Meditação, Concentração, Vontade – W.Q.Judge
Esses três, a meditação, a concentração e a vontade chamaram a atenção dos teosofistas talvez mais que quaisquer outros três assuntos. Uma pesquisa de opinião provavelmente mostraria que a maioria dos nossos leitores e membros pensadores preferiria ouvir esses assuntos discutidos e ler orientações claras sobre eles do que qualquer outro em todo o campo. Eles dizem que devem meditar, afirmam ter um desejo de obter concentração, gostariam de ter uma vontade poderosa e anseiam por instruções rígidas, compreensíveis até pelo mais tolo teosofista. É um clamor ocidental por um currículo, um curso, um caminho delimitado, uma linha e uma regra com precisão milimétrica. No entanto, o caminho foi traçado e descrito há muito tempo, de modo que qualquer um pudesse ler as orientações, cuja mente não tivesse sido semiarruinada pela falsa educação moderna, e a memória estragada pelos métodos superficiais de uma literatura superficial e de uma vida moderna totalmente vã.
Dividamos a meditação em dois tipos. A primeira é a meditação praticada em um horário determinado, ou ocasional, seja acintosamente ou por idiossincrasia fisiológica. A segunda é a meditação de toda uma vida, esse único fio de intenção, determinação e desejo que percorre os anos que se estendem entre o berço e o túmulo. Para a primeira, todas as regras e particularidades necessárias serão encontradas nos aforismos de Patanjali. Se estas forem estudadas e não esquecidas, então a prática deve dar resultados. Quantos dos que reiteram o chamado por instrução nessa frente leram aquele livro, apenas para recusá-lo e nunca mais considerá-lo? São em número excessivo.
O misterioso fio sutil de uma meditação de vida é o que é praticado a cada instante pelo filósofo, místico, santo, criminoso, artista, artesão e comerciante, e é perseguida em relação àquilo em que o coração está firmado; raramente definha; às vezes o que medita corre avidamente atrás de dinheiro, fama e poder, olha brevemente para cima e suspira por uma vida melhor durante um breve intervalo, mas o flash passageiro de um dólar ou de um soberano o remete aos seus sentidos modernos, e a meditação anterior começa novamente. Como todos os teosofistas estão aqui no turbilhão social a que me refiro, cada um pode tomar estas palavras para si como quiser. Com certeza, se a meditação de vida estiver estabelecida bem baixa, próximo ao chão, os resultados que fluem para eles serão fortes, muito duradouros e relacionados com o baixo nível em que trabalham. Suas meditações semi-ocasionais darão precisamente resultados semi-ocasionais, na longa sequência de nascimentos recorrentes.
“Mas então” diz um outro, “e a concentração? Devemos tê-la. Desejamo-la; carecemos dela”. Você acha que é um pedaço de mercadoria que você pode comprar ou algo que virá até você apenas por desejar? Dificilmente. Do modo como dividimos a meditação em dois grandes tipos, assim também podemos dividir a concentração. Uma é o uso de um poder já adquirido em uma ocasião fixa, a outra a prática profunda e constante de um poder que se tornou uma consecução. A concentração não é memória, pois esta última é conhecida por agir sem que nos concentremos em nada, e sabemos que há séculos os antigos pensadores chamavam muito justamente a memória de fantasia. Mas, por uma peculiaridade da mente humana, a parte associativa da memória é despertada no exato momento em que a concentração é intentada. É isso que faz com que os alunos se cansem e, ao final, os afasta da busca pela concentração. Um homem senta-se para se concentrar na ideia mais elevada que pode formular, e como uma tropa relâmpago de lembranças de todo tipo de assuntos, velhos pensamentos e impressões vêm diante de sua mente, afastando o grande objetivo que ele selecionou inicialmente, e a concentração termina.
Esse problema deve ser corrigido pela prática, pela assiduidade e pela persistência. Não são necessárias instruções estranhas e complicadas. Tudo o que temos que fazer é tentar e continuar tentando.
O assunto da Vontade não tem sido muito tratado em obras teosóficas, antigas ou novas. Patanjali não aborda isso de forma alguma. Parece ser inferido por ele através de seus aforismos.
A Vontade é universal e pertence não só ao homem e aos animais, mas também a todos os outros reinos naturais. Tanto o homem bom como o mau têm Vontade, a criança e o idoso, o sábio e o lunático. É, portanto, um poder desprovido em si mesmo de qualidade moral. Essa qualidade deve ser acrescentada pelo homem.
Portanto, a verdade deve ser que a Vontade age segundo o desejo, ou, como diziam os pensadores mais antigos, “por trás da Vontade está o desejo”. É por isso que a criança, o selvagem, o lunático e o perverso demonstram tantas vezes uma vontade mais forte do que os outros. O homem mau intensificou seus desejos, e com isso sua Vontade. O lunático tem apenas poucos desejos, e transfere para eles toda a sua força de Vontade; o selvagem é livre de convenções, das várias ideias, leis, regras e suposições às quais a pessoa civilizada está sujeita, e não tem nada que distraia a sua Vontade. Assim, para tornar nossa Vontade forte, devemos ter poucos desejos. Que sejam elevados, puros e altruístas; eles nos darão uma Vontade forte.
A simples prática da Vontade não a desenvolverá per se, pois ela existe desde sempre, plenamente desenvolvida em si. Mas a prática desenvolverá em nós o poder de invocar aquela Vontade que é nossa. A Vontade e o desejo estão no limiar da meditação e da concentração. Se desejamos a verdade com a mesma intensidade que anteriormente desejávamos o sucesso, o dinheiro ou a gratificação, rapidamente iremos obter a meditação e ter concentração. Se desempenhamos todas nossas ações, pequenas e grandes, a cada momento, para o bem de toda a raça humana, como representante do Self Supremo, então cada célula e fibra do corpo e do homem interno será voltada em uma direção, resultando em perfeita concentração. Isso é expresso no Novo Testamento na afirmação de que, se o olho for bom, todo o corpo estará cheio de luz, e no “Bhagavad Gita” é ainda mais claro e compreensivamente dado através dos diferentes capítulos. Em um, ele é belamente colocado como a iluminação em nós do Ser Supremo, que então se torna visível. Meditemos sobre aquilo que está em nós como o Self Superior, concentremo-nos Nele e trabalhemos para Ele como se habitasse em cada coração humano.
WILLIAM Q. JUDGE
Irish Theosophist, 15 de julho de 1893