Mestres, Adeptos, Professores e Discípulos – W.Q.Judge
Esse artigo destina-se a membros da S.T. e principalmente para aqueles que têm HPB muito presente, seja por respeito e amor ou por medo e inveja. Os membros que acreditam que Seres tais como os Mestres podem existir, devem chegar a uma das duas conclusões em relação a H.P.B.: ou que ela inventou os seus Mestres e que, portanto, não têm existência real, ou que ela não os inventou, mas falou em nome deles e de acordo com as ordens de tais Seres. Se dissermos que ela inventou os Mahatmas então, é claro, como tantas vezes foi dito por ela, tudo o que ela ensinou e escreveu é produto do seu próprio cérebro, pelo qual seríamos obrigados a concluir que a sua posição no rol das pessoas importantes e poderosas deve ser mais elevada do que as pessoas têm estado dispostas a colocá-la. Mas presumo que a maioria de nós acredita na verdade da sua afirmação de que ela teve aqueles professores a quem chamou de Mestres e que eles são Seres mais perfeitos do que os homens comuns.
Os assuntos que eu gostaria de abordar, brevemente, são os seguintes: H.P.B. e as suas relações com os Mestres e conosco; os seus livros e ensinamentos; a questão geral dos discípulos, ou chelas, com as suas graduações, e se um chela elevado apareceria como quase um Mestre em comparação conosco, incluindo cada membro, desde o Presidente até o mais recente candidato.
O último ponto do questionamento é extremamente importante e tem sido, na minha percepção, muito negligenciado pelos membros, o que se estendeu a grande parte da S.T. Tornou-se comum a ideia de que chelas e discípulos são todos de uma só classe e que, portanto, um chela é igual a outro em termos de conhecimento e sabedoria. Porém, é o contrário. Chelas e discípulos são de muitas classes e alguns dos Adeptos são eles próprios chelas de Adeptos mais elevados. Portanto, existe uma grande diferença entre as classes de chelas, uma vez que entre eles deve ser considerada a pessoa mais humilde e ignorante que se dedicou ao serviço para a humanidade e à busca do conhecimento do Self. Por outro lado, existem aqueles chelas de grau elevado, alunos reais dos próprios Mestres, e esses últimos têm tanto conhecimento e poder que nos parecem ser Adeptos. De fato, eles são tais quando os comparamos a nós próprios como um mero produto do século XIX. Eles obtiveram através do conhecimento e da disciplina aqueles poderes sobre a mente, a matéria, o espaço e o tempo que, para nós, são as radiantes conquistas do futuro. Mas, no entanto, essas pessoas não são os Mestres mencionados por H.P.B. Tendo estabelecido esses pontos, podemos a seguir perguntar como devemos considerar H.P.B.
Em primeiro lugar, cada um tem o direito de, se lhe agradar, colocá-la no plano mais elevado, porque pode não ser capaz de conceber as qualidades e a natureza daqueles que são mais elevados do que ela era. Mas, conforme suas próprias palavras, ela foi uma chela ou discípula dos Mestres e que, por isso, permaneceu em relação a eles como alguém que poderia ser repreendida, corrigida ou reprovada. Ela chamava-lhes de seus Mestres, e asseverou uma devoção às suas ordens e um respeito e confiança nas e pelas suas afirmações, que o chela sempre tem por alguém que é suficientemente elevado para ser seu Mestre. Mas olhando para os seus poderes demonstrados ao mundo, e quanto ao que um dos seus Mestres escreveu que eles tinham confundido e espantado as mentes mais brilhantes da época, vemos que, em comparação conosco, ela era uma Adepta. Tanto em particular como em público, ela falava dos seus Mestres da mesma forma que Subba Row ao escritor quando este declarou em 1884, “Os Mahatmas são, de fato, alguns dos grandes Rishis e Sábios do passado, e as pessoas têm tido muito o hábito de os rebaixar ao padrão mesquinho dessa época”. Mas com essa reverência pelos seus professores, ela tinha por eles, ao mesmo tempo, um amor e uma amizade que não se encontram frequentemente na Terra. Tudo isto indica o seu “chelado” para com Eles mas que, de forma alguma, a rebaixa para nós ou justifica decidirmos que estamos certos num julgamento apressado ou ousado dela.
Agora, alguns teosofistas perguntam se existem outras cartas dos seus Mestres nas quais ela é chamada a prestar contas, é chamada de Sua chela, e é repreendida de vez em quando, além das publicadas. Talvez sim. E se fosse? Que sejam publicadas por todos os meios e que tenhamos o registro inteiro e completo de todas as cartas enviadas durante a sua vida; aquelas apresentadas datadas após a sua morte não contarão para nada no que diz respeito a qualquer julgamento que lhe seja feito, uma vez que os Mestres não se entregam a qualquer crítica aos discípulos que partiram da Terra. Como ela própria publicou cartas e partes de cartas dos Mestres para ela em que é chamada de chela e é repreendida, certamente não importa se conhecemos outras do mesmo tipo. Porque acima de tudo isto, temos bom senso, além das declarações dos seus Mestres de que ela era o único instrumento possível para o trabalho a ser feito, que a enviaram para o fazer, e que, em geral, aprovaram tudo o que ela fez. E ela foi o primeiro canal direto de e para a Loja, e a única até agora através da qual veio a presença objetiva dos Adeptos. Não podemos ignorar o mensageiro, tomar a mensagem, e rir ou desprezar quem a trouxe até nós. Não há nada de novo na ideia de que há cartas ainda inéditas, nas quais os Mestres a colocam abaixo delas, e não há motivo para qualquer receio. Mas é certamente verdade que nem uma única carta deste tipo tem algo que a coloque abaixo de nós; ela sempre haverá de permanecer a maior entre os chelas.
Só resta, então, a posição tomada por alguns, e sem conhecimento das regras que regem estes assuntos, que os chelas por vezes escrevem mensagens que afirmam ser dos Mestres quando não o são. Essa é uma posição artificial, não sustentável por lei ou por regra. É devido à ignorância do que é e não é o “chelado”, e também à confusão entre as graduações no discipulado. Foi aplicado em relação a H.P.B. Foi primeiro tirada a conclusão errônea de que um chela aceito de grau elevado pode acostumar-se a determinações dadas pelo Mestre e depois cair no falso pretexto de fornecer algo dele mesmo e fingir que é do Mestre. Isso é impossível. O vínculo no caso dela não era de tal caráter para ser lidado assim. Um só caso como esse destruiria a possibilidade de qualquer outra comunicação do Mestre.
Bem pode ser verdade que os noviços, de vez em quando, tenham se imaginado como tendo sido ordenados a dizer isso e aquilo, mas não é esse o caso de um chela aceito e elevado que é irrevogavelmente comprometido, nem nada parecido. Essa ideia, então, deveria ser abandonada; é absurda, contrária à lei, à regra, e ao que deve ser o caso quando tais relações são estabelecidas, tal como existiam entre H.P.B. e os seus Mestres.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, junho 1893