Nosso Ciclo e o próximo – H.P.Blavatsky
A grande era do mundo começa de novo,
os dias dourados regressam.
a Terra como uma serpente renova
as suas desgastadas ervas daninhas de inverno.
– SHELLEY
Meu amigo, a era dourada já passou,
somente os bons têm poder para trazê-la de volta, …
– GOETHE
O que tinha em mente o autor de Prometheus Unbound [NT: Prometeu desacorrentado] ao escrever sobre o regresso dos dias dourados e o novo começo da grande era do mundo? Teria a sua visão poética levado a sua “Visão do Século XIX” para o “Centésimo décimo nono”, ou teria essa visão revelado a ele, em imagens deslumbrantes, as coisas que estariam por vir e que já se foram?
Fichte nos assegura que é “um fenômeno de ocorrência frequente, particularmente em épocas passadas”, que “o que nós nos tornaremos é retratado por algo que já fomos; e que o que temos de obter é representado por algo que perdemos anteriormente”. E acrescenta, “o que Rousseau, sob o nome do estado da Natureza, e os antigos poetas com o título da Idade do Ouro, colocam atrás de nós, está, na realidade, à nossa frente”.
Tal é também a ideia de Tennyson, quando diz:
“Antigos escritores recuaram as épocas felizes para o passado –
eles os mais tolos – nós para o futuro; ambos sonhadores….”
Feliz o otimista em cujo coração o rouxinol da esperança ainda pode cantar, com toda a iniquidade e o frio egoísmo da época atual diante dos seus olhos! O nosso século é uma era presunçosa, e tão orgulhosa quanto hipócrita; tão cruel quanto dissimulada.
Oh vós, deuses, quão dissimulado e verdadeiramente sacrílego diante de toda verdade, é esse, o nosso século, com toda a sua presunçosa beatice e hipocrisia! Na verdade, “Pecksniffiano” deveria ser o teu nome, oh, décimo nono da tua série cristã. Porque geraste mais hipócritas por metro quadrado do teu solo civilizado do que a antiguidade os gerou em todas as suas terras idólatras durante longas eras. E o teu Pecksniff moderno, de ambos os sexos, está “tão profundamente impregnado com o espírito da falsidade que ele é moral até mesmo na embriaguez e na hipocrisia, até mesmo na vergonha e na revelação”, nas palavras do autor de “Martin Chuzzlewit.”
Se for verdade, que terrível declaração a de Fichte! É terrível, muito além das palavras. Devemos então esperar em algum futuro ciclo recorrente tornar a ser aquilo que “já fomos”, ou o que somos agora? Para obter um vislumbre sobre o ciclo futuro, só temos que examinar a situação à nossa volta nos dias de hoje. O que encontramos?
Em vez de verdade e de sinceridade, temos a decorosa, fria e culta polidez; numa só palavra, a dissimulação. A falsificação em todos os planos; falsificação do alimento moral e a mesma falsificação do alimento comestível. Manteiga de margarina para a Alma, e manteiga de margarina para o estômago; beleza e cores novas por fora, e podridão e corrupção por dentro. A vida – uma longa pista de corrida, uma perseguição febril, cujo objetivo é uma torre de ambição egoísta, de orgulho e de vaidade, de ganância por dinheiro ou honras, e na qual as paixões humanas são os cavaleiros, e os nossos irmãos mais fracos os corcéis. Nessa terrível corrida de obstáculos, o prêmio é comprado com o sangue do coração e o sofrimento de inúmeros semelhantes, e é ganho à custa da auto degradação espiritual.
Quem, nesse século, se atreveria a dizer o que pensa? É preciso ser um homem corajoso, hoje em dia, para falar a verdade sem medo, e até mesmo isso com risco e custo pessoal. Pois a lei proíbe alguém de dizer a verdade, exceto sob coação, nos seus tribunais e sob ameaça de perjúrio. Tendo mentiras contadas sobre ti publicamente e de forma impressa, e, a menos que seja rico, você fica impotente para calar a boca do teu caluniador; afirmar fatos, e você se torna um difamador; segure a sua língua sobre alguma iniquidade perpetrada em sua presença, e os seus amigos considerarão você um participante naquilo – um cúmplice. A expressão da opinião honesta de cada um se tornou impossível nesse nosso ciclo. O projeto de lei recentemente perdido que revoga as “Leis da Blasfêmia”, é uma boa prova disso.
O Pall Mall Gazette tinha, na sua edição de 13 de abril, algumas linhas pertinentes sobre o assunto; os seus argumentos, no entanto, apresentando apenas uma visão unilateral, e tendo, portanto, de ser acolhido cum grano salis . Isso lembra ao leitor que o verdadeiro princípio das Leis da Blasfêmia “foi há muito estabelecido por Lord Macaulay”, e acrescenta:
Expressar as suas próprias opiniões religiosas ou irreligiosas com a maior liberdade possível é uma coisa; apresentar os seus pontos de vista ofensivamente, de modo a indignar e a magoar outras pessoas, é outra coisa. Você pode usar a roupa que quiser, ou nenhuma roupa, na sua própria casa, mas se um homem afirmar o seu direito de andar na Regent-street vestido apenas com sua camisa, o público teria o direito de se opor. Suponhamos que algum homem zeloso colocasse todos os cartazes de Londres com fotos “cômicas” da Crucificação, isso certamente deveria ser uma ofensa, mesmo aos olhos daqueles que não acreditam que a Crucificação tenha acontecido.
É bem isso. Seja religioso ou irreligioso, em nossa época, por mais que goste, mas não seja ofensivo e não se atreva a “ultrajar e magoar as outras pessoas”. Outras pessoas, quer dizer aqui apenas cristãos, sem considerar nenhuma outra pessoa? Além disso, a margem assim deixada para a opinião do júri é ameaçadoramente ampla, pois quem sabe onde a linha de demarcação deve ser traçada! Para ser totalmente imparcial e justo em seu veredito nessas questões específicas, o júri teria que ser um júri misto e composto de seis cristãos e seis “infiéis”. Agora ficamos impressionados na juventude que Themis era uma deusa vendada apenas na antiguidade e entre os pagãos. Desde então – o cristianismo e a civilização tendo aberto seus olhos – a alegoria permite agora duas versões. Mas tentamos acreditar no melhor das duas inferências, e pensando na lei de forma mais reverencial, chegamos às seguintes conclusões: na lei, o que vale para um vale para o outro. Portanto, se administradas com base neste princípio, as “Leis da Blasfêmia”, devem ser as mais benéficas para todos os envolvidos, “sem distinção de raça, cor ou religião”, como dizemos na Teosofia.
Agora, se a lei é equitativa, deve ser aplicada imparcialmente a todos. Devemos então entender que ela proíbe “ultrajar e magoar” os sentimentos de qualquer pessoa, ou apenas os dos cristãos? Se é o primeiro, então deve incluir Teosofistas, Espiritualistas, os muitos milhões de pagãos que o destino misericordioso fez súditos de Sua Majestade e até mesmo os livres-pensadores e materialistas, alguns dos quais são melindrosos. Não pode significar este último, ou seja, limitar a “lei” apenas ao Deus dos cristãos; nem presumiríamos suspeitar de tal preconceito pecaminoso. Porque “blasfêmia” é uma palavra que se aplica não apenas a Deus, a Cristo e ao Espírito Santo, não apenas à Virgem e aos Santos, mas a todo deus ou deusa. Este termo, com o mesmo sentido criminoso ligado a ele, existia entre os Gregos, os Romanos, e entre os antigos Egípcios, eras antes de nossa era. “Não injuriarás os deuses“(plural), destaca-se no versículo 28 do capítulo XXII do Êxodo, quando “Deus” fala do Monte Sinai. Admitido em tal grau, o que acontece com nossos amigos, os missionários? Se for aplicada, a lei não lhes deixa em uma situação confortável. Temos pena deles, com as Leis da Blasfêmia suspensas sobre suas cabeças como uma espada de Dâmocles; pois, de todos os blasfemadores desbocados contra Deus e contra os deuses de outras nações, eles são os principais. Por que deveriam ser autorizados a violar a lei contra Vishnu, Durga ou qualquer feitiço; contra Buda, Maomé ou mesmo um fantasma, no qual um espiritualista reconhece realmente sua mãe morta, assim como um “infiel” contra Jeová? Aos olhos da Lei, Hanuman, o deus macaco, tem de ser protegido tanto quanto qualquer um dos deuses trinitários; caso contrário, a lei estaria mais cega do que nunca. Além disso, além de sua sacralidade aos olhos dos prolíficos milhões da India, Hanuman não é menos caro aos corações sensíveis dos darwinistas; e a blasfêmia contra nosso primo de primeiro grau, o babuíno sem cauda, é garantia de “ferir os sentimentos” dos mensageiros Grant Allen e Aveling, tanto quanto os dos muitos teosofistas hindus. Concedemos que aquele que faz “imagens cômicas da crucificação”, comete uma ofensa contra a lei. Mas também aquele que ridiculariza Krishna e, mal interpretando a alegoria de suas Gopi (pastoras), fala mal dele ante os Hindus. E o que dizer das piadas profanas e vulgares proferidas do púlpito por alguns padres dos próprios evangelhos – não sobre Krishna, mas sobre o próprio Cristo?
E aqui entra a discrepância cômica entre teoria e prática, entre a letra morta e a viva da lei. Conhecemos vários pregadores ofensivamente “cômicos”, mas até agora encontramos somente “infiéis” e ateístas, reprovando severamente por isso os padres cristãos pecadores, seja na Inglaterra ou na América.
O mundo de cabeça para baixo! Blasfêmia profana cobrada dos pregadores do evangelho, a imprensa ortodoxa que se cala sobre isso, e um agnóstico sozinho levantando sua voz contra tais procedimentos grosseiros. É certo que encontramos mais verdade em um parágrafo dos escritos de “Saladino” (1) do que na metade dos jornais diários do Reino Unido; mais sentimento reverencial e verdadeiro, a tudo o que se aplicar, e mais bom senso para a conveniência das coisas no dedo mindinho daquele “infiel”, do que em toda a figura corpulenta e turbulenta do Reverendo-irreverente, o Sr. Spurgeon. Um é um “agnóstico” – um “zombador da Bíblia” como ele é chamado; o outro, um famoso pregador cristão. Mas tendo o Carma nada a ver com a letra morta das leis humanas, da civilização ou do progresso, proporciona em nossa esfera de lama giratória um antídoto para todo mal, daí um infiel devoto da verdade, para todo pregador ganancioso que profana seus deuses. A América tem seu Talmage, descrito muito apropriadamente pelo New York “Sun” (2), como um “charlatão tagarela”, e seu Coronel Robert Ingersoll. Na Inglaterra, os imitadores de Talmage encontram um Nêmesis severo em “Saladino”. O pregador ianque foi mais de uma vez severamente repreendido por jornais infiéis por conduzir seu rebanho ao céu não em espírito reverencial, mas tentando encurtar a longa e tediosa jornada com anedotas bíblicas diversas. Quem em Nova York esqueceu a farsa–pantomine performada por Talmage em 15 de abril de 1877? Nós a lembramos bem. Seu tema foi o “trio de Betânia”, quando cada uma das três dramatis personae foi “imitada até a perfeição”, como declarou a congregação. Jesus foi mostrado pelo reverendo arlequim “fazendo uma visita matinal” a Maria e Marta, lançando-se “sobre um otomano“, em seguida, tomando o tempo de Maria, “a amante da ética”, que estava sentada a seus pés, e por isso “detonado” (sic) por Marta, “deixada para servir sozinha”. O coronel Sandys disse outro dia na Câmara dos Comuns em seu discurso sobre o Projeto de Lei de Blasfêmia do Sr. Bradlaugh, ao qual ele se opôs, que “enquanto puníamos aqueles que mataram o corpo, o objetivo do projeto era permitir que aqueles que matassem as Almas dos homens o fizessem impunemente”.
Será que ele acha que gozar de crenças sagradas, por um pregador cristão, enche as Almas de seus ouvintes de reverência, e arrasa
(1) O ótimo poeta e editor espirituoso da extinta revista “Secular Review”, agora o “Agnostic Journal”. As obras do Sr. W. Stewart Ross (“Saladino”), por exemplo, “A mulher, Sua Glória, Sua Vergonha e Seu Deus”, “Panfletos Diversos”, “Deus e Seu Livro”, etc., se tornarão, no século XX, a mais poderosa assim como a mais completa reivindicação de todo homem e mulher denominado infiel no século XIX.
(2) “The Sun” de 6 de abril de 1877.
com ela quando essa diversão vem de um infiel? O mesmo “plebeu” piedoso lembrou à Casa que: “sob a lei de Moisés, aqueles que cometeram blasfêmia deveriam ser retirados do acampamento e apedrejados até a morte”.
Não temos a menor objeção aos fanáticos protestantes da convicção mosaica, capturando os Talmages e Spurgeons, e apedrejando-os até a morte. Nem sequer pararemos para perguntar a um Saulo tão moderno, por que culpar em tal caso os fariseus por agirem sobre essa mesma lei Mosaica e crucificarem seu Cristo, ou “alguns da Sinagoga dos Libertinos” por apedrejarem Estevão? Mas vamos simplesmente afirmar isto: se a justiça, assim como a caridade, não parar “em casa”, tal injustiça como livres-pensadores, agnósticos, Teosofistas e outros infiéis geralmente recebida pelas mãos da lei, será motivo de escárnio para a história futura.
Pois a história se repete. Tendo Spurgeon se divertido com os milagres de Paulo, recomendamos a todas as pessoas de espírito justo que procurem o “Agnostic Journal” de 13 de Abril, e leiam o artigo de Saladino “At Random“, dedicado a esse pregador favorito. Se eles averiguassem a razão pela qual, dia após dia, o sentimento religioso está morrendo nesse país, morto como está nas Almas cristãs, que o leiam. A reverência é substituída pelo emocionalismo. Os salvacionistas glorificando Cristo na “luz fantástica do dedo do pé”, e o “tabernáculo” de Spurgeon é tudo o que resta nessa terra cristã do Sermão da Montanha. Crucificação e Calvário são representados unicamente por aquela estranha combinação de fogo do inferno e “Punch and Judy show“, que é preeminentemente a religião do Sr. Spurgeon. Quem, então, achará estas linhas escritas por “Saladino” demasiadamente fortes?
“…. Edward Irving era um austero místico e um Elias vulcânico; Charles Spurgeon é um Grimaldi risonho e exotérico. Recém-regressado de Mentona e da gota, ele presidiu a reunião anual da Metropolitan Tabernacle Church Auxiliary, realizada em Tabernacle. No início dos trabalhos, ele comentou para aqueles que estavam prestes a rezar: “Agora, é uma noite fria e, se alguém rezar muito tempo, alguém vai congelar até a morte”. (Risos.) Lembro que, uma vez, Paulo pregou um longo sermão, e um jovem caiu de uma janela e se matou. Se alguém ficar congelado essa noite, eu não sou como Paulo e não posso ressuscitá-lo, então, por favor, não torne o milagre necessário, pois eu não posso realizá-lo. (Risos.) “
Um brincalhão como este, se estivesse vivo e na Palestina, contemporâneo do “abençoado Senhor”, de quem ele tanto tira proveito, teria jocosamente cutucado o “abençoado Senhor” nas costelas com um “então, e como você está, meu velho de Nazaré”? Teria havido Judas, chamado Iscariotes, que carregava a bolsa, e Carlos, chamado Spurgeon, que usava a capa e os sinos.
Eu faço pouco caso das fábulas galileias porque, para mim, são simplesmente fábulas; mas para o Sr. Spurgeon elas são “a própria palavra do próprio Deus”, e não lhe compete fazer pouco caso delas, mesmo para agradar aos santos mediócritas de Tabernacle. Atrevo-me a recomendar à devota atenção do Sr. Spurgeon uma opinião que pode ser encontrada no “De Legibus” de Cícero, e que diz assim: De sacris autem haec sit una sententia, ut conserventur. Como o Sr. Spurgeon tem estado toda sua vida tão absorvido em oração, que ele não teve tempo para estudar e não conhece nenhuma língua, a não ser uma loquaz efusão de Inglês de lavadeira, eu posso dizer a ele e aos seus o que as palavras significam, mas vamos todos concordar com essa única opinião, que as coisas sagradas sejam invioláveis. (Agn. Journal, 13 de abril.)
Amém, nós dizemos, do fundo de nossa Alma, a este nobre conselho. “Mas sua caneta está mergulhada em fel sacrílego”, ouvimos outro dia um clérigo nos dizer, falando de “Saladino”. “Sim”, nós respondemos. “Mas a dele é uma caneta de diamantes, e o fel de sua ironia é claro como cristal, livre de qualquer outro desejo que não seja o de tratar com justiça e falar a verdade”. Em vista da “lei da blasfêmia” que permanece em vigor, e da lei equitativa deste país, que torna uma calúnia mais caluniosa proporcionalmente à verdade que ela contém, e especialmente com um olho na ruína pecuniária que ela implica para pelo menos uma das partes, há mais heroísmo e auto abnegação destemida em falar a verdade pro bono publico, do que em favorecer os passatempos públicos. Com exceção, talvez, do editor corajoso e sem rodeios do Pall Mall Gazette, não há na Inglaterra nenhum escritor que respeitemos mais por tão nobre intrepidez, e nenhum cuja sagacidade admiramos mais do que “Saladino”.
Mas o mundo, atualmente, julga tudo pelas aparências. Os motivos não são levados em conta e a tendência materialista é a primeira em condenar a priori aquilo que conflita com conveniências superficiais e noções incrustadas. Nações, homens e ideias são julgados de acordo com nossos preconceitos, e as emanações letais da civilização moderna matam toda bondade e toda verdade. Como observado por São Jorge, as raças selvagens estão desaparecendo rapidamente, “mortas pelo simples contato com o homem civilizado”. Sem dúvida, deve ser um consolo para os hindus e até mesmo para os zulus, pensar que todos os seus irmãos sobreviventes morrerão (graças ao esforço missionário) linguistas e estudiosos, se não cristãos. Um teosofista, um colonizador nascido na África, estava nos dizendo outro dia que um zulu se ofereceu a ele como “criado”. Esse Cafre era formado em uma universidade, um estudioso de Latim, Grego, Hebraico e Inglês. Considerado inapto com todas essas conquistas para cozinhar um jantar ou limpar botas, o cavalheiro teve que mandá-lo embora – provavelmente para morrer de fome. Tudo isto inflou o europeu de orgulho. Mas, como diz novamente o escritor acima citado, “ele esquece que a África está se tornando rapidamente Muçulmana e que o Islã, uma espécie de bloco de granito que em sua poderosa coesão desafia a força das ondas e dos ventos, é refratário às ideias europeias, que, até agora, nunca a afetaram seriamente”. A Europa pode ainda acordar um dia e se descobrir muçulmana, quando não “em vil coibição”, pelos “chineses descrentes”. Mas quando todas as “raças inferiores” tiverem morrido, quem, ou o que as substituirá no ciclo que deve espelhar o nosso?
Há também aqueles, que com um olhar superficial para a história antiga como também para história moderna, menosprezam e depreciam tudo o que já foi alcançado na antiguidade. Lembramos de ler sobre os sacerdócios pagãos; que “construíram torres gloriosas”, ao invés de “libertar selvagens degradados”. Os Magos da Babilônia foram comparados com os “pobres Patagônicos” e outras missões Cristãs, os primeiros ficando em segundo lugar na comparação de sempre. A isto pode ser respondido que se os antigos construíam “torres gloriosas” também o fazem os modernos; testemunhem, a atual mania parisiense, a Torre Eiffel. Quantas vidas humanas as antigas torres custaram, ninguém pode dizer, mas a Eiffel, inacabada como está, custou no primeiro ano de sua existência mais de cem operários mortos. Entre essa última e a Torre da Babilônia, o triunfo da superioridade em inutilidade pertence por direito ao zigurate, a Torre Planetária do Templo de Nemo em Borsippa. Entre uma “torre gloriosa” construída para o Deus nacional da Sabedoria, e outra “torre gloriosa” construída para atrair as crianças da insensatez – a não ser que se exorte que mesmo a insensatez moderna seja superior à sabedoria antiga – há espaço para uma diversidade de opiniões. Além disso, é à astrologia Caldéia que a astrognose moderna deve seu progresso, e são os cálculos astronômicos dos Magos que se tornaram o alicerce de nossa astronomia matemática atual e que têm guiado os descobridores em suas pesquisas. Quanto às missões, seja para a Patagônia ou para Anam, África ou Ásia, ainda é uma questão em aberto para os isentos, se elas são um benefício ou um mal que a Europa concede aos “selvagens degradados”. Duvidamos seriamente se os pagãos “incivilizados” não lucrariam mais se fossem deixados rigorosamente sozinhos do que sendo (além da traição a suas crenças anteriores) familiarizados com as bênçãos do rum, do uísque e das várias doenças resultantes que geralmente aparecem no rastro dos missionários europeus. Não obstante cada sofisma, um pagão moderadamente honesto está mais próximo do Reino dos Céus do que um cristão mentiroso, ladrão e malandro convertido. E – desde que ele tenha certeza de que suas vestes (isto é, crimes) são lavadas no sangue de Jesus, e é dito a ele da maior alegria de Deus “sobre um pecador que se arrependeu” do que sobre 99 santos sem pecado – nem ele, nem nós, podemos ver por que o convertido não deve beneficiar-se com a oportunidade.
“Quem”, pergunta E. Young, “deu na antiguidade vinte milhões, não a mando de um monarca imperioso ou de um sacerdócio tirânico, mas ao apelo espontâneo da consciência nacional e pela instrumentalidade imediata da vontade nacional…” acrescenta o escritor, que nesta “doação de dinheiro” há “uma grandeza moral, que reduziria as Pirâmides a insignificância”. O, o orgulho e a vaidade desta nossa era!
Não sabemos. Se cada um dos contribuintes dessa “subvenção monetária” tivesse dado seus “tostões da viúva”, eles poderiam afirmar coletivamente ter depositado “mais do que todos”, mais do que qualquer outra nação, e esperar sua recompensa. Sendo a Inglaterra, entretanto, a nação mais rica do mundo, os méritos intrínsecos do caso parecem ligeiramente modificados. Vinte milhões de uma só vez representam de fato um poderoso motor para o bem. Mas tal “doação de dinheiro” só poderia ganhar em Carma, se fosse para ceder menos ao orgulho nacional e se a nação não se sentisse tão exaltada por ele, nos quatro cantos do globo, por uma fama alardeada por centenas de vozes pelos órgãos públicos. A verdadeira caridade abre os cordões da bolsa com uma mão invisível, e:
Terminando seu ato, não existe mais…..
Ela evita a fama, e nunca é ostensiva. Além disso, tudo é relativo. Um milhão em espécie, há 3.000 anos, representava dez vezes mais do que vinte milhões hoje. Vinte milhões são como um Niágara inundando com força Titânica algumas carências populares e criando, por algum tempo, uma grande comoção. Mas, embora ajudando por um certo lapso de tempo dezenas de milhares de desgraçados famintos, mesmo uma soma tão enorme deixa dez vezes mais desgraçados e famintos ainda sem alívio.
Para tais magnânimas generosidades, preferimos países onde não há pessoas carentes, por exemplo, aquelas pequenas comunidades, os remanescentes de raças outrora poderosas, que não permitem mendigos entre seus correligionários – nos referimos aos Parsis. Sob os reis indianos e budistas, como Chandragupta e Asoka, as pessoas não esperavam, como agora, por uma calamidade nacional, para jogar o excedente de sua abundante riqueza à frente de uma porção dos famintos e dos desabrigados, mas trabalhavam com afinco, século após século, construindo casas de repouso, cavando poços e plantando árvores frutíferas ao longo das estradas, onde o peregrino cansado e o viajante sem um tostão sempre podia encontrar descanso e abrigo, ser alimentado e receber hospitalidade às custas do país. Um pequeno riacho de água fria e saudável, que corre de forma constante, e está sempre pronta para refrescar os lábios ressequidos, é mais benéfico do que a súbita torrente que, de vez em quando, quebra a represa da indiferença nacional, intermitentemente.
Assim, se temos que nos tornar no ciclo futuro aquilo que já fomos, que isto seja como nos dias da Asoka, não como é agora. Mas somos repreendidos com o esquecimento do “heroísmo cristão“. Onde vocês encontrarão, perguntam-nos, um paralelo entre o heroísmo dos primeiros mártires e o que é demonstrado em nossos dias? Sentimos muito contradizer esta vanglória como muitas outras. Se os exemplos casuais de heroísmo em nosso século são inegáveis, quem, por outro lado, teme mais a morte, como regra geral, do que o cristão? O idólatra, o hindu e o budista, em suma, todo asiático ou africano, morre com uma indiferença e uma serenidade desconhecida de nosso homem Ocidental. Quanto ao “heroísmo Cristão“, seja queiramos dizer heróis medievais ou modernos ou heroínas, um St. Louis, ou um General Gordon, uma Joana D’Arc, ou um Nightingale, não há necessidade do adjetivo para enfatizar o substantivo. Os mártires cristãos foram precedidos pelos idólatras e até mesmo espartanos sem Deus de muitas virtudes, as corajosas irmãs da Cruz Vermelha pelas matronas de Roma e da Grécia. Até hoje, as torturas diárias a que os iogues indianos e os faquires muçulmanos se submetem, torturas que muitas vezes duram anos, jogam inteiramente na sombra o heroísmo inevitável do mártir Cristão, antigo ou moderno. Aquele que deseja aprender o sentido pleno da palavra “heroísmo” deve ler os “Annals of Rajistanby” do Coronel Tod. . …
“Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, é uma regra de ouro, mas como tantos outros da mesma fonte, os cristãos são os primeiros a quebrá-la.
O orgulho e vaidade são os dois cancros hediondos que devoram o coração das nações civilizadas, e o egoísmo é a espada manejada pela personalidade evanescente para cortar o fio de ouro que a liga à INDIVIDUALIDADE imortal. O velho Juvenal deve ter sido um profeta. É ao nosso século que ele se dirige quando diz:
“Somos donos de teus méritos; mas culpamos juntamente
Sua mente exaltada com insolência e orgulho!”
O orgulho é o primeiro inimigo de si mesmo. Não disposto a ouvir qualquer um elogiado em sua presença, ele cai em conflito com todo rival e nem sempre sai vitorioso. “Eu sou o MAIORAL, e o eleito de Deus”, diz a nação orgulhosa. “Eu sou o invencível e o mais importante; tremam todos ao meu redor”! Eis que chega um dia em que a vemos agachada na poeira, sangrando e mutilada. “Eu sou o MAIORAL”, coaxa o corvo solitário em penas de pavão”, sou o MAIORAL – pintor, artista, escritor, ou o que mais – par excellence…. Sobre quem quer que eu derrame minha luz, ele é destacado pelas nações; sobre quem quer que eu vire as costas, ele está condenado ao desprezo e ao esquecimento.”
“Vã presunção e glorificação. Na lei do carma, como nas verdades que encontramos nos evangelhos, aquele que é o primeiro será o último – futuramente. Há aqueles escritores cujos pensamentos, por mais desagradáveis que sejam para a maioria fanática, sobreviverão muitas gerações; outros que, por mais brilhantes e originais que sejam, serão rejeitados nos ciclos futuros. Além disso, como o hábito não faz o monge, a excelência externa de uma coisa não garante a beleza moral de seu artífice, seja na arte ou na literatura. Alguns dos mais eminentes poetas, filósofos e autores foram historicamente imorais. A ética de Rousseau não impediu que sua natureza estivesse longe de ser perfeita. Diz-se que Edgard Poe teria escrito seus melhores poemas num estado beirando o delirium tremens. George Sand, não obstante sua magnífica visão psicológica, o elevado caráter moral de suas heroínas e suas ideias elevadas, nunca poderia ter reivindicado o prêmio Montyon pela virtude. O talento, além disso, e especialmente o gênio, não são desenvolvimento da vida atual de ninguém, da qual se deve sentir pessoalmente orgulhoso, mas a fruição de uma existência anterior, e suas ilusões são perigosas. “Maya”, dizem os orientais, “estende seus véus mais espessos e enganosos sobre os mais belos lugares e objetos da natureza”. As mais belas cobras são as mais venenosas. A árvore Upas, cujo ambiente mortal mata todos os seres vivos que se aproximam dela, é a rainha da beleza nas florestas Africanas.
Devemos esperar o mesmo no “próximo ciclo”? Estaremos condenados aos mesmos males que nos sucedem agora?
No entanto, e embora a especulação de Fichte tenha se mostrado correta e a “Era de Ouro” de Shelley terá amanhecido para a humanidade, ainda assim o Carma terá seu caminho habitual. Pois teremos nos tornado “os antigos”, por nossa vez, para aqueles que virão muito depois de nós. Os homens daquele período também acreditarão ser os únicos seres perfeitos, e mostrarão desprezo pela “Eiffel”, como nós mostramos desprezo pela torre de Babel. Escravos da rotina – as opiniões estabelecidas do momento; somente o que eles do próximo ciclo dirão e farão será bem-dito e feito.
“Lobo! lobo!” será o grito levantado contra aqueles que, assim como defendemos os antigos agora, tentarão dizer uma boa palavra em nosso favor. E imediatamente o dedo do desprezo e todas as armas disponíveis serão dirigidas contra aquele que sair da trilha batida, e contra os “blasfemos” que poderão ousar chamar por seus nomes corretos os deuses daquele ciclo, e presumir defender seus próprios ideais. Que biografias serão escritas dos famosos infiéis de hoje, pode-se prever ao ler as de alguns dos melhores poetas da Inglaterra; por exemplo, as opiniões póstumas transmitidas sobre Percy Bysshe Shelley.
Sim, ele agora é acusado do que ele, de outra forma, teria sido elogiado, porque, ainda por cima, ele escreveu em sua infância “Uma Defesa do Ateísmo”! Ergo, se diz que sua imaginação o levou “além dos limites da realidade”, e que sua metafísica é “desprovida de um fundamento sólido de razão”. Isto equivale a dizer que somente seus críticos sabem tudo sobre os marcos colocados pela natureza entre o real e o irreal. Este tipo de topógrafos trigonométricos ortodoxos do absoluto, que afirmam ser os únicos especialistas escolhidos por seu Deus para o estabelecimento de fronteiras e que estão sempre prontos para julgar os metafísicos independentes, são uma característica de nosso século. No caso de Shelley, a metafísica do jovem autor de “Queen Mab“, descrita em enciclopédias populares como um “ataque violento e blasfemo ao cristianismo e à Bíblia”, deve, é claro, ter aparecido a seus infalíveis juízes sem “um fundamento sólido de razão”. Para eles, esse “fundamento” está no lema de Tertuliano, “Credo quia absurdium est.”
Pobre, grande jovem Shelley! Ele que trabalhou com tanto zelo durante vários anos de sua vida demasiadamente curta para aliviar os pobres e consolar os aflitos, e que, segundo Medwin, teria dado seu último centavo a um estranho necessitado, ele é chamado de ateísta por se recusar a aceitar a Bíblia literalmente! Encontramos, talvez, uma razão para este “ateísmo” no “Conversation Lexicon”, no qual o nome imortal de Shelley é seguido pelo de Shem, “o filho mais velho de Noé …de quem é dito nas Escrituras ter morrido aos 600 anos de idade”. O escritor desta informação enciclopédica (citada por nós literalmente) tinha acabado de regalar-se em dizer que “a censura de extrema presunção dificilmente pode ser negada a um escritor que, em sua juventude, rejeita todas as opiniões consagradas“, tais como a cronologia bíblica, supomos. Mas o mesmo escritor passa sem um comentário e em prudente, se não, reverencial silêncio, os anos cíclicos de Shem, pois de fato ele pode!
Assim é o nosso século, tão ruidoso, mas felizmente para todos, preparando para dar seu salto final para a eternidade. De todos os séculos passados, é o mais alegremente cruel, perverso, imoral, arrogante e incongruente. É a produção híbrida e desnatural, o filho monstruoso de seus pais – uma mãe honesta chamada “superstição medieval” e um pai desonesto e trapaceiro, um impostor devasso, universalmente conhecido como “civilização moderna”. Essa dupla ímpar e estranha que agora arrasta o carro do progresso pelos arcos triunfantes de nossa civilização, sugere pensamentos estranhos. Nossa mentalidade oriental nos faz pensar, ao contemplarmos esta piedade ortodoxa atrelada ao materialismo frio, em um símbolo adequado para o nosso século. Nós o selecionamos na produção colonial da ética europeia, (infelizmente, produções vivas!) conhecido como mestiço. Nós imaginamos um rosto oleoso, cor de café, olhando o mundo insolentemente através de um monóculo. Uma cabeça achatada e lanosa, coroada por um chapéu alto, entronizada em um pedestal de colarinho engomado branco, camisa e elegante gravata de cetim. Apoiando-se no braço desta produção híbrida, o vislumbre plano e ondulado de uma beleza mestiça brilha sob um gorro parisiense – uma pirâmide de gaze, alegres fitas e plumas.
De fato, esta combinação de corpo asiático e vestimenta europeia não é mais ridícula do que a visão panorâmica sobre a amálgama moral e intelectual de ideias e pontos de vista como aceitos agora. O Sr. Huxley e a “Mulher vestida de Sol”; a Sociedade Real e o novo profeta de Brighton, que coloca cartas “diante do Senhor” e que, em resposta, recebe mensagens “do Jeová dos Exércitos”; que assina a si mesmo, descaradamente, “Rei Salomão” em cartas carimbadas com o cabeçalho “Santuário de Jeová” (sic), e chama a “Mãe” – (a dita mulher “Solar”) de “aquela coisa amaldiçoada” e de abominação.
No entanto, seus ensinamentos são todos respeitáveis e ortodoxos. Grant Allen tentando convencer o General Booth de que “a vida deve sua origem à ação quimicamente separadora de ondulações etéreas na superfície resfriada da Terra, especialmente anidrido carbônico e água”; e “le brave général” da Inglaterra, argumentando que isto não pode ser assim, uma vez que essa “superfície resfriada” somente surgiu 4004 A.C.; daí, que sua (Grant Allen) “diversidade existente de formas orgânicas” não era o mínimo devida, como seu novo livro faria os incautos acreditarem, “à ínfima interação de leis dinâmicas”, mas à poeira do solo, da qual “o Senhor-Deus formou o animal do campo” e “cada ave no ar”.
Esses dois são os representantes das cabras e das ovelhas no Dia do Julgamento, o Alfa e o Ômega da sociedade ortodoxa e correta em nosso século. Os infelizes espremidos na linha neutra entre esses dois são constantemente chutados e batidos por ambos. Emocionalismo e vaidade – uma, uma doença dos nervos, a outra, aquele sentimento que nos impele a nadar com a corrente para não passarmos por antiquados retrógrados, ou infiéis – são as armas poderosas nas mãos de nossas piedosas “ovelhas” modernas e nossas eruditas “cabras”. Quantos engrossam as respectivas fileiras apenas por causa de um ou outro desses sentimentos, somente é do conhecimento de seu Carma.
Aqueles que não se comoverão nem por uma emoção histérica nem por um santo medo da multidão e da conveniência; aqueles, a quem a voz de sua consciência – “aquela voz ainda pequena” que, quando ouvida, ensurdece o poderoso rugido das próprias Cataratas do Niágara e não lhes permitirá mentir para suas próprias Almas – permanecerão apartados. Para esses, não há esperança nessa época que se encerra, e eles podem muito bem desistir de toda expectativa. Eles nasceram fora do tempo devido. Tal é o quadro terrível apresentado por nosso atual ciclo, agora próximo de seu fim, para aqueles de cujos olhos caíram as escalas de preconceito, de discriminação e de parcialidade, e que vêem a verdade que está por trás das aparências enganosas de nossa “civilização” ocidental. Mas o que o novo ciclo tem reservado para a humanidade? Será apenas uma continuação do presente, apenas em cores mais escuras e terríveis? Ou surgirá um novo dia para a humanidade, um dia de pura luz solar, de verdade, de caridade, de verdadeira felicidade para todos? A resposta depende principalmente dos poucos teosofistas que, fiéis ao que realmente são, através da boa e da má reputação, ainda lutam a batalha da Verdade contra os poderes das Trevas.
Um artigo descrente contém algumas palavras otimistas, a última profecia de Victor Hugo, que supostamente disse isso:
“Durante quatrocentos anos a raça humana não deu um passo, deixando para trás apenas seu simples vestígio. Estamos entrando agora em grandes séculos. O século dezesseis será conhecido como a era dos pintores, o décimo sétimo será denominado a era dos escritores, o décimo oitavo será a era dos filósofos, o décimo nono será a era dos apóstolos e profetas. Para satisfazer o século XIX é necessário ser o pintor do século XVI, o escritor do século XVII, o filósofo do século XVIII, e também é necessário, como Louis Blanc, ter o amor inato e santo pela humanidade, o que constitui um apostolado e abre uma visão profética do futuro. No século XX, a guerra estará morta, a forca estará morta, a animosidade estará morta, a realeza estará morta, os dogmas estarão mortos, mas o homem viverá. Para todos, haverá apenas um país – esse país é a Terra inteira; para todos, haverá apenas uma esperança – essa esperança é o céu inteiro.
Todos saúdem, pois, aquele nobre século XX que será dono de nossos filhos, e que nossos filhos herdarão!”
Se a Teosofia prevalecente na luta, sua filosofia abrangente atacar profundamente as mentes e corações dos homens, se suas doutrinas de Reencarnação e Carma, em outras palavras, da Esperança e da Responsabilidade, encontrarem um lar na vida das novas gerações, então, de fato, amanhecerá o dia de felicidade e de contentamento para todos os que agora sofrem e são proscritos. Porque a verdadeira Teosofia é ALTRUISMO, e não podemos repeti-lo com demasiada frequência. É amor fraternal, ajuda mútua, devoção inabalável à Verdade. Se em algum momento os homens se derem conta de que só nestes se pode encontrar a verdadeira felicidade, e nunca na riqueza, nas posses ou em qualquer gratificação egoísta, então as nuvens negras rolarão para longe, e uma nova humanidade nascerá sobre a Terra. Então, a IDADE DE OURO terá chegado, de fato.
Mas se não, então a tempestade explodirá, e nossa orgulhosa civilização e iluminação Ocidental afundarão em um mar de horror tal que ainda não registrou paralelo em sua história.
H.P. BLAVATSKY
Lucifer, maio 1889