levado e intoxicado por esses fenômenos. Devemos observar, anotar e discernir em todos esses casos; colocá-los para referência futura, para serem relacionados a alguma lei, ou para a comparação com outras circunstâncias de tipo semelhante. O poder que a Natureza tem de nos iludir é infinito e, se pararmos nestas questões, ela não nos deixará ir mais longe. Não é que qualquer pessoa ou poder na natureza tenha declarado que se o fizermos assim e assado, devemos parar, mas quando alguém é levado pelo que Boehme chama de “milagres de Deus”, o resultado é uma intoxicação que produz confusão do intelecto. Se, por exemplo, alguém fosse considerar cada imagem vista na luz astral como uma experiência espiritual, ele poderia realmente, após algum tempo, não tolerar contradição alguma sobre o assunto, mas isso seria apenas porque ele estava bêbado com este tipo de vinho. Enquanto ele prosseguia com sua indulgência e negligenciava seu verdadeiro progresso, que sempre depende de sua pureza de motivação e da conquista de seus defeitos conhecidos ou determináveis, a natureza continuava a acumular o estoque de aparências ilusórias com as quais ele se saciava.
É certo que qualquer estudante que se dedique a esses acontecimentos astrais os verá intensificar. Mas se toda a nossa vida fosse dedicada e recompensada por uma enorme sucessão de fenômenos, é igualmente certo que o descartar do corpo seria o fim de todo esse tipo de experiência, sem que tivéssemos acrescentado realmente nada ao nosso estoque de conhecimento verdadeiro.
O plano astral, que é o mesmo daquele dos nossos sentidos psíquicos, é tão cheio de visões e sons estranhos quanto uma floresta virgem sul-americana, e tem que ser bem compreendido antes que o estudante possa ficar lá por muito tempo sem correr perigo. Embora possamos superar os perigos de uma floresta através do uso de invenções humanas, cujo objetivo exclusivo é a destruição física das coisas nocivas encontradas ali, não temos tais ajudas quando pisamos no labirinto astral. Podemos ser fisicamente corajosos e dizer que nenhum medo pode entrar em nós, mas nenhum inquiridor inexperiente ou apenas curioso é capaz de dizer qual efeito resultará para seus sentidos externos a partir do ataque ou da influência encontrada pelos sentidos psíquicos.
E a pessoa que gira egoisticamente em torno de si como a um centro corre maior perigo de se iludir do que qualquer outra, pois não tem a ajuda que vem da união em pensamento com todos os outros inquiridores sinceros. Pode-se ficar em uma casa escura onde nenhum dos objetos pode ser distinguido e ver claramente tudo o que está iluminado no exterior; da mesma forma que podemos ver de fora a escuridão de nossa própria casa – nossos corações – os objetos de vez em quando iluminados no exterior pela luz astral; mas não ganhamos nada. Devemos primeiro dissipar a escuridão interna antes de tentar enxergar na escuridão externa; devemos conhecer a nós mesmos antes de conhecer coisas alheias a nós mesmos.
Esse não parece ser o caminho mais fácil para os estudantes. A maioria deles acha muito mais agradável e, como eles pensam, trabalho mais rápido, olhar para todas estas atrações externas, e cultivar todos os sentidos psíquicos, com a exclusão do trabalho espiritual verdadeiro.
O verdadeiro caminho é simples e fácil de encontrar, é tão fácil que muitos aspirantes a estudantes falham porque não conseguem acreditar que seja tão simples:
“O caminho é através do coração”;
Pergunte lá e não vagueie;
Bata forte, nem hesite,
porque primeiro os sons
que reverberam, parecem zombar de você.
Nem, quando a porta abre amplamente,
Revelando sombras negras como a noite,
É preciso recuar.
Internamente, os mensageiros do Mestre
Esperaram pacientemente:
Esse Mestre é Você mesmo!
William Q. Judge
Path, Outubro 1887