Replantando Doenças para Uso futuro – W.Q.Judge
Os males de que desejo falar agora são os do corpo. Nossa natureza moral será purificada e enobrecida, ampliada e fortalecida, ao prestar atenção aos preceitos dos santos e dos sábios que, ao longo de todas as eras, continuam a falar em nosso benefício. E me refiro a estes tendo em vista à “cura mental” e à “cura metafísica”.
No artigo sobre “A Cura de Doenças“, afirmei nosso verdadeiro motivo de objeção às práticas várias vezes demonstradas, pois os praticantes têm sido teosofistas, cristãos ou seguidores de curandeiros, por serem dirigidas a métodos que, de fato, introduzem um novo tipo de paliativo que lança de volta aos nossos planos internos e ocultos da vida doenças que, de outra forma, passariam por e deixariam o portal natural, nossa estrutura corporal.
Uma consideração sobre este assunto exige que nos informemos um pouco sobre a natureza completa do homem. Esta investigação já foi feita antes por mentes muito superiores à minha, e eu só entrego o que eles encontraram e o que eu corroborei para mim mesmo. Os curandeiros mentais, os cientistas espirituais e os demais não fazem qualquer referência a essa nossa natureza sutil, exceto para admitir que o pensamento é poderoso e para dizer que o “o corpo espiritual é puro e livre de doenças”. A própria mente não é descrita por eles, nem é afirmado que o “corpo espiritual” tem qualquer anatomia passível de descrição. Mas o campo da pesquisa teosófica não é desprovido de uma enumeração anatômica, por assim dizer, das partes do corpo interno – o “corpo espiritual” de algumas dessas escolas – ou da “mente” de que todas elas falam.
A mente é o Manas dos hindus. É uma parte do homem imortal. O “corpo espiritual” não é imortal. Ele é composto de corpo astral com as paixões e os desejos. A mente é o recipiente das causas eficientes de nossas circunstâncias, nosso caráter inerente e as sementes que brotam repetidamente como doenças físicas, bem como as puramente mentais. É o propulsor que está ou voluntariamente em sua moção, livre se ele quiser, ou deslocado aqui e acolá por cada objeto e influência, e colorido por cada ideia. De vida em vida, ele ocupa corpo após corpo, usando um novo instrumento cerebral em cada encarnação. Como Patanjali o colocou há muito tempo, na mente, estão plantadas todas as sementes com o poder auto reprodutivo inerentes a elas, apenas esperando o tempo e as circunstâncias para brotar novamente. Aqui estão as causas de nossas doenças. De fato, produto do pensamento, mas do pensamento há muito terminado e agora transformado em causa além de nosso pensamento atual. Deitadas como tigres à beira da poça da selva, prontas para pular quando a hora chegar, elas podem apresentar-se acompanhadas de reações devido a outras causas, ou elas podem vir sozinhas.
Quando essas sementes brotam e libertam suas forças, elas se mostram como doenças no corpo, onde elas se esgotam. Atacá-las com as forças pertencentes ao plano da mente é forçá-las de novo ao seu esconderijo, inibir seu desenvolvimento, parar seu esgotamento e transferi-las para o nível mais grosseiro da vida. Elas são forçosamente arrastadas de volta, apenas para mais uma vez ficar esperando sua expressão natural em alguma outra vida. Essa expressão natural ocorre através de um corpo, ou melhor, através do mais baixo veículo em uso em qualquer período evolutivo.
Esta é uma grande roda que sempre gira, e nenhum homem pode pará-la. Imaginar que podemos escapar de qualquer causa ligada a nós é supor que a lei e a ordem abandonam o universo manifestado. Tal divórcio não é possível. Devemos resolver tudo até o último item. No momento em que desenvolvemos um pensamento e, portanto, uma causa, ele deve continuar a produzir seus efeitos, tornando-se, por sua vez, causas de outros efeitos e varrendo para baixo a grande corrente evolutiva a fim de novamente se elevar. Supor que podemos parar este fluxo e refluxo é quimérico ao extremo. Por isso, os grandes sábios sempre disseram que temos que deixar os efeitos cármicos continuarem enquanto colocamos novas e melhores causas em movimento, e que mesmo o sábio perfeito tem de suportar em sua estrutura corporal aquilo que a ela pertence através do Carma.
A estrutura anatômica interna também deveria ser conhecida. O corpo etéreo tem suas próprias correntes – nervos, por falta de uma palavra melhor, – mudanças e método de crescimento e ação, assim como o corpo grosseiro. Ele é, de fato, o corpo verdadeiro, pois raramente se altera ao longo da vida, enquanto a contraparte física muda a cada momento, seus átomos vão e vêm sobre a matriz ou modelo fornecido pelo corpo etéreo.
As correntes internas emanam de seus próprios centros e estão em constante movimento. Elas são afetadas pelos pensamentos e pelo reflexo do corpo em suas mudanças fisiológicas. Elas agem incessantemente umas sobre as outras. (Cada centro do corpo interno tem seu correspondente adequado no corpo físico, o qual ele afeta e que, por sua vez, é afetado). É por meio dessas correntes sutis – chamadas de ares vitais, quando traduzido do Sânscrito – que as impressões são transmitidas à mente, e através delas também são realizadas as façanhas extraordinárias das sessões espiritualistas e do iogue indiano.
E assim como alguém pode ferir seu corpo ao usar ignorantemente drogas ou práticas físicas, assim também as correntes e nervos mais finos do homem interno podem ser desestabilizados se alguém, por orgulho ou ignorância, tenta lidar com eles sem conhecimento.
Estando as sementes da doença localizadas principalmente na mente, elas começam a se exaurir por meio das correntes internas que carregam as vibrações apropriadas no plano físico. Se deixadas a si mesmas – afora paliativos e ajudas para descartá-las – elas passam pela grande prova de fogo da natureza e a pessoa fica livre delas para sempre. Portanto, diz-se que a dor é um amigo bondoso que alivia o homem verdadeiro de uma carga de pecados.
Agora, no momento em que se iniciam as práticas do curador mental, o que acontece é que as correntes internas ocultas são violentamente seguradas e, se a concentração persistir, as vibrações descendentes são lançadas para cima e alteradas de modo a levar a causa de volta à mente, onde é replantada com a adição dos desejos puramente egoístas que levaram à prática. É impossível destruir a causa; é preciso permitir que ela se transforme. E quando ela é substituída na mente, ela espera lá até que uma oportunidade ocorra, ou nesta vida ou no próximo renascimento.
Em alguns casos, as estruturas físicas e psicológicas não são capazes de suportar a sobrecarga de modo que, às vezes, o retorno das vibrações descendentes é tão forte e repentino que resulta em insanidade; em outros casos, instalam-se doenças com características violentas.
A elevada forma de pensamento preconizada por algumas escolas de curandeiros tem o efeito de fazer a causa do problema se afundar mais profundamente na ocultação e, provavelmente, contribui para a concentração. Mas qualquer pensamento também serve, desde que se persista na concentração, pois é a concentração que faz o efeito, e não a filosofia. O sistema de afirmar e negar facilita a concentração.
Pois quando o praticante começa, ele traz imediatamente para atuar certas forças internas em virtude de sua insistência em apenas um aspecto. Os piores selvagens fazem o mesmo. Eles o ensinaram por muito tempo para várias finalidades, e seus ideais não vão além da comida e do sono, de fetiches e de superstições.
Quando alguém assim opera sobre outro que está de acordo, a mudança das correntes nervosas internas é trazida pela simpatia, que nestes casos é o mesmo que o fenômeno tão bem conhecido na física pelo nome de indução. Quando se atua sobre uma pessoa – ou contra – o efeito ou é repelido ou é produzido. Se produzido, é pela mesma indução provocada sem seu conhecimento e porque ele não era mais forte do que o operador.
Aqui está novamente o perigo. As escolas de hipnotistas estão ensinando como fazê-lo. Os curadores da mente e os “metafísicos” estão fazendo o mesmo. Um exército de possibilidades se esconde sob tudo isso: pois já existem aqueles praticantes que atuam deliberadamente contra seus oponentes, aguardando dia após dia para paralisar os esforços de outras pessoas. É como dinamite nas mãos de uma criança. Algum dia explodirá, e aqueles que o ensinaram, serão responsáveis, uma vez que, em vez de ser ensinado, deveria ser advertido contra isso. O mundo poderia conviver bem com qualquer doença que existe, se ele apenas prestasse atenção à elevada ética e ao esforço altruísta. Pois depois de alguns séculos vivendo corretamente, as nações teriam se purgado e construído um edifício moral correto, bem fundado sobre as rochas da verdadeira filosofia, caridade e amor.
WILLIAM Q. JUDGE
Path, outubro 1892