Lembrando as Experiências do Ego – W.Q.Judge
Para muitos parece intrigante que não nos lembremos das experiências do Self Superior durante o sono. Mas enquanto perguntarmos “por que o self inferior não se lembra dessas experiências”, nunca teremos resposta. Há uma contradição na pergunta, porque o self inferior, nunca tendo tido as experiências que são necessárias lembrar, não poderia lembrá-las em momento algum.
Quando o sono chega, o motor e o instrumento da personalidade inferior para, e não pode fazer nada além do que pode ser chamado de atos automáticos. O cérebro não está em uso e, portanto, não existe consciência para ele até que o momento de despertar retorne. O ego, quando assim liberado das correntes físicas, livre de sua dura tarefa diária de viver e trabalhar por meio dos órgãos do corpo, segue desfrutando as experiências do plano de existência que é caracteristicamente seu próprio plano.
Nesse plano, ele usa um método e processos de pensamento, e percebe as ideias que lhe são pertinentes através de órgãos diferentes dos do corpo. Tudo o que vê e ouve (se pudermos usar esses termos) parece invertido do nosso plano. A língua, por assim dizer, é uma língua exótica até mesmo para a língua interna usada quando acordado. Assim, ao reassumir a vida no corpo, tudo o que tem a dizer ao seu companheiro inferior deve ser falado em uma língua exótica e, para o corpo, é um entrave à compreensão. Ouvimos as palavras, mas só de vez em quando obtemos lampejos de seu significado. É algo como a pessoa de língua inglesa que conhece algumas palavras estrangeiras entrando em uma cidade estrangeira e lá só sendo capaz de entender essas poucas palavras quando as ouve entre a profusão de outras palavras e frases que ele não entende.
O que temos que fazer, então, é aprender a língua do Ego, para que não deixemos de fazer uma tradução adequada para nós mesmos. Porque o tempo todo a língua do plano através do qual o Ego flutua de noite é uma língua exótica para o cérebro que usamos, e tem que ser sempre traduzida para ser usada pelo cérebro. Se a interpretação for incorreta, a experiência do Ego nunca será completada para o homem inferior.
Mas pode-se perguntar se existe uma linguagem de fato para o Ego, com seu som e sinais correspondentes. Evidentemente não; pois se houvesse, teria havido um registro dele durante todos aqueles incontáveis anos em que estudantes sinceros têm estudado a si mesmos. Não é uma linguagem no sentido comum. É mais proximamente descrito como uma comunicação de ideias e de experiências por meio de imagens. Assim, através dessa comunicação, um som pode ser representado por uma cor ou um número, e um cheiro como uma linha que vibra; um evento histórico pode ser mostrado não apenas como uma imagem, mas também como uma luz ou uma sombra, ou como um cheiro enjoativo ou um incenso delicioso; o vasto mundo mineral pode não apenas exibir seus planos, ângulos e cores, mas também suas vibrações e luzes. Ou, novamente, o Ego pode ter reduzido suas percepções de tamanho e de distância para seus próprios fins, e, tendo por um tempo a capacidade mental da formiga, pode relatar aos órgãos do corpo um pequeno buraco como sendo um abismo, ou a grama do campo como uma floresta gigantesca. Esses são citados a título de exemplo e não devem ser considerados como descrições rigorosas.
Ao despertar, um grande obstáculo é encontrado em nossa própria vida diária e em termos de fala e de pensamento para a tradução correta dessas experiências, e a única maneira de usá-los com pleno benefício é tornando-nos, por assim dizer, porosos às influências do Self Superior e viver e pensar da maneira que mais provavelmente concretizará o objetivo da Alma.
Isto nos leva infalivelmente à virtude e ao conhecimento, pois os vícios e as paixões anuviam eternamente nossa percepção do significado do que o Ego tenta nos dizer. É por esta razão que os sábios inculcam a virtude. Não é evidente que, se o vicioso pudesse realizar a tradução da língua do Ego, já o teria feito há muito tempo, e não é sabido para todos nós que somente entre os virtuosos podem ser encontrados os sábios?
EUSEBIO URBAN (WQJ)
Path, junho 1890