Mesmerismo – W.Q.Judge
Esse é o nome dado a uma arte, ou à exibição de um poder para agir sobre os outros e a facilidade de receber a ação, que em muito tempo antecede os dias de Anton Mesmer. Outra designação para alguns de seus fenômenos é Hipnotismo, e ainda outro é Magnetismo. A última designação foi dada porque, às vezes, a pessoa sobre a qual se atuava era vista seguindo a mão do operador, como se fosse atraída como limalhas de ferro para um ímã. Hoje em dia, essas são todas usadas por vários operadores mas tem sido conhecidas por muitas denominações; fascinação é uma, psicologizar é outra, mas a quantidade é tão grande que é inútil rever a lista.
Anton Mesmer, que deu maior publicidade no mundo Ocidental ao assunto do que qualquer outra pessoa, e cujo nome ainda está ligado a ele, nasceu em 1734, e alguns anos antes de 1783, ou cerca de 1775, obteve grande destaque na Europa em conexão com suas experiências e curas; mas, como H. P. Blavatsky diz em seu Theosophical Glossary, ele foi apenas um redescobridor. Todo o assunto já havia sido explorado muito antes de seu tempo – na verdade, muitos séculos antes da ascensão da civilização na Europa – e todas as grandes fraternidades do Oriente sempre estiveram de plena posse de segredos relativos à sua prática, que ainda são desconhecidos. Mesmer surgiu com suas descobertas como agente, de fato – embora, talvez, sem revelar aqueles que estavam por trás dele – de certas irmandades às quais ele pertencia. Suas promulgações se deram no último quarto do século, assim como as da Sociedade Teosófica foram iniciadas em 1875, e o que ele fez foi tudo o que podia ser feito naquela época.
Mas em 1639, cem anos antes de Mesmer, um livro foi publicado na Europa sobre o uso do mesmerismo na cura de feridas, cujo título era, “The Sympathetical Powder of Edricius Mohynus of Eburo”. Essas curas, disse-se, poderiam ser feitas a distância da ferida por meio da virtude ou da aptidão diretiva entre essa e a ferida. Essa é exatamente uma das fases tanto do hipnotismo quanto do mesmerismo. E na mesma linha estavam os escritos de um monge chamado Uldericus Balk, que disse que as doenças poderiam ser curadas de forma semelhante, em um livro relativo à “lâmpada da vida” em 1611. Nessas obras, é claro, há muita superstição, mas elas abordam o mesmerismo entremeado com toda a tolice.
Depois que o comitê da Academia Francesa, incluindo Benjamin Franklin, proferiu sentença sobre o assunto, condenando-o em essência, o mesmerismo caiu em descrédito, mas foi ressuscitado nos Estados Unidos por muitas pessoas que adotaram nomes diferentes para seu trabalho e escreveram livros sobre ele. Um deles chamado Dods obteve bastante fama e foi convidado, durante a vida de Daniel Webster, para palestrar sobre ele ante uma quantidade de senadores dos Estados Unidos. Ele chamou seu sistema de “psicologia”, mas era exatamente o mesmerismo, até os detalhes sobre nervos e afins. E na Inglaterra foi também dado muita atenção a ele por um número de pessoas que não tinham renome científico. Eles não lhe deram melhor notoriedade do que antes, e a imprensa e o público em geral os encaravam como charlatães e o mesmerismo como uma ilusão. Tal era o estado das coisas até que as pesquisas, no que agora é conhecido como hipnotismo, trouxeram esse aspecto do assunto mais uma vez à tona e, posteriormente, a mente popular deu mais e mais atenção às possibilidades nos campos da clarividência, da clariaudiência, do transe, das aparições e afins. Até mesmo médicos e outros, que antes refutavam todas essas investigações, começaram a levá-las em consideração, e ainda estão empenhadas nisso. E parece bastante certo de que, seja por qual nome for designado, o mesmerismo certamente terá mais e mais atenção voltada para ele, pois é impossível ir muito longe com experimentos hipnóticos sem encontrar fenômenos mesméricos e ser obrigado, por assim dizer, a proceder com uma pesquisa também em relação a esses.
Os hipnotistas reivindicam injustificadamente o mérito das descobertas, pois mesmo os incultos chamados de charlatães dos períodos acima mencionados citaram o próprio fato apropriado pelos hipnotistas, de que muitas pessoas estavam normalmente – para eles – em estado hipnotizado, ou, como eles chamavam, em estado psicologizado, ou negativo, e assim por diante, de acordo com o sistema particular empregado.
Na França, o Barão Du Potet assombrou a todos com seus feitos de hipnotismo, provocando mudanças tão grandes nos sujeitos quanto os hipnotizadores o fazem agora. Depois de um tempo e depois de ler livros antigos, ele adotou uma série de símbolos esquisitos que, segundo ele, tiveram o efeito mais extraordinário sobre o sujeito, e se recusou a dar esses símbolos a qualquer pessoa, exceto a pessoas comprometidas. Essa regra foi violada, e suas instruções e figuras foram impressas não há muitos anos para a venda com o pretexto de sigilo que consiste em um cadeado no livro. Eu as li e descobri que pouco importam, tendo sua força simplesmente na vontade da pessoa que as usa. O Barão era um homem de força mesmérica natural muito forte e fez com que seus “pacientes” fizessem coisas que poucos outros poderiam fazer. Ele morreu sem fazer com que o mundo científico prestasse muita atenção ao assunto.
A grande questão levantada é se existe ou não algum fluido real libertado pelo hipnotizador. Muitos o negam, e quase todos os hipnotizadores se recusam a admiti-lo. H.P.Blavatsky declara que existe tal fluido e, aqueles que podem ver dentro do plano ao qual ele pertence, declaram sua existência como uma forma sutil de matéria. Isto é verdade, eu acho, e não é de modo algum inconsistente com as experiências de hipnotismo, pois o fluido pode ter sua própria existência ao mesmo tempo em que as pessoas podem estar auto hipnotizadas, simplesmente invertendo seus olhos enquanto olham para algum objeto brilhante. Esse fluido é parcialmente composto da substância astral à volta de cada um e parcialmente dos átomos físicos em um estado finamente compartilhado. Para alguns, essa substância astral é chamada de aura. Mas essa palavra é imprecisa, pois há muitos tipos de aura e muitos níveis de sua manifestação. Essas não serão conhecidas, até mesmo pelos teosofistas da mais disposta mente, até que a raça como um todo tenha evoluído até esse estágio. A palavra, portanto, será mantida em uso por ora.
Esta aura, então, é lançada pelo hipnotizador sobre o indivíduo [hipnotizado] e é recebida por este último em uma área de sua constituição interna, nunca descrita por nenhum experimentador Ocidental porque eles não sabem nada sobre ela. Ela desperta certas divisões internas e não físicas na pessoa sobre a qual se agiu, causando uma mudança de relação entre os vários e numerosos invólucros que envolvem o homem interno e tornando possível diferentes graus de inteligência e de clarividência e afins. Não há qualquer influência sobre o Self Superior (1), o qual é impossível alcançar por tais meios. Muitas pessoas estão iludidas em supor que o Self Superior é o que responde, ou que algum espírito ou o que mais está presente, mas é apenas, por assim dizer, uma das muitas pessoas internas que está falando ou que está fazendo com que os órgãos da fala façam seu ofício. E é justamente aqui que o teosofista e o não-teosofista falham, uma vez que as palavras faladas estão, as vezes, muito acima da inteligência ou do poder comum do sujeito em estado de vigília. Por isso, proponho fornecer rudimentarmente a teoria do que realmente acontece, como é conhecida há séculos por aqueles que vêem com o olho interno, e como um dia será descoberto e admitido pela ciência.
(1) Atma, em seu veículo Buddhi. [Ed.]
Quando o estado hipnótico ou hipnotizado está completo – e muitas vezes quando é parcial – há uma paralisação imediata do poder do corpo de causar suas impressões, e assim modificar as concepções do ser interno. Na vida comum desperta, sem conseguir se desembaraçar, cada um está sujeito às impressões de todo o organismo; ou seja, cada célula do corpo, até a mais ínfima, tem sua própria série de impressões e lembranças, todas as quais continuam a afetar o grande registro, o cérebro, até que a impressão que permanece na célula se esgote completamente. E essa exaustão leva muito tempo. Além disso, na medida em que estamos continuamente adicionando mais a elas, o prazo do desaparecimento da impressão fica indefinidamente postergado. Portanto, a pessoa interna não é capaz de se fazer sentir. Mas, no indivíduo certo, essas impressões corporais são provisoriamente neutralizadas pelo hipnotismo e, imediatamente, segue um outro efeito, que equivale a isolar o general do seu exército e obrigá-lo a buscar outros meios de expressão.
O cérebro – nos casos em que o sujeito fala – é deixado suficientemente livre para permitir que ele obedeça aos comandos do hipnotizador e obrigue os órgãos da fala a responderem. Basta por ora.
Chegamos agora a outra parte da natureza do homem que é uma terra desconhecida para o mundo ocidental e seus cientistas. Por meio do mesmerismo, outros órgãos são postos para trabalhar desconectados do corpo, mas que em estado normal funcionam com e através desse último. Estes órgãos não são reconhecidos pelo mundo, mas existem, e são tão reais quanto o corpo o é – e na realidade, alguns que conhecem, dizem que são mais reais e menos sujeitos à decomposição, pois permanecem quase inalterados desde o nascimento até a morte. Esses órgãos têm suas próprias correntes, circulação se você quiser, e métodos de receber e armazenar impressões. Eles são aqueles que num instante capturam e guardam o menor indício de qualquer objeto ou palavra que surge diante do homem desperto. Eles não apenas os mantêm, mas muitas vezes os entregam, e quando a pessoa está hipnotizada, suas saídas não são impedidas pelo corpo.
Eles estão divididos em muitas classes e graus, e cada um deles tem toda uma série de ideias e fatos peculiares a si mesmo, bem como centros no corpo etéreo com os quais se relacionam. E em vez do cérebro tratar com as sensações do corpo, ele trata com algo bem diferente, e relata o que esses órgãos internos veem em qualquer parte do espaço para onde estão direcionados. E no lugar de ter despertado o Self Superior, você terá simplesmente descoberto um dos muitos conjuntos de impressões e de experiências das quais o homem interno é composto, e o qual está ele mesmo a uma longa distância do Self Superior. Essas imagens variadas, assim apreendidas de todos os lados, são normalmente superadas pelo grande rugido da vida física, que é a somatória das possíveis expressões de um ser normal no plano físico em que nos movemos. Elas normalmente se mostram como lampejos quando temos ideias ou lembranças repentinas, ou em sonhos quando nosso sono pode estar repleto de fantasias pelas quais não conseguimos encontrar um fundamento na vida diária. No entanto, o fundamento existe, e é sempre uma ou outra das milhões de pequenas impressões do dia que passam despercebidas pelo cérebro físico, mas infalivelmente capturadas por meio de outros sensores pertencentes ao nosso duplo astral. Porque este corpo astral, ou duplo, permeia o corpo físico assim como a cor o faz na tigela com água. E embora para as concepções materialistas dos dias atuais, tal sombra nebulosa não é admitida como tendo partes, poderes e órgãos, ela tem tudo isso com um poder e uma apreensão surpreendentes. Apesar de talvez uma neblina, sob condições apropriadas ela consegue exercer uma força igual ao vento invisível quando ela derruba ao chão as construções orgulhosas do homem insignificante.
É, então, no corpo astral o lugar onde se deve procurar a explicação do mesmerismo e do hipnotismo. O Self Superior explicará os voos que raramente fazemos para o reino do espírito, e é o Deus – o Pai – interno que guia Seus filhos pelo longo caminho íngreme até a perfeição. Não deixemos que o conceito Dele seja degradado ao acorrentá-lo ao nível baixo dos fenômenos mesméricos, que qualquer homem ou mulher saudável pode provocar se apenas tentar. Quanto mais grosseiro o operador, melhor, pois assim há mais da força mesmérica, e se fosse o Self Superior o que seria afetado, então o significado disso seria que a matéria grosseira poderia, com facilidade, afetar e desviar o espírito elevado – e isso é contra o testemunho dos tempos.
Um Paramahansa do Himalaia publicou as seguintes palavras: “A teosofia é aquele ramo da maçonaria que mostra o Universo na forma de um ovo”. Colocando de um lado o ponto germinal no ovo, sobram outras cinco divisões principais: o fluido; a gema; a pele da gema; a pele interna da casca; e a casca externa. A casca e a pele interna podem ser tomadas como uma coisa só, restando-nos quatro, correspondentes às antigas divisões de fogo, ar, terra e água. Grosso modo, o homem é dividido da mesma forma e das mesmas divisões surgem todas as suas múltiplas experiências nos planos externos e introspectivos. A estrutura humana tem a sua pele, seu sangue, sua matéria terrosa – chamada de ossos por enquanto, sua carne e, por fim, o grande germe que está isolado em algum lugar do cérebro por meio de uma cobertura completa de matéria gordurosa.
A pele inclui a mucosa, todas as membranas do corpo, os envoltórios arteriais, e assim por diante. A carne abriga os nervos, as assim chamadas células animais e os músculos. Os ossos são independentes. O sangue tem suas células, os glóbulos e o fluido em que flutuam. Os órgãos como o fígado, o baço, os pulmões, incluem a pele, o sangue e o muco. Cada uma dessas divisões e todas as suas subdivisões têm suas próprias impressões e lembranças peculiares, e todas, juntamente com o coordenador – o cérebro – compõem o homem como ele é no plano visível.
Tudo isso tem a ver com o fenômeno do mesmerismo, embora haja quem pense que não é possível que a membrana mucosa ou a pele possam nos dar qualquer conhecimento. Mas é todavia o fato, pois as sensações de cada parte do corpo afetam cada aprendizagem e, quando as experiências das células da pele, ou qualquer outra, são mais evidentes ante o cérebro do sujeito, todos os seus relatos para o operador serão trazidos daí, desconhecidos de ambos, e colocados em uma linguagem para o uso do cérebro, enquanto a condição seguinte não é alcançada. Esta é a Doutrina Esotérica e será, por fim, constatada verdadeira. Porque o homem é composto de milhões de vidas e dessas, incapazes de agir racionalmente ou independentemente, ele obtém ideias e, como o mestre de todas, ele expressa essas ideias, junto com outras de planos superiores, em pensamento, palavra e ato. Portanto, logo no primeiro passo do mesmerismo, esse fator deve ser lembrado, mas hoje em dia as pessoas não o conhecem e não conseguem reconhecer sua presença, mas são levadas pelo insólito do fenômeno.
Os melhores indivíduos são inconsistentes em seus relatos, porque as coisas que eles de fato veem são variadas e distorcidas pelas diversas experiências das partes de sua natureza que mencionei, todas elas clamando constantemente por uma oitiva. E todo operador certamente será enganado por elas, a menos que ele mesmo seja um vidente treinado.
O próximo passo nos leva à esfera do homem interno, não o ser espiritual, mas o astral que é o modelo sobre o qual a forma externa visível é construída. A pessoa interna é o mediador entre a mente e a matéria. Ouvindo os comandos da mente, ela faz com que os nervos físicos atuem e, portanto, todo o corpo. Todos os sentidos têm sua sede nessa pessoa, e cada um deles é mil vezes mais amplos em alcance do que seus representantes externos, pois aqueles olhos e ouvidos externos, e o senso de tato, o paladar e o olfato são apenas órgãos grosseiros que os internos usam, mas que por si mesmos nada podem fazer.
Isso pode ser visto quando cortamos a conexão nervosa, digamos do olho, pois então o olho interno não pode se conectar com a natureza física e é incapaz de ver um objeto colocado ante a retina, embora o sentimento ou a audição possam do seu modo apreender o objeto se esses também não forem cortados.
Estes sentidos internos podem, sob certas condições, perceber a qualquer distância, independentemente da posição ou do obstáculo. Mas eles não podem ver tudo, nem são sempre capazes de entender corretamente a natureza de tudo o que veem. Porque, às vezes, isso lhes aparece como algo com o qual não estão familiarizados. E, além disso, muitas vezes relatarão ter visto o que o operador deseja que eles vejam, quando na verdade estão dando informações não confiáveis. Porque, como os sentidos astrais de qualquer pessoa são a herança direta de suas próprias encarnações anteriores, e não são produto de hereditariedade familiar, eles não podem transcender sua própria experiência e, portanto, seus conhecimentos são limitados por ela, não importa o quão maravilhosa sua ação pareça a ele que está usando apenas os órgãos dos sentidos físicos. Na pessoa saudável comum, esses sentidos astrais estão indissociavelmente ligados com o corpo e limitados pelo aparato que ele fornece durante o estado acordado. E somente quando se adormece, ou em estado hipnotizado, ou em transe, ou sob o mais rigoroso treinamento, pode-se agir de uma forma um tanto independente. Isso eles fazem durante o sono, quando se vive uma vida diferente daquela que é obrigada pela força e pelas necessidades do organismo desperto. E quando há uma paralisação do corpo pelo fluído mesmérico, eles podem agir, porque as impressões das células físicas estão inibidas.
O fluido mesmérico traz esta paralisia, fluindo do operador e rastejando constantemente sobre todo o corpo do sujeito, mudando a polaridade das células em cada parte e desconectando, portanto, o homem externo do interno. Como todo o sistema de nervos físicos é receptivo em todas as suas ramificações, quando certos conjuntos principais de nervos são afetados, outros, por afinidade, os acompanham na mesma condição. Assim, muitas vezes acontece com sujeitos hipnotizados que os braços ou pernas são subitamente paralisados sem que sobre eles se tenha agido diretamente, ou, tão frequente quanto, a sensação devida ao fluido é primeiro sentida no antebraço, embora a cabeça tenha sido o único lugar tocado.
Há muitos segredos sobre esta parte do processo, mas eles não serão revelados, pois é muito fácil, para todos os propósitos específicos, hipnotizar um sujeito, seguindo o que já é conhecido publicamente. Por meio de certos pontos nervosos localizados perto do crânio, todo o sistema nervoso pode ser alterado em um instante, até mesmo por uma leve respiração da boca a uma distância de oito pés do sujeito, mas os livros modernos não destacam isso.
Quando a paralisação e a mudança de polaridade das células estão completas, o homem astral está quase desligado do corpo. Ele tem alguma estrutura? O que o hipnotizador sabe? Quantos provavelmente negarão que ele tem alguma estrutura? Ele é apenas uma névoa, uma ideia? E, no entanto, novamente, quantos sujeitos estão treinados para serem capazes de analisar sua própria anatomia astral?
Mas a estrutura do homem astral interno é inequívoco e coerente. Ela não pode ser inteiramente abordada em um artigo de revista, mas pode ser exposta de forma aproximada, deixando os leitores completarem os detalhes.
Assim como o corpo externo tem uma coluna vertebral que é a coluna sobre a qual o ser se sustenta com o cérebro no topo, assim também o corpo astral tem sua coluna vertebral e um cérebro. É material, pois é feito de matéria, por mais finamente dividida, e não é da natureza do espírito.
Após a maturidade da criança antes do nascimento, esta forma é estável, coerente e duradoura, sofrendo apenas pequenas alterações desde aquele dia até a morte. E assim também quanto ao seu cérebro; que permanece inalterado até que o corpo seja abandonado, e não solta células a serem substituídas por outras de hora em hora, como o cérebro externo. Essas partes internas são, portanto, mais permanentes do que as correspondentes externas. Nossos órgãos, ossos e tecidos materiais estão sofrendo mudanças a cada instante. Eles estão sofrendo sempre o que os antigos chamavam de “constante dissolução momentânea de unidades menores de matéria” e, portanto, dentro de cada mês há uma mudança perceptível por meio de diminuição ou de acreção. Este não é o caso da forma interna. Ela se altera apenas de vida em vida, sendo construída no momento da reencarnação para durar todo um período de existência, pois é o modelo determinado pelas atuais relações evolutivas para o corpo exterior. É o coletor, por assim dizer, dos átomos visíveis que nos fazem como parecemos externamente. Assim, ao nascermos, ele é potencialmente de um determinado tamanho, e quando esse limite é atingido, ele cessa a ampliação adicional do corpo, tornando possível o que hoje são conhecidos como pesos médios e tamanhos médios. Simultaneamente, o corpo externo é mantido em forma pelo corpo interno até o período de declínio. E esse declínio, seguido da morte, não se deve à desintegração corporal per se, mas ao fato de que o termo do corpo astral é alcançado, quando não é mais capaz de manter o quadro externo intacto. Quando seu poder de resistir ao impacto e à guerra das moléculas materiais estiver esgotado o sono da morte sobrevém.
Agora, como em nossa forma física é no cérebro e na coluna vertebral que estão os centros nervosos, assim também no corpo astral existem os nervos que se ramificam do cérebro interno e da coluna vertebral por toda a estrutura. Todos eles estão correlacionados a cada órgão do corpo visível externo. Eles são mais da natureza de correntes do que de nervos, como entendemos a palavra, e podem ser chamados de nervos astrais. Eles se movem em relação a centros tão importantes no corpo externo como o coração, o fundo da garganta, o centro umbilical, o baço e o plexo sacral. E aqui, de passagem, pode ser perguntado aos hipnotizadores ocidentais o que eles sabem sobre o uso e o poder, se houver algum, do centro umbilical? Eles provavelmente vão dizer que não tem uso específico depois da realização do nascimento. Mas a verdadeira ciência do mesmerismo diz que ainda há muito a ser aprendido, mesmo nesse ponto; e não há escassez, nos meios apropriados, de registros de experimentos sobre e do uso desse centro.
A coluna vertebral astral tem três grandes nervos do mesmo tipo de matéria. Eles podem ser chamados de vias ou de canais, onde para cima e para baixo as forças agem, o que capacita o homem interno e externo de ficar em pé, de sentir e de agir. Em espécie, eles correspondem exatamente aos fluidos magnéticos, isso é, eles são respectivamente positivo, negativo e neutro, sendo seu equilíbrio regular essencial para a sanidade. Quando a coluna vertebral astral alcança o cérebro interno, os nervos se alteram e se tornam mais complexos, tendo um grande saída final no crânio. Então, com estas duas grandes partes da pessoa interior estão os outros múltiplos conjuntos de nervos de natureza similar, relacionados aos vários planos de sensação nos mundos visíveis e invisíveis. Todos esses, então, constituem o ator pessoal interno, e neles se encontra o lugar para buscar a solução dos problemas apresentados pelo mesmerismo e pelo hipnotismo.
Separe esse ser do corpo externo com o qual está ligado e a separação o privará temporariamente da liberdade, tornando-o escravo do operador. Mas os hipnotizadores sabem muito bem que o sujeito pode e muitas vezes escapa do controle, confundindo-os com frequência e dando-lhes sustos. Isto é testemunhado por todos os melhores escritores das escolas ocidentais.
Agora este homem interno não é de forma alguma onisciente. Ele tem um entendimento que é limitado à sua própria experiência, conforme mencionado anteriormente. Portanto, o erro se insinua se nos basearmos no que ele diz no transe mesmerizado em relação a qualquer coisa que requeira conhecimento filosófico, exceto em casos raros que são tão infrequentes que não precisam de consideração agora. Porque nem o limite do poder de conhecimento do sujeito, nem o efeito do operador sobre os sensores internos descritos acima, pelos operadores em geral, e especialmente por aqueles que não aceitam a antiga divisão da natureza interna do homem. O efeito do operador é quase sempre o de colorir os relatos feitos pelo sujeito.
Tome um exemplo: A. era um hipnotizador de C., uma mulher muito sensível, que nunca tinha feito da filosofia um estudo. A. Foi convencida de seguir determinado procedimento em relação a outras pessoas e que requeria discussão. Mas antes de agir, ela consultou o sensitivo, tendo em sua posse uma carta de X., que é um pensador muito seguro e muito positivo; enquanto A., por outro lado, não tem uma ideia definida, embora um bom hipnotizador físico. O resultado foi que o sensitivo, depois de cair no transe e ser perguntado sobre a questão debatida, deu o ponto de vista de X, que ele não conhecia, e tão fortemente que A. mudou seu plano, embora não sua convicção, não sabendo que era a influência das idéias de X. então em sua mente, que havia desviado a compreensão do sensitivo. Os pensamentos de X., sendo muito precisamente talhados, foram o suficiente para mudar completamente qualquer visão anterior que o sujeito tivesse. E todos os sujeitos mesméricos que temos são totalmente inexperientes, no sentido que a palavra tem na escola do antigo mesmerismo da qual tenho falado.
Os processos utilizados no experimento mesmérico não precisam ser aqui aprofundados. Há muitos livros que os mencionam, mas depois de estudar o assunto nos últimos vinte e dois anos, não acho que eles façam outra coisa senão copiar uns aos outros, e que todo o conjunto de instruções pode, para todos os fins práticos, ser escrito em uma única folha de papel. Mas há muitos outros métodos, de eficiência ainda maior, ensinados antigamente, que podem ser deixados para outra ocasião.
WILLIAM Q. JUDGE
Lucifer, Maio1892