Noções populares equivocadas – W.Q.Judge
“Quais são suas provas?” é frequentemente perguntado ao estudante teosófico que acredita na reencarnação e no Carma, que sustenta a existência do corpo astral e que pensa que a evolução requer um lugar no Cosmos para Mahatmas (ou “grandes Almas”) como fatos e ideais. “Se você não pode provar que existe a reencarnação da mesma forma que você prova um fato num tribunal, eu não acredito”, diz um, enquanto outro diz, “faça demonstrações tão objetivas como a ciência faz, e então você pode esperar que eu concorde com você”. Mas, na verdade, todos esses opositores aceitam como comprovado, na forma como exigem da Teosofia, muitas coisas que, em um exame superficial, são vistas como baseadas tanto em teoria e em argumento metafísico quanto qualquer uma das doutrinas encontradas na literatura teosófica. Os axiomas da matemática não são comprováveis; a própria palavra pressupõe que eles têm que ser acatados. Sendo acatados, seguimos em frente e, com base em sua verdade não comprovada, demonstramos outras e subsequentes questões. As teorias da astronomia moderna são tidas como verdadeiras porque por seus meios eclipses são preditas e outras grandes conquistas dessa ciência tornadas possíveis. Mas há muitos séculos atrás, diferentes teorias sobre as relações e movimentações e a estrutura dos céus permitiram aos antigos astrônomos fazer as mesmas deduções. Vamos examinar algumas palavras e tópicos.
O ÁTOMO
Átomo e molécula são palavras muito influentes. Elas são constantemente utilizadas por pessoas que afirmam seguir a ciência, mas que se entregam a críticas sobre as incertezas da especulação teosófica. No entanto, ninguém jamais viu um átomo ou uma molécula. Eles são aceitos como fatos pela ciência – exatamente como os espiritualmente inclinados aceitam a existência da Alma invisível – ainda que seja impossível provar objetivamente, seja a existência de um ou de outro. Eles são considerados comprovados porque eles são necessários. Mas deixe um teosofista dizer que o corpo astral existe, e os Mahatmas também, porque ambos são necessários na evolução e imediatamente surge uma exigência de evidenciação através de provas objetivas.
O SOL
O Sol é a fonte aparente de energia, e é confiantemente suposto por muitos como sendo uma massa de substância ardendo. Ninguém, entretanto, sabe se isto é assim. Ninguém jamais foi lá, e todo o conjunto de teorias sobre o corpo luminoso se apoia em suposições. Muitos fatos naturais são contrários a algumas das teorias. O grande fato de que, quanto mais alta a montanha, mais frio é no topo, seria uma, não totalmente explicado por teorias quanto à radiação. E quando nos lembramos da grande, da imensa diferença entre as várias estimativas científicas sobre o calor do Sol, a dúvida aumenta. Ao ver que a eletricidade é agora muito mais conhecida e que, aparentemente, tudo parece impregnar a antiga ideia de que o Sol é um centro de energia elétrica ou magnética que se transforma em calor, assim como outras coisas ao chegar aqui, torna-se plausível e joga algum tempero de ilusão na doutrina de que nosso Sol é uma massa de substância ardendo.
Novamente, o Sol é visto como se estivesse sobre o horizonte em plena vista a cada anoitecer claro quando, de fato, ele tem estado alguns minutos abaixo da linha de visão. A refração em parte conta para ele, mas, não obstante, sua aparente visibilidade ou posição acima do horizonte é uma ilusão.
AS ESTRELAS
Muitas daquelas que são conhecidas como estrelas fixas estão imensamente distantes. Sirius está em uma distância imensa, e tem se afastado sempre muitos milhares de quilômetros a cada minuto. Outras estão tão distantes que leva cem mil anos para que sua luz chegue aqui.
No entanto, desde o início dos registros, todos elas permaneceram aparentemente em um só lugar e na mesma relação uma com a outra. Elas constituem uma vasta ilusão. Elas estão em movimento e ainda assim elas permanecem paradas. Apontamos o telescópio para um de nossos planetas irmãos e sabendo que sua luz leva quinze minutos ou mais para chegar até nós, devemos estar continuamente dirigindo o telescópio a um ponto em que o planeta não está, e não há possibilidade de apontarmos para onde ele na verdade está. Ainda assim, para toda essa incerteza, muitos cálculos complicados e definitivos são baseados nessas observações de meras ilusões.
LATITUDE E LONGITUDE
Estas são praticamente utilizadas a cada hora do dia para a proteção da vida e dos bens humanos. Mas elas existem apenas no cérebro dos homens, porque não estão no céu ou em terra. São divisões teóricas feitas pelo homem e só são possíveis porque a única realidade na Natureza é a que, como ideal, é ridicularizada por muitos. Mas se é dito que os antigos foram os construtores de um grande plano humana no Zodíaco, cujas divisões têm relação com a navegação do grande oceano da evolução humana, o orgulhoso homem prático diz que você apenas mostrou que os antigos eram fantasiosos, supersticiosos, grotescos. Mas eles não o eram. Sem dúvida, o ditado gravado de Jesus sobre o momento em que deveremos ver “o sinal do Filho do Homem nos céus”, será considerado, não muito distante de hoje, como tendo um significado prático na vida humana.
O antigo sábio era como o capitão moderno. O capitão faz uma medição das estrelas ilusórias e do Sol abrasador, descobrindo assim se seu navio está perto ou longe de terra. O sábio observava o Zodíaco, e pela maneira como ele e seus barcos eram relacionados uns com os outros, ele era capaz de calcular se a carga humana no barco da evolução humana estava perto de uma rocha ou no mar livre e aberto em sua eterna e monumental viagem.
A SENSAÇÃO DE TOQUE
Cada um está acostumado a dizer que tocou este ou aquele objeto sobre o qual seus dedos podem ter pousado. Mas não é assim. Não tocamos nada; apenas percebemos e relatamos uma sensação que chamamos de toque. Se essa sensação fosse devida ao contato real entre a pele e o objeto, então quanto mais pressionássemos, mais perto chegaríamos da superfície do objeto, e mais precisa deveria ser a sensação. De fato, no entanto, se pressionamos com força, enfraquecemos a sensação e transformamo-la em uma de dor para a pele. Há sempre um espaço entre a pele e a superfície lidada, assim como há sempre um espaço entre as moléculas de cada massa. Se dois planos lisos forem pressionados um contra o outro, eles vão aderir bem, e quanto mais lisos mais difíceis de separá-los. Se nós pudéssemos de fato tocar a mão em qualquer superfície de modo a cobri-la toda com a superfície de toque, não poderíamos retirar a mão de forma alguma. Então, tudo o que conseguimos pelo que chamamos de toque é a ideia produzida pela vibração e, por essa, o tanto de contato possível no caso.
SOLIDEZ CONTÍNUA
O cientista é bastante teosófico quando diz que “não podemos saber nada sobre a natureza verdadeira da matéria em si mesma, mas só podemos conhecer a sensação ou o fenômeno”. O mineral ou chamado metal, até mesmo o mais duro, não é sólido ou contínuo em si mesmo. Isto é agora admitido por todos os homens científicos. Mesmo o diamante, “o mais duro de todos”, é uma massa de moléculas em movimento, composto de átomos em movimento. Sua dureza é apenas relativa. Ela é simplesmente mais dura que o vidro porque seus átomos estão se movendo a um ritmo mais rápido. Em uma recente palestra em Londres, o Sr. Bell, uma sumidade científica, contou como a borda ou a ponta do diamante corta o vidro porque as moléculas do diamante se movem rapidamente e ficam entre as mais lentas do vidro, e assim o corta. E assim é com todas as outras massas de matéria. São apenas massas de moléculas com diferentes taxas de vibração; nenhuma delas sólida ou duras, salvo em um sentido relativo. Não é verdade, então, como tantas vezes defendido pelos filósofos e insistido por aqueles Adeptos que nos deram informações através de H. P. Blavatsky, que o mundo em que estamos é para ser devidamente considerado em um sentido metafísico e não como um mero mecanismo que pode ser explicado por princípios mecânicos? E diante de todas as ilusões e de todas as especulações sobre a vida e a ciência, por que se deve pedir ao teosofista que faça ou dê qualquer tipo de prova diferente daquelas que a ciência utiliza em todas as suas investigações?
Não há nenhuma razão.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, Novembro 1894